São Paulo, Segunda-feira, 15 de Março de 1999
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O Corinthians e a síndrome de montanha-russa

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O Corinthians entrou em campo de salto alto e saiu de crista baixa ontem, no Morumbi. Foi, como tantas outras, uma tarde de Marcelinho -só que o do tricolor, não o do alvinegro.
No começo do jogo, inflado pela goleada histórica de 8 a 2 sobre o Cerro Porteño, o Timão ultrapassou a tênue linha divisória que separa a autoconfiança da displicência.
"Dominou" o jogo, como se diz erradamente (pois quem domina de fato não perde), mas não teve objetividade nem ímpeto para furar o bloqueio armado por Carpegiani.
O treinador do São Paulo mostrou mais uma vez que sabe tanto trabalhar na fartura (quem não se lembra do imbatível Flamengo dos anos 80?) como na escassez.
Tendo em mãos um elenco tecnicamente limitado (assim como era o Paraguai, que ele dirigiu brilhantemente na Copa), Carpegiani está tirando leite de pedra no Morumbi.
Parece ter-se convencido de que só conta com dois verdadeiros craques no time -um no apogeu, Serginho, outro no ocaso, Jorginho- e fez dos dois as molas mestras de uma equipe talhada para os contra-ataques.
O Corinthians tentou pelo alto, tentou por baixo, tentou nas jogadas individuais -e só conseguiu levar perigo real ao gol são-paulino num chute de Rincón de fora da área.
O São Paulo atacou muito menos, mas com muito mais perigo. Qualquer compacto dos "melhores momentos" mostrará que Nei teve muito mais trabalho que Rogério.
E o alto número de faltas cometidas pela zaga alvinegra (duas das quais resultaram em gols) indica que os corintianos tinham mais dificuldade em conter os avanços tricolores do que o inverso.
Mas, mais do que razões táticas, talvez o que explique melhor a fragorosa derrota alvinegra seja a instabilidade psicológica e emocional do time, que passa do excesso de confiança ao nervosismo com uma facilidade impressionante.
Só isso explica, por exemplo, que um craque como Gamarra tenha dado duas "furadas" seguidas no jogo de ontem -fato provavelmente inédito em sua carreira.
O problema é crônico: entra técnico, sai técnico, e a "síndrome de montanha-russa" continua no Parque São Jorge.
Parece que o Corinthians é um organismo demasiado sensível às oscilações da temperatura emotiva de sua torcida, com a qual mantém, para o bem ou para o mal, uma relação simbiótica.
Enfim, a tarde de domingo não teve gols de Fernando, nem "bananas" de Dodô -ambos apagadíssimos.
Teve, isso sim, dois certeiros petardos de fora da área do Marcelinho são-paulino e um gol de pênalti de Serginho -que selou o placar e, se não fez total justiça ao que jogaram os dois times, pelo menos fez justiça a seu autor, o melhor jogador do time e da partida.
Sensacional o gesto de Rivaldo, ao comemorar seu primeiro gol na vitória de ontem do Barcelona sobre o Español. O brasileiro tirou a camisa e exibiu ao mundo a que usava por baixo, de seu amigo Giovanni, deixado eternamente no banco. Um protesto mais fino que a "banana" de Dodô.

E-mail: jgcouto@uol.com.br

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