São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2007

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TOSTÃO

O acaso zomba da soberba


Dunga deve definir a posição dos três meias. O mito de que basta escalar os craques que eles resolvem é uma mentira


EM TESE , se eu fosse formar uma equipe, ela teria uma dupla de atacantes rápidos, habilidosos, que se movimentassem bastante, que fizessem e que dessem passes para gols, como Rooney e Tevez, Nistelrooy e Raúl, Robinho e Deivid, Tevez e Nilmar e tantas outras. Não há no Brasileirão uma ótima dupla de atacantes.
O time não teria um único artilheiro nem um típico centroavante, o de referência, que costuma ser mais referência para os zagueiros. Como a seleção brasileira possui três craques do meio para a frente, só há lugar para um atacante, que pode ser o tal de referência ou não. Vágner Love, por ser veloz, habilidoso e finalizar bem com as duas pernas, tem características para ser esse atacante. O que falta a ele é mais brilho, além de jogar isolado. Luis Fabiano também não tem este talento.
No momento, não há outro melhor. Dunga precisa definir o posicionamento dos três meias, o que não significa que precisam ter posições fixas. O mito de que basta escalar os craques que eles resolvem é uma mentira. Para brilhar, os craques necessitam jogar em equipes organizadas, ter obrigações táticas e cumpri-las. Só assim se sentem seguros para improvisar e criar. Foi o que ocorreu na seleção de 70 e com todas as grandes equipes. Não falo de exceções. Se Kaká passa pelo melhor momento de sua carreira atuando um pouco mais à frente, de segundo atacante, iniciando as jogadas na intermediária do adversário, sem precisar voltar ao próprio campo, como fazia, por que não colocá-lo mais perto de Vágner Love?
Se Robinho brilha intensamente no Real Madrid jogando pelos lados, principalmente pela esquerda, de onde dribla para a lateral ou para o meio, por que não colocá-lo nessa posição?
Se a seleção não tem um excelente meia-armador, com ótimo passe, capaz de iniciar as jogadas no meio-campo -Gilberto Silva e Mineiro são ótimos apenas na marcação-, por que não pôr Ronaldinho um pouco mais recuado?
Quando olho para uma equipe, independentemente se ela tem muitos, poucos ou nenhum craque, quero ver um time organizado, com definição na maneira de jogar, com objetivos claros, mesmo que não seja a melhor solução. Isso é básico. Não é o que vejo na seleção. Coletivamente, o time foi muito mal nos dois primeiros jogos das eliminatórias. Não concordo com a desculpa da falta de tempo para treinar. Basta uma boa conversa para definir as funções e as posições de cada jogador em campo. O tempo será importante para aprimorar ou desaprovar a estratégia adotada.
O leitor que encontrei em uma das minhas caminhadas disse que eu costumo valorizar e depois desvalorizar os detalhes táticos. É verdade. Vai depender do momento. O que tento fazer é não dar importância a coisas que não têm nenhuma importância.
Nelson Rodrigues disse que quem ganha e perde partidas é a alma. Cilinho falou que futebol é toque de bola, envolvimento, aproximação e espetáculo. Os dois têm razão. Acrescento ainda que futebol é qualidade individual, estratégia tática, jogadas ensaiadas, preparação física, improvisos e imprevistos. O acaso zomba de nossa soberba.

tostao.folha@uol.com.br


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