São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Quanto mais leve, melhor" preocupa Jogos de Inverno

Para obter mais sucesso no salto com esqui, competidores se desdobram para perder peso e colocam a saúde em risco

Massa corporal baixa e desordens alimentares são comuns nos saltadores, e até casos de anorexia e de bulimia foram registrados

JERE LONGMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WHISTLER, CANADÁ

Um a um, os participantes nas provas de salto de esqui começaram a competir nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, na sexta-feira, decolando da rampa a quase 88 km/h e flutuando no ar por uma distância maior que a extensão de um campo de futebol, com as mãos coladas ao corpo e esquis abertos em formato de "V".
Depois de a técnica em "V" ter entrado em voga, nos anos 1980, substituindo o estilo clássico em que os esquis eram mantidos em paralelo, o salto passou a depender mais de elementos da dinâmica de voo, como a sustentação e o arrasto, que da força de propulsão dos atletas, dizem especialistas.
E o peso corporal dos esportistas passou a ser um elemento crítico. Quanto mais leve era um atleta, mais longe ele podia saltar. Dependendo do tamanho da rampa, dizem competidores, a diminuição de um quilo de peso podia resultar em um acréscimo de dois a quatro metros na distância do salto.
Uma consequência não intencional disso foi que o salto em distância com esqui -modalidade olímpica na qual só homens são autorizados a competir- passou a ter um problema: a presença de atletas com massa corporal muito baixa e desordens alimentares do tipo mais comumente associados a ginastas e patinadoras.
A partir da década de 1990, muitos atletas passaram a colocar sua saúde em risco para terem vantagens aerodinâmicas.
Um estudo constatou que 22% dos saltadores de esqui nos Jogos de Salt Lake-2002 estavam abaixo da proporção mínima entre peso e altura, ou índice de massa corporal (IMC), recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
Houve vários casos altamente divulgados de anorexia e bulimia entre saltadores.
"No caso da ginástica feminina, a gente ouve rumores de que as ginastas podem ter problemas", disse Alan Johnson, diretor-executivo do Projeto X, equipe de desenvolvimento do salto com esqui dos EUA. "Olho para elas e vejo que essas garotas são bem mais encorpadas que os saltadores de esqui."
Para combater o problema, a Federação Internacional de Esqui adotou em 2004 uma norma que vincula o comprimento máximo dos esquis a peso e altura relativos do atleta.
As autoridades disseram que os casos mais graves de atletas abaixo do peso foram resolvidos, embora as normas vigentes ainda incentivem os saltadores a ser magros. Muitos deles pesam algo na faixa de 60 kg a 66 kg, e poucos têm mais de 5% de gordura corporal.
"A situação melhorou, mas, a meu ver, poderia melhorar mais", diz Wolfram Mueller, professor do Centro de Pesquisas de Performance Humana da Universidade de Graz, na Áustria, que em dezembro publicou um estudo sobre a questão do peso baixo no "British Journal of Sports Medicine".
O suíço Simon Ammann, por exemplo, tem 1,73 m e pesa apenas 58 kg. Ele foi medalha de ouro em Vancouver no salto em distância "normal" -modalidade em que o esportista parte de uma rampa menor, para saltos de até 106 m. No salto em distância "longo", que será disputado a partir de sábado nos Jogos canadenses, o competidor pode chegar a 140 m.

Pesados e tateados
Nevava levemente e a neblina recobria o topo da rampa, na quarta-feira, quando saltadores aterrissaram nos treinos, com o som de uma pequena explosão, uma perna na frente da outra, com os joelhos dobrados, em um evento em que não só a distância saltada é avaliada, mas também o estilo do atleta.
Na parte inferior da rampa, alguns saltadores eram levados a um galpão, onde eram pesados e tateados para averiguar que seus uniformes fossem justos no corpo e não funcionassem injustamente como aerofólio. Os atletas são desqualificados se seus esquis são longos demais, em proporção com seu IMC, ou se seus uniformes forem mais de seis centímetros mais largos que seus corpos.
Os esquis mais longos permitidos hoje têm 146% da altura do atleta. Para ter direito a esse comprimento máximo, o esportista precisa ter IMC de pelo menos 18,5, sem seus equipamentos, ou 20, quando estiver usando sua roupa de esqui, botas e capacete. Esse número é visto como o mínimo pela Organização Mundial da Saúde, abaixo do qual o atleta seria considerado abaixo do peso.
Para cada meio ponto abaixo desse mínimo, o comprimento permitido dos esquis em relação à altura do atleta é reduzido em 2%. O objetivo é desencorajar atletas muito leves. Quanto mais curto é o esqui, maior a asa que o saltador tem disponível para prolongar seu voo.
Depois da Olimpíada, as regras serão ajustadas novamente. O IMC mínimo permitido será elevado para 19 (ou 20,5 com os equipamentos), e, para a maioria dos atletas, o comprimento máximo dos esquis será reduzido para 143% da altura do saltador, adianta Walter Hofer, diretor de provas da Federação Internacional de Esqui.


Tradução de CLARA ALLAIN


Texto Anterior: Timidez: Em São Paulo, juízes têm uniforme limpo e campanha da ONU
Próximo Texto: Modesto: Brasil estreia hoje na Olimpíada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.