São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Misteriosa África

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Onde será a Copa de 2010? Essa pergunta norteou toda a disputa da Copa da África deste ano, que terminou ontem com a primeira final árabe da história.
Faltam poucas semanas para a Fifa anunciar o país-sede do primeiro Mundial africano. Na reta final, a África do Sul vê o seu tranqüilo favoritismo ser reduzido. E o resultado do torneio continental de seleções foi importante para o início de uma real disputa para abrigar a Copa do Mundo.
Tunísia e Marrocos, os merecidos finalistas da Copa da África, jogaram boa parte de suas fichas no torneio. Os tunisianos foram testados e aprovados como anfitriões para os não muito rígidos padrões do continente. Ao contrário do que aconteceu em recentes disputas na chamada África Subsaariana, não houve registros de grandes problemas na competição. Houve sim grande envolvimento do público, até pela campanha da equipe do treinador francês Roger Lemerre, um cabo eleitoral tunisiano em potencial.
Marrocos tem como trunfo sua tradição futebolística, bem maior que a da concorrente África do Sul. A campanha marroquina destaca a participação pioneira de sua seleção na Copa de 70, o fato de ser o país ser o primeiro de seu continente a passar da primeira fase de uma Copa (1986), o primeiro da região a se candidatar a sede do Mundial (tentou em 1994, 1998 e 2006) e até o primeiro a estar na final do nobre torneio (com o árbitro Said Belqola na decisão de 1998: França x Brasil).
Se a rotatividade de continentes na organização das Copas garantiu à África o torneio de 2010, essa também só permitirá ao derrotado na votação do dia 15 de maio em Zurique sonhar com a organização de um Mundial em 2030, pelo menos (e o Uruguai já pede, por razões centenárias, esse ano).
Marrocos é de fato a maior ameaça à África do Sul. Saad Kettani, homem que foi incumbido de tocar a candidatura marroquina, fechou com um time de consultores liderados por Alan Rothenberg, mentor da Copa dos EUA em 1994. O rei Mohammed não está esperando uma vitória para investir. Já liberou US$ 180 milhões para Kettani e autorizou a construção de três estádios, um em Marrakech, onde seria uma hipotética partida de abertura.
Nos últimos dias, a briga política se intensificou. A Conmebol recebeu Joseph Blatter, presidente da Fifa, e também representantes de África do Sul, Egito e Marrocos. O camaronês Issa Hayatou foi reeleito na presidência da Confederação Africana no mês passado, o que garante em tese uma neutralidade da entidade na escolha do país-sede de 2010.
Os marroquinos apostam na proximidade com a Europa e nos contatos mais freqüentes com dirigentes do velho continente para obter a maioria dos votos do Comitê Executivo da Fifa. Além disso, esperam tirar proveito de uma certa acomodação da África do Sul, que desde outubro não ousa em sua campanha (na ocasião Nelson Mandela fez meio uma visita surpresa à sede da Fifa).
Na Copa da África, os sul-africanos chegaram com nome e ficaram ainda na primeira fase, eliminados por Marrocos. Será?

Misterioso Brasil
Muitos brasileiros parecem não acreditar mesmo que o Brasil é a sede da Copa de 2014, o que poderia até ser comparado com um certo complexo de inferioridade que, dizem, imperava no país antes da Copa de 1950. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, apenas reafirmou nos últimos dias que o Brasil receberá o evento, coisa que boa parte da imprensa nacional não entendeu direito e destacou como se fosse mais um passo na ""luta" do Brasil para ser a sede. Há muito tempo não há mistério nenhum. No dia 7 de março passado (quase um ano), a Fifa anunciou que a Copa de 2014 será na América do Sul. No dia 17 de março, a Conmebol aclamou por unanimidade a candidatura única do país (um dia antes, Julio Grondona, presidente da AFA, já havia falado à coluna que o Brasil não teria adversários, nem mesmo a Argentina). Não há e nunca houve ""luta". É real, chegou a vez!

E-mail: rbueno@folhasp.com.br

Texto Anterior: Iatismo: Raia do Pan-07 abriga Mundial da classe finn
Próximo Texto: Pan-americano: Rio-07 põe atletas para sambar na Sapucaí
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.