|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Por lei, Pelé ataca e irrita cartolas
Ex-atleta diz que há entrave para mudar legislação e culpa gestão de clubes por evasão de talentos
Maioria dos dirigentes fica contrariada com discurso e reforça a posição de pedir regras legais para impedir saída de atletas de 14 anos
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao aceitar alterar a Lei Pelé, a
qual deu o nome, o ex-santista
aproximara-se dos cartolas de
clubes. Mas, ontem, Pelé voltou
a irritar os dirigentes ao apontá-los como culpados pela evasão de jogadores do Brasil.
Suas declarações ocorreram
em evento do banco Santander,
do qual o ex-jogador será garoto-propaganda. Seu novo ataque gerou reações dos cartolas,
que o criticaram e mostraram
posições opostas a dele. As divergências ocorrem em meio a
debate sobre alterações na lei.
Ao comentar a dificuldade de
manter atletas no país, Pelé
lembrou que os times brasileiros receberam grandes volumes de dinheiro em parcerias.
"Várias empresas aplicaram
nos clubes. No Flamengo, foram US$ 80 milhões, no Vasco,
US$ 65 milhões, no Cruzeiro,
US$ 60 [milhões] e poucos, no
Grêmio, US$ 38 milhões. O Corinthians teve três parcerias. A
culpa não é dos empresários. A
culpa é da falta de honestidade
dos administradores."
Para ele, só a "profissionalização" do futebol alteraria o panorama. Lamentou o fato de a
instituição do clube-empresa
ter sido excluída da Lei Pelé.
Na atual discussão para mudar a legislação, o ex-jogador
afirmou que, nas negociações
com o governo, tem encontrado dificuldade para criar um
mecanismo que impeça a saída
dos atletas mais jovens.
"A tentativa de baixar para 14
anos [idade mínima para contrato do atletas] é inconstitucional", ressaltou Pelé. "Legalmente, não tem como evitar."
Cartolas reagiram. Um dos
mais irritados foi o vice-presidente de futebol do Cruzeiro,
Zezé Perrella, que defendeu a
parceria do seu clube com a
Hicks, Muse & Tate.
"Pelé não pode falar do Cruzeiro. Se quiser saber alguma
coisa, faça uma visita a Minas e
venha ver o nosso CT. Nosso dinheiro da parceria foi auditado
por duas empresas, e as contas,
aprovadas", defendeu-se Perrella. "Parafraseando Romário,
ele, calado, é um poeta."
O cartola classificou como
"bobagem" a afirmação do ex-jogador de que é inconstitucional fechar contratos com atletas de 14 anos. Deputado estadual, sua intenção é mobilizar
políticos de clubes mineiros para abrir essa possibilidade e pedir contratos mais longos.
Outro que rebateu Pelé foi o
presidente interino do Vasco,
Eurico Miranda. Disse que a
parceria com o Bank of America foi "benéfica" e "transparente" para o clube.
A CPI do Futebol investigou
esse negócio e há processo na
Justiça Federal para apurar supostos desvios no Vasco.
"A lei foi feita para vender o
futebol brasileiro", disse Eurico. "O negócio deles [Pelé] é fazer negócio. E briga com seu
preposto quando a divisão do
dinheiro não está certa [sobre
desavença do ex-jogador com
seu ex-sócio Hélio Viana]."
Já o vice-presidente de futebol do Flamengo, Kléber Leite,
concordou com Pelé sobre a má
gestão no clube durante a parceria com a ISL, então administrado por Edmundo dos Santos
Silva, que sofreu impeachment.
"A culpa [dos dirigentes pela
evasão] é em parte. Há outros
componentes, como a abertura
de mercados. Há maus e bons
dirigentes e empresários."
Por meio da assessoria, o presidente do Corinthians, Andres
Sanchez, disse que os empresários mandam no futebol pelo
fato de a Lei Pelé ter se desvirtuado. E pediu revisão. Não falou sobre as parcerias do clube.
Texto Anterior: VIP: Espanha escapa de receber punição Próximo Texto: Embaixador da Copa-14 critica o Pan Índice
|