|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Quanto mais leve, melhor" preocupa Jogos de Inverno
Para obter mais sucesso no salto com esqui, competidores se desdobram para perder peso e colocam a saúde em risco
Massa corporal baixa e desordens alimentares são comuns nos saltadores, e
até casos de anorexia e de bulimia foram registrados
JERE LONGMAN
DO "NEW YORK TIMES",
EM WHISTLER, CANADÁ
Um a um, os participantes
nas provas de salto de esqui começaram a competir nos Jogos
Olímpicos de Inverno de Vancouver, na sexta-feira, decolando da rampa a quase 88 km/h e
flutuando no ar por uma distância maior que a extensão de
um campo de futebol, com as
mãos coladas ao corpo e esquis
abertos em formato de "V".
Depois de a técnica em "V"
ter entrado em voga, nos anos
1980, substituindo o estilo clássico em que os esquis eram
mantidos em paralelo, o salto
passou a depender mais de elementos da dinâmica de voo, como a sustentação e o arrasto,
que da força de propulsão dos
atletas, dizem especialistas.
E o peso corporal dos esportistas passou a ser um elemento
crítico. Quanto mais leve era
um atleta, mais longe ele podia
saltar. Dependendo do tamanho da rampa, dizem competidores, a diminuição de um quilo de peso podia resultar em um
acréscimo de dois a quatro metros na distância do salto.
Uma consequência não intencional disso foi que o salto
em distância com esqui -modalidade olímpica na qual só
homens são autorizados a competir- passou a ter um problema: a presença de atletas com
massa corporal muito baixa e
desordens alimentares do tipo
mais comumente associados a
ginastas e patinadoras.
A partir da década de 1990,
muitos atletas passaram a colocar sua saúde em risco para terem vantagens aerodinâmicas.
Um estudo constatou que
22% dos saltadores de esqui
nos Jogos de Salt Lake-2002
estavam abaixo da proporção
mínima entre peso e altura, ou
índice de massa corporal
(IMC), recomendada pela Organização Mundial da Saúde.
Houve vários casos altamente divulgados de anorexia e bulimia entre saltadores.
"No caso da ginástica feminina, a gente ouve rumores de
que as ginastas podem ter problemas", disse Alan Johnson,
diretor-executivo do Projeto X,
equipe de desenvolvimento do
salto com esqui dos EUA. "Olho
para elas e vejo que essas garotas são bem mais encorpadas
que os saltadores de esqui."
Para combater o problema, a
Federação Internacional de
Esqui adotou em 2004 uma
norma que vincula o comprimento máximo dos esquis a peso e altura relativos do atleta.
As autoridades disseram que
os casos mais graves de atletas
abaixo do peso foram resolvidos, embora as normas vigentes ainda incentivem os saltadores a ser magros. Muitos deles pesam algo na faixa de 60 kg
a 66 kg, e poucos têm mais de
5% de gordura corporal.
"A situação melhorou, mas, a
meu ver, poderia melhorar
mais", diz Wolfram Mueller,
professor do Centro de Pesquisas de Performance Humana
da Universidade de Graz, na
Áustria, que em dezembro publicou um estudo sobre a questão do peso baixo no "British
Journal of Sports Medicine".
O suíço Simon Ammann, por
exemplo, tem 1,73 m e pesa
apenas 58 kg. Ele foi medalha
de ouro em Vancouver no salto
em distância "normal" -modalidade em que o esportista parte de uma rampa menor, para
saltos de até 106 m. No salto em
distância "longo", que será disputado a partir de sábado nos
Jogos canadenses, o competidor pode chegar a 140 m.
Pesados e tateados
Nevava levemente e a neblina recobria o topo da rampa, na
quarta-feira, quando saltadores aterrissaram nos treinos,
com o som de uma pequena explosão, uma perna na frente da
outra, com os joelhos dobrados,
em um evento em que não só a
distância saltada é avaliada,
mas também o estilo do atleta.
Na parte inferior da rampa,
alguns saltadores eram levados
a um galpão, onde eram pesados e tateados para averiguar
que seus uniformes fossem justos no corpo e não funcionassem injustamente como aerofólio. Os atletas são desqualificados se seus esquis são longos
demais, em proporção com seu
IMC, ou se seus uniformes forem mais de seis centímetros
mais largos que seus corpos.
Os esquis mais longos permitidos hoje têm 146% da altura
do atleta. Para ter direito a esse
comprimento máximo, o esportista precisa ter IMC de pelo menos 18,5, sem seus equipamentos, ou 20, quando estiver
usando sua roupa de esqui, botas e capacete. Esse número é
visto como o mínimo pela Organização Mundial da Saúde,
abaixo do qual o atleta seria
considerado abaixo do peso.
Para cada meio ponto abaixo
desse mínimo, o comprimento
permitido dos esquis em relação à altura do atleta é reduzido
em 2%. O objetivo é desencorajar atletas muito leves. Quanto
mais curto é o esqui, maior a
asa que o saltador tem disponível para prolongar seu voo.
Depois da Olimpíada, as regras serão ajustadas novamente. O IMC mínimo permitido
será elevado para 19 (ou 20,5
com os equipamentos), e, para
a maioria dos atletas, o comprimento máximo dos esquis será
reduzido para 143% da altura
do saltador, adianta Walter Hofer, diretor de provas da Federação Internacional de Esqui.
Tradução de CLARA ALLAIN
Texto Anterior: Timidez: Em São Paulo, juízes têm uniforme limpo e campanha da ONU Próximo Texto: Modesto: Brasil estreia hoje na Olimpíada Índice
|