São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

Encontros e despedidas


Não há marketing que resista à derrota, senão o Milan não teria investido alto na contratação de Thiago Silva

NA MESMA semana em que Ronaldo chega, Thiago Silva se vai. E você dirá que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
De fato. A não ser o Milan, que não fez a menor questão de ficar com o Fenômeno e apostou tudo para acertar com o Monstro, como o zagueiro é chamado pela torcida do Fluminense. O Milan sabe que o centroavante que passou por lá não foi fenomenal e aposta que terá em breve o melhor zagueiro do planeta.
Por ele, pagará 2,5 milhões por ano e não aceitará cedê-lo para clube nenhum durante os próximos seis meses, embora não possa escalá-lo em partidas oficiais, porque excedeu o limite de estrangeiros.
Thiago Silva topa ficar inativo por seis meses. Entre o risco de ficar fora da seleção brasileira e a possibilidade de ser titular no clube, o zagueiro aposta tudo na Itália.
A opção do Milan é técnica, não mercadológica. A do Corinthians, uma inegavelmente espetacular tacada de marketing. São só dois lados da mesma viagem.
A contratação de Ronaldo, mesmo para os que duvidam de seu desempenho técnico, põe a pergunta se é possível repetir estratégias assim com outros gigantes do futebol mundial. Abrir as portas e permitir que gente como Kaká e Ronaldinho Gaúcho possa também explorar espaços publicitários de camisas, meias e calções para voltar.
Repetir a operação é arriscado, diz o diretor de marketing do São Paulo, Júlio Casares: "Dar ativos do clube, como espaços publicitário das mangas, abre precedente perigoso". Por mais que a opinião seja são-paulina, é a pura verdade.
Mas a operação do marketing terá sucesso e colocará camisas do Corinthians à venda em Nova York, Paris e Milão. Esbarrará ainda nos números do mercado brasileiro. O Corinthians é quem mais vende na pirataria, mas o São Paulo ganha longe no mercado formal.
Vende 500 mil camisas por ano, contra 380 mil corintianas.
Há uma chance de a operação Ronaldo virar modelo: vencer.
Nesse caso, Ronaldo será referência para tentar contratar outros jogadores de peso internacional, abrindo mão de ativos do clube, como os espaços publicitários da camisa, com todo o risco que isso representa. O que é preciso para o Corinthians ser vencedor em 2009? Montar um time que não dependa de Ronaldo.
É só ver os números recentes do craque. O Milan teve Ronaldo por um ano. No período, disputou 56 partidas e contou com o centroavante em 15, o equivalente a 26%.
Nas 15 vezes em que atuou, marcou fenomenais nove gols. Quer dizer que Ronaldo vai jogar bem, mas vai jogar pouco. Quando não atuar, o Corinthians precisa estar pronto para vencer com outro goleador.
Se o time fizer boas campanhas e ganhar títulos, Ronaldo pode entrar no gramado tranqüilo, mesmo que uma vez a cada quatro jogos.
Ainda assim, será festejado e suas camisas desaparecerão das prateleiras. Se jogasse todas -o que não ocorrerá- e o Corinthians tivesse maus resultados, aí a contratação seria piada no terceiro mês. Não há marketing que resista à derrota.
Ou o Milan estaria anunciando a renovação do Fenômeno, em vez da contratação de Thiago Silva.

pvc@uol.com.br


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