São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

O último feudo


Cabe ao presidente formar um clube capaz de andar com as próprias pernas. Marcelo Teixeira não conseguiu isso

NÃO faz cinco anos, era impossível imaginar três cartolas de clubes brasileiros fora de seus postos. Eurico Miranda presidia o Vasco e ocupava cargos diretivos havia mais de 20 anos. Alberto Dualib e Mustafá Contursi presidiam Corinthians e Palmeiras desde 1993. O primeiro ficou até 2006. O segundo fez seu sucessor em 2005.
Marcelo Teixeira não parecia da mesma linhagem, quando assumiu o Santos em 2000. Trazia sua paixão pelo Santos do pai, presidente santista entre 1983 e 1987.
Não está aqui em discussão se o Santos esteve mais para Robinho ou para Fabão nestes nove anos. A questão é se um presidente tem direito a se eleger para cinco mandatos seguidos, como aconteceu com Teixeira a partir de 1999. E se tem direito a se candidatar pela sexta vez, o que deve ocorrer neste ano.
Os aliados apontam para o passado e argumentam que não é um problema ter um presidente que ultrapasse os dez anos de mandato. O exemplo é Athiê Jorge Cury, mandatário entre 1945 e 1971. Quando completava 11 anos no poder, o velho dirigente lançava Pelé.
No final da vida de Athiê, sua governanta pedia uma gentileza a cada entrevista concedida: "Ele está com 91 anos, mas diga que tem 85. Ele fica feliz", disse-me, no início dos anos 90. Além de mandato longo, Marcelo Teixeira tem em comum com Athiê a vaidade.
Diferentemente de Dualib e Mustafá, não se discute se o clube melhorou ou piorou durante sua gestão. O Santos não tinha nada, além de um estádio mal conservado e um centro de treinamento em construção. Hoje tem. Mas o papel de um líder é formar o sucessor, não se perpetuar.
Alternância no poder não garante sucesso ou fracasso, competência ou incompetência, honestidade ou desonestidade. A Europa e sua estrutura empresarial no futebol já produziram o Milan, de Berlusconi, e o Olympique de Marselha, de Bernard Tapie, preso por corrupção. Ocorre que o Santos não é uma empresa, cujos donos decidem o presidente.
Também não é um feudo.
Mês passado, festejou-se a eleição do presidente do Corinthians com os votos de todos os sócios, não apenas dos conselheiros, como uma garantia de que não haverá mais Dualibs. No Santos, os sócios sempre votaram, e isso não impediu o presidente de se perpetuar.
Em nove anos na Vila Belmiro, o jovem presidente montou times caros, como o vice-campeão paulista de 2000, baratos, como o do ano passado, e vitoriosos, como o de Diego e Robinho. Investiu na reforma e ampliação do centro de treinamento, melhorou a Vila Belmiro, construiu um novo CT para os garotos.
Emprestou R$ 26 milhões do próprio bolso, prática tão comum quanto reprovável em outros clubes brasileiros. O dinheiro já retornou a sua conta corrente, pago pelo Santos em suaves prestações e sem aplicação de juros -é o que consta. Depois disso, o presidente ouviu o pedido da família para que não emprestasse mais dinheiro ao clube. O Santos ficou mais pobre e mais fraco.
Ao presidente cabe formar um clube capaz de investir por suas próprias pernas. Isso, Marcelo Teixeira não conseguiu. Como líder, também ainda não fez do Santos um lugar que se possa chamar de democracia.

pvc@uol.com.br


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