São Paulo, terça-feira, 15 de março de 2011

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Sedentários

Inglaterra constata que Olimpíada-2012 não estimula população a se exercitar , e governo se vê forçado a rever legado que Londres planejava deixar

JERÉ LONGMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Quando Londres conquistou o direito de sediar a Olimpíada de 2012, os organizadores fizeram uma promessa ambiciosa: a de que elevariam em dois milhões de pessoas o número de ingleses envolvidos com esportes e atividades físicas.
Mas os Jogos estão a menos de 18 meses de distância e esse compromisso agora ficou parecido com um corredor ofegante, que cambaleia sem conseguir cumprir uma ambiciosa resolução de Ano Novo para a qual sua força de vontade não basta.
O compromisso original de Londres se desenvolveu na forma de um plano que estimularia um milhão a mais de ingleses a praticar esportes três ou mais vezes por semana, em sessões de pelo menos 30 minutos. O plano se tornou conhecido como 3x30, e até mesmo esse objetivo mais modesto está se provando difícil de atingir.
Números divulgados em dezembro pela Sport England, a organização que governa os esportes comunitários no país, indicam que a participação em programas 3x30 aumentou em 123 mil pessoas de 2007/08 para cá, quando a meta de um milhão de participantes foi criada.
Mas o avanço foi de apenas 8.000 pessoas em 2010.
Ao ritmo atual, a meta de um milhão de novos participantes não seria atingida em 2012/13, a data esperada, e sim mais de uma década mais tarde, em 2023/24.
Enquanto isso, em um dos países mais gordos da Europa, o número de preguiçosos aparentemente continua a crescer. A Sport England indica que o número de adultos cujo nível de atividade esportiva moderada é zero subiu em quase 300 mil pessoas de 2005, quando Londres foi escolhida como sede da Olimpíada, até o final de 2010.
Planejamento inadequado, a mudança de governo, cortes severos de verbas nas organizações esportivas e uma aparente avaliação exagerada do impacto dos Jogos Olímpicos sobre a adesão em massa à prática de esportes forçaram uma reconsideração do legado olímpico que Londres planejava deixar.
O mais recente plano, anunciado em novembro pelo governo de coalizão entre os conservadores e os liberais-democratas, não mencionava a meta de um milhão de novos praticantes. Falava, em lugar disso, de encorajar mais pessoas a praticar esportes por meio do programa Places People Play, patrocinado pela loteria nacional.
"Não abandonamos a meta, mas a estamos avaliando de modo muito cuidadoso", afirma Hugh Robertson, ministro do Esporte e Assuntos Olímpicos na Inglaterra.
As pesquisas sobre o estímulo que a Olimpíada oferece à prática mais ampla de esportes não produziram resultados encorajadores.
Em 2007, a Comissão de Cultura, Mídia e Esportes da Câmara dos Comuns britânica concluiu que "nenhum país-sede foi capaz de demonstrar benefício direto da Olimpíada, na forma de uma elevação duradoura na adesão à prática de esportes".
Um estudo sobre os Jogos de Sydney-2000 mostrou que, embora sete esportes olímpicos tenham registrado ligeira elevação na Austrália depois do evento, outros nove apresentaram declínio.
Depois dos Jogos da Comunidade Britânica de 2002, em Manchester, na Inglaterra, "não parece ter havido impacto perceptível nos indicadores de prática de esportes" na região noroeste inglesa, escreveu Fred Coalter, professor de estudos esportivos na Universidade de Stirling, na Escócia, antes que Londres obtivesse o direito de sediar os Jogos-2012.
A Olimpíada deixará um legado de estádios novos e remodelados, mas isso provavelmente "não resultará em uma nova onda de adesão maciça aos esportes", de acordo com o Centro de Pesquisa do Esporte, Educação Física e Atividade da Universidade de Canterbury Christ Church, na Inglaterra.
"Pessoas fisicamente ativas podem ser convencidas a se tornar mais ativas ou a tentar um novo esporte", diz Mike Weed, que leciona sobre o papel social do esporte na Universidade de Canterbury.
Aqueles que praticaram esportes no passado podem ser convencidos por uma Olimpíada a retomá-los, afirma. O fenômeno é batizado de "efeito-demonstração".
Mas isso não significa, para Weed, que haja "qualquer efeito sobre as pessoas que jamais praticaram esportes".
O mais recente plano para o legado olímpico de Londres é o Places People Play.
É um programa de 130 milhões de libras (R$ 348 milhões) para construir, manter e reparar sedes esportivas locais; treinar 40 mil voluntários como organizadores esportivos de base; e encorajar 100 mil adultos a arrecadar verba para caridade e se testarem em múltiplos esportes olímpicos e paraolímpicos.
Quando o plano foi anunciado, Sebastian Coe, presidente do comitê organizador de Londres-2012, declarou que o programa "colocaria o poder de inspirar dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos a serviço do esporte no país".
Mas Tessa Jowell, porta-voz da oposição para assuntos esportivos e olímpicos, disse que "não importa como disfarcem, a promessa de um legado olímpico que fizemos aos jovens do país será mais uma promessa quebrada pelo governo de coalizão".
O plano resolve a questão da oferta de espaços esportivos, mas pouco diz sobre como ampliar a demanda pela prática de esporte, afirma o professor Weed. Robertson, o ministro, afirma acreditar no sucesso de uma iniciativa de base e multifacetada.
"Não pretendo subestimar a dificuldade do que estamos tentando fazer", declara Robertson. "Mas isso não é motivo para que não ajamos. Fizemos essa promessa e vamos tentar cumpri-la."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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