São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Novo chefe leva simpatia à McLaren

Whitmarsh renega rótulo de "clone de Dennis" e afirma que equipe inglesa errou na formação de seu pupilo, Hamilton

Para dirigente, que também comanda associação das equipes, apenas uma das novatas deve estar no grid da F-1 daqui a três anos

TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MÔNACO

Música alta, funcionários simpáticos, uniformes modernos e um ambiente acolhedor.
Essa é a impressão que se tem ao entrar no Brand Centre, o gigante motorhome da McLaren, desde o início de 2009.
Não por coincidência a equipe que sempre foi vista como sisuda mudou desde o início do ano passado, com a saída de Ron Dennis do comando e a chegada de Martin Whitmarsh.
A simpatia do inglês de olhos azuis e cabelos grisalhos trouxe desconfiança sobre sua capacidade de comandar um dos mais importantes times da F-1.
Mas, nesse curto período de tempo, Whitmarsh mostrou que sabe lidar com problemas sérios. Em seu primeiro mês no cargo, Lewis Hamilton mentiu aos comissários do GP da Austrália e foi desclassificado, em um episódio que quase fez o piloto abandonar a categoria.
Poucos meses depois, numa queda de braço com a FIA, as equipes da F-1 anunciaram a criação de um campeonato paralelo. Um dos líderes do movimento foi o chefe da McLaren, que comanda a Fota, a associação dos times da categoria.
Agora, um ano depois, a situação é bem mais confortável.
Após cinco GPs, a McLaren lidera o Mundial de Construtores e Jenson Button, reforço trazido neste ano, é o líder do de Pilotos, com duas vitórias.
Em Mônaco, onde seu time é o mais vencedor (15 triunfos contra oito da Ferrari), Whitmarsh recebeu a Folha e falou sobre seu trabalho, os times nanicos e como a "experiência Hamilton" fez com que a escuderia mudasse o programa de pilotos. "Como foi um choque para ele no ano passado não ter um carro competitivo, hoje não colocamos nossos jovens pilotos nas equipes mais fortes para que eles saibam perder."

 

FOLHA - Como avalia esse primeiro ano no comando do time?
MARTIN WHITMARSH
- [risos] Tive momentos bons e outros ruins. Estou aqui há mais de 20 anos e quando virei chefe tínhamos um carro muito lento, estávamos envolvidos numa controvérsia [de Hamilton] e o esporte estava brigando consigo mesmo. Não foi o começo que sonhei, mas, tendo estado envolvido em nove títulos, ser confrontado com isso foi interessante. Começamos o ano passado numa situação muito difícil e não há dúvidas de que fomos o time que mais melhorou em 2009. Agora, estamos liderando os dois Mundiais, vencemos duas corridas, mas não estou totalmente satisfeito.

FOLHA - A equipe parece muito mais aberta hoje do que há um ano. É um reflexo da sua personalidade?
WHITMARSH
- Quem me conhece sabe que sou aberto e tenho orgulho de estar nesta equipe. Na mente de algumas pessoas, o fato de eu ter trabalhado tanto tempo ao lado do Ron [Dennis] me transformou num clone dele. Eu não acho, mas isso não significa que eu não tenha orgulho do que ele conquistou. Mas você tem que ser você mesmo. Éramos vistos como frios e austeros, mas sempre houve muita paixão na equipe. Estamos aqui para vencer, mas também para nos divertir. Não dá para aguentar semana sim, semana não de trabalho tão duro sem que haja alguma diversão nisso também.

FOLHA - Acha que os times novos fazem bem para a F-1?
WHITMARSH
- Sendo brutal sobre isso, em três anos pode ser que apenas um deles tenha ficado. Se todos que se juntarem ao topo do automobilismo entrarem e forem bem-sucedidos, não estamos fazendo um bom trabalho, porque as coisas não podem ser tão fáceis assim. Espero que pelo menos um deles sobreviva, mas é difícil hoje em dia conseguir dinheiro para uma equipe que anda cinco, sete segundos atrás dos outros.

FOLHA - Muitos disseram que seria arriscado ter dois campeões na mesma equipe. Como é gerenciar Hamilton e Button?
WHITMARSH
- A relação deles é boa, e eles estão aprendendo um com o outro. Na nossa dobradinha na China, a linguagem corporal deles mostrava isso. Sabendo que para o Lewis chegar em segundo é o fim do mundo e ainda mais atrás do companheiro de equipe, o carinho dele com o Jenson naquele dia não podia ser uma coisa programada, não entramos no rádio e falamos o que ele deveria fazer. O Jenson tem guiado de maneira muito inteligente e o Lewis, de maneira muito dramática. Mas tem sido bom para ele ver como o Jenson tem feito. Sendo justo com o Lewis, se ele não tivesse tido o problema na roda na Espanha, seria segundo no campeonato.

FOLHA - O que o time aprendeu com Hamilton?
WHITMARSH
- Ele foi uma experiência sensacional. Cuidamos dele desde o kart. Em 2007, ele chegou à F-1 como o piloto mais preparado para a categoria. Nove pódios em nove corridas foi um começo incrível que dificilmente vai ser repetido.
Mas uma coisa interessante é que, dos 12 anos até quando ganhou o Mundial, sempre o colocamos nos melhores carros na F-Renault, na F-3, na GP2. Então ele chegava pensando em como ganhar. No ano passado, na adversidade, chegar a um GP sabendo que ele não tinha um bom carro foi um aprendizado pra ele e também para nós. Hoje estamos dando a nossos pilotos jovens uma vida um pouco mais dura, não os colocamos mais nos times mais fortes.


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