São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A grande rivalidade


Caso dos ingressos expõe a temperatura entre corintianos e são-paulinos, verdadeiros maiores rivais da cidade


A PRIMEIRA pesquisa a mostrar o São Paulo como o dono da segunda maior torcida paulista foi publicada em 1991. No ano seguinte, uma briga entre corintianos e são-paulinos causou a morte de Rodrigo de Gásperi, 13 anos, na semifinal da Copa São Paulo de juniores. "Foi um marco. A partir dali, o clássico passou a merecer mais atenção da polícia e a ser considerado o de maior rivalidade no Estado", diz Marcos Marinho, que hoje é chefe da arbitragem e na época era policial do Batalhão de Choque.
Marinho foi o primeiro a afirmar que Corinthians x São Paulo preocupava mais do que Corinthians x Palmeiras, quando era comandante da PM, nos anos 90. Nesta semana, a rivalidade atingiu seu ápice, com a direção tricolor oferecendo apenas 10% dos ingressos aos corintianos. A melhor explicação para a porcentagem é dada pelo diretor de marketing do São Paulo, Adalberto Baptista. Neste ano, o Morumbi assinou três parcerias e garantiu a injeção de R$ 12 milhões em seus cofres. O São Paulo também criou o espaço Visa no antigo setor vermelho e parte do amarelo. O velho setor azul é habitado hoje por sócios-torcedores. Para cumprir compromissos com quem comprou esses espaços, ficou impossível dividir o estádio ao meio, como se fazia nos clássicos do passado. Muitos corintianos preferiram não prestar atenção a isso, não entender que o caminho de seu clube é fazer ações semelhantes, quando o Corinthians puder explorar o Pacaembu ou construir um novo estádio. A rivalidade, que já é imensa, foi acirrada nesta semana.
"O fato de o Palmeiras ter submergido desde os anos 80 também contribuiu para Corinthians x São Paulo se tornar o maior clássico", afirma o superintendente tricolor, Marco Aurélio Cunha.
As rivalidades crescem à medida em que dois clubes disputam decisões. Como torcedor, Zico se lembra de odiar o Botafogo, porque estava na arquibancada do Maracanã quando o Flamengo perdeu por 3 a 0 a final do Campeonato Carioca de 1962, com dois gols de Garrincha. Em seu tempo de jogador, o rival virou o Vasco, adversário mais usual nas finais de campeonato. Ano passado, Palmeiras e São Paulo passaram meses discutindo a semifinal do gás. Mas a rivalidade, quase guerra nos anos 40, feroz nos 90, hoje é mais forte entre as diretorias e nos bairros de classe média. Na periferia, Corinthians e São Paulo têm mais torcida e é lá que os ânimos se acirram. A questão dos ingressos pode levar para o estádio corintianos dispostos a gritar mais alto -ou a brigar mais forte. Mas o ápice da rivalidade contrasta com a tranquilidade da polícia. A PM garante que pode fazer a contrapartida se houver semifinal entre os dois clubes com apenas 10% de bilhetes para são-paulinos, no Pacaembu. O atual comandante da PM, Hervando Veloso, afirma não haver mais jogo que preocupe: "A violência nos estádios está controlada". Pai de corintiano, Veloso diz que seu filho pode ir ao estádio tranquilo, principalmente num jogo em que haverá maioria são-paulina, como hoje. "Ele vai sozinho, porque já tem 20 anos. Mas, se você me perguntar se levo meu filho ao estádio, eu respondo: "Sempre levei"."

pvc@uol.com.br


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