São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comitê infla seu quinhão e diz que estrutura é fundamental

DA REPORTAGEM LOCAL

Os atletas precisam receber dinheiro, mas não aparecem no topo da lista de prioridades.
Para o Comitê Olímpico Brasileiro, responsável pela distribuição das verbas da Lei Piva, a aplicação dos recursos federais é condizente com a atual realidade das confederações. Segundo o COB, o dinheiro não é suficiente.
"O COB acha importante o atleta ter tranqüilidade para se dedicar aos treinos e competições, mas também considera fundamental que ele disponha de condições de treinar e competir", afirmou Carlos Arthur Nuzman.
"Gostaríamos que a lei fosse suficiente para resolver todos os problemas, mas a realidade não é essa", completou o dirigente.
A entidade que reclama mais recursos para as confederações viu, no ano passado, crescer a fatia da verba que vai para seus cofres.
Além dos R$ 27 milhões que utilizou oriundos das loterias em 2003 -corresponde a 48% do total-, o COB conseguiu outros R$ 15 milhões, reservados para o esporte escolar (5%) e universitário (10%). O recurso ainda não saiu de uma caderneta de poupança.
Com a verba, Nuzman quer criar uma organização para formar competidores de alto rendimento, batizada de Instituto Olímpico. Não há previsão de quando o projeto deixará o papel.
Enquanto não vê espaço para encampar a idéia, o COB, assim como as confederações, cresce seus gastos com manutenção.
No ano passado, a entidade desembolsou pouco mais de R$ 10 milhões com gastos administrativos -aumento de 63%.
O valor só não é maior do que o despendido com participação em eventos esportivos -aproximadamente R$ 14 milhões.
"Esse percentual tende a aumentar a cada ano, e isso é natural. A Lei Piva exigiu que o COB ampliasse sua estrutura técnica e administrativa", disse Nuzman.
Além de aumentar o investimento burocrático, a entidade também centrou suas ações em projetos de fomento -preparação de candidaturas para receber eventos esportivos, por exemplo- e formação de recursos humanos, como congressos, seminários, cursos técnicos etc.
O primeiro item teve um salto de 125%: de R$ 950 mil para R$ 2,1 milhões, aproximadamente.
Com recursos humanos, foram gastos R$ 930 mil, 69% a mais do que no período anterior.
O investimento para a participação de atletas em competições internacionais teve um acréscimo bem mais modesto -5,5%.
"As necessidades para gerir o esporte olímpico brasileiro são cada vez maiores, na mesma proporção do desenvolvimento do esporte nacional. Além disso, estamos envolvidos em projetos importantes, como a realização do Pan-2007", disse Nuzman.
Mesmo ainda reclamando da insuficiência dos recursos da Lei Piva, "que corresponde a um terço das necessidades das confederações", o presidente do COB interveio na Confederação Brasileira de Tiro para que parte do repasse da verba da entidade em 2004 vá para mãos de um atleta específico: Rodrigo Bastos.
Medalha de ouro no Pan de Santo Domingo, o atirador já se dedica integralmente aos treinos para os Jogos Olímpicos.
Ele receberá por mês entre R$ 3.000 e R$ 6.000 para montar um estande de tiro em Guarapuava [cerca de 200 km de Curitiba, onde treinava], e pagar suas despesas. O local será usado pela confederação como CT da modalidade.
Com o dinheiro, o dentista pôde se afastar um pouco do consultório para pensar mais em Atenas.
"Sem essa verba, seria um caos. Não conseguiria treinar direito. Só espero que a ajuda aos atletas não seja só até a Olimpíada, com uma mentalidade imediatista", declarou o atirador. (GR E ML)



Texto Anterior: Olimpíada: Burocracia bate atleta na verba da Lei Piva
Próximo Texto: O personagem: Emprego retira jogadora da piscina e desfalca seleção
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.