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O Corinthians e a síndrome de montanha-russa
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O Corinthians entrou em
campo de salto alto e saiu de
crista baixa ontem, no Morumbi. Foi, como tantas outras,
uma tarde de Marcelinho -só
que o do tricolor, não o do alvinegro.
No começo do jogo, inflado
pela goleada histórica de 8 a 2
sobre o Cerro Porteño, o Timão
ultrapassou a tênue linha divisória que separa a autoconfiança da displicência.
"Dominou" o jogo, como se
diz erradamente (pois quem
domina de fato não perde),
mas não teve objetividade nem
ímpeto para furar o bloqueio
armado por Carpegiani.
O treinador do São Paulo
mostrou mais uma vez que sabe tanto trabalhar na fartura
(quem não se lembra do imbatível Flamengo dos anos 80?)
como na escassez.
Tendo em mãos um elenco
tecnicamente limitado (assim
como era o Paraguai, que ele
dirigiu brilhantemente na Copa), Carpegiani está tirando
leite de pedra no Morumbi.
Parece ter-se convencido de
que só conta com dois verdadeiros craques no time -um
no apogeu, Serginho, outro no
ocaso, Jorginho- e fez dos dois
as molas mestras de uma equipe talhada para os contra-ataques.
O Corinthians tentou pelo alto, tentou por baixo, tentou nas
jogadas individuais -e só conseguiu levar perigo real ao gol
são-paulino num chute de Rincón de fora da área.
O São Paulo atacou muito
menos, mas com muito mais
perigo. Qualquer compacto dos
"melhores momentos" mostrará que Nei teve muito mais trabalho que Rogério.
E o alto número de faltas cometidas pela zaga alvinegra
(duas das quais resultaram em
gols) indica que os corintianos
tinham mais dificuldade em
conter os avanços tricolores do
que o inverso.
Mas, mais do que razões táticas, talvez o que explique melhor a fragorosa derrota alvinegra seja a instabilidade psicológica e emocional do time, que
passa do excesso de confiança
ao nervosismo com uma facilidade impressionante.
Só isso explica, por exemplo,
que um craque como Gamarra
tenha dado duas "furadas" seguidas no jogo de ontem -fato
provavelmente inédito em sua
carreira.
O problema é crônico: entra
técnico, sai técnico, e a "síndrome de montanha-russa" continua no Parque São Jorge.
Parece que o Corinthians é
um organismo demasiado sensível às oscilações da temperatura emotiva de sua torcida,
com a qual mantém, para o
bem ou para o mal, uma relação simbiótica.
Enfim, a tarde de domingo
não teve gols de Fernando, nem
"bananas" de Dodô -ambos
apagadíssimos.
Teve, isso sim, dois certeiros
petardos de fora da área do
Marcelinho são-paulino e um
gol de pênalti de Serginho
-que selou o placar e, se não
fez total justiça ao que jogaram
os dois times, pelo menos fez
justiça a seu autor, o melhor jogador do time e da partida.
Sensacional o gesto de Rivaldo,
ao comemorar seu primeiro gol
na vitória de ontem do Barcelona sobre o Español. O brasileiro tirou a camisa e exibiu ao
mundo a que usava por baixo,
de seu amigo Giovanni, deixado eternamente no banco. Um
protesto mais fino que a "banana" de Dodô.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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