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Novo chefe leva simpatia à McLaren
Whitmarsh renega rótulo de "clone de Dennis" e afirma que equipe inglesa errou na formação de seu pupilo, Hamilton
Para dirigente, que também comanda associação das equipes, apenas uma das novatas deve estar no grid
da F-1 daqui a três anos
TATIANA CUNHA
ENVIADA ESPECIAL A MÔNACO
Música alta, funcionários
simpáticos, uniformes modernos e um ambiente acolhedor.
Essa é a impressão que se
tem ao entrar no Brand Centre,
o gigante motorhome da McLaren, desde o início de 2009.
Não por coincidência a equipe que sempre foi vista como
sisuda mudou desde o início do
ano passado, com a saída de
Ron Dennis do comando e a
chegada de Martin Whitmarsh.
A simpatia do inglês de olhos
azuis e cabelos grisalhos trouxe
desconfiança sobre sua capacidade de comandar um dos mais
importantes times da F-1.
Mas, nesse curto período de
tempo, Whitmarsh mostrou
que sabe lidar com problemas
sérios. Em seu primeiro mês no
cargo, Lewis Hamilton mentiu
aos comissários do GP da Austrália e foi desclassificado, em
um episódio que quase fez o piloto abandonar a categoria.
Poucos meses depois, numa
queda de braço com a FIA, as
equipes da F-1 anunciaram a
criação de um campeonato paralelo. Um dos líderes do movimento foi o chefe da McLaren,
que comanda a Fota, a associação dos times da categoria.
Agora, um ano depois, a situação é bem mais confortável.
Após cinco GPs, a McLaren
lidera o Mundial de Construtores e Jenson Button, reforço
trazido neste ano, é o líder do
de Pilotos, com duas vitórias.
Em Mônaco, onde seu time é
o mais vencedor (15 triunfos
contra oito da Ferrari), Whitmarsh recebeu a Folha e falou
sobre seu trabalho, os times
nanicos e como a "experiência
Hamilton" fez com que a escuderia mudasse o programa de
pilotos. "Como foi um choque
para ele no ano passado não ter
um carro competitivo, hoje não
colocamos nossos jovens pilotos nas equipes mais fortes para que eles saibam perder."
FOLHA - Como avalia esse primeiro
ano no comando do time?
MARTIN WHITMARSH
- [risos] Tive
momentos bons e outros ruins.
Estou aqui há mais de 20 anos e
quando virei chefe tínhamos
um carro muito lento, estávamos envolvidos numa controvérsia [de Hamilton] e o esporte estava brigando consigo
mesmo. Não foi o começo que
sonhei, mas, tendo estado envolvido em nove títulos, ser
confrontado com isso foi interessante. Começamos o ano
passado numa situação muito
difícil e não há dúvidas de que
fomos o time que mais melhorou em 2009. Agora, estamos liderando os dois Mundiais, vencemos duas corridas, mas não
estou totalmente satisfeito.
FOLHA - A equipe parece muito
mais aberta hoje do que há um ano.
É um reflexo da sua personalidade?
WHITMARSH
- Quem me conhece sabe que sou aberto e tenho
orgulho de estar nesta equipe.
Na mente de algumas pessoas,
o fato de eu ter trabalhado tanto tempo ao lado do Ron [Dennis] me transformou num clone dele. Eu não acho, mas isso
não significa que eu não tenha
orgulho do que ele conquistou.
Mas você tem que ser você
mesmo. Éramos vistos como
frios e austeros, mas sempre
houve muita paixão na equipe.
Estamos aqui para vencer, mas
também para nos divertir. Não
dá para aguentar semana sim,
semana não de trabalho tão duro sem que haja alguma diversão nisso também.
FOLHA - Acha que os times novos
fazem bem para a F-1?
WHITMARSH
- Sendo brutal sobre isso, em três anos pode ser
que apenas um deles tenha ficado. Se todos que se juntarem
ao topo do automobilismo entrarem e forem bem-sucedidos,
não estamos fazendo um bom
trabalho, porque as coisas não
podem ser tão fáceis assim. Espero que pelo menos um deles
sobreviva, mas é difícil hoje em
dia conseguir dinheiro para
uma equipe que anda cinco, sete segundos atrás dos outros.
FOLHA - Muitos disseram que seria
arriscado ter dois campeões na mesma equipe. Como é gerenciar Hamilton e Button?
WHITMARSH
- A relação deles é
boa, e eles estão aprendendo
um com o outro. Na nossa dobradinha na China, a linguagem corporal deles mostrava
isso. Sabendo que para o Lewis
chegar em segundo é o fim do
mundo e ainda mais atrás do
companheiro de equipe, o carinho dele com o Jenson naquele
dia não podia ser uma coisa
programada, não entramos no
rádio e falamos o que ele deveria fazer. O Jenson tem guiado
de maneira muito inteligente e
o Lewis, de maneira muito dramática. Mas tem sido bom para
ele ver como o Jenson tem feito. Sendo justo com o Lewis, se
ele não tivesse tido o problema
na roda na Espanha, seria segundo no campeonato.
FOLHA - O que o time aprendeu
com Hamilton?
WHITMARSH
- Ele foi uma experiência sensacional. Cuidamos
dele desde o kart. Em 2007, ele
chegou à F-1 como o piloto
mais preparado para a categoria. Nove pódios em nove corridas foi um começo incrível que
dificilmente vai ser repetido.
Mas uma coisa interessante é
que, dos 12 anos até quando ganhou o Mundial, sempre o colocamos nos melhores carros na
F-Renault, na F-3, na GP2. Então ele chegava pensando em
como ganhar. No ano passado,
na adversidade, chegar a um GP
sabendo que ele não tinha um
bom carro foi um aprendizado
pra ele e também para nós. Hoje estamos dando a nossos pilotos jovens uma vida um pouco
mais dura, não os colocamos
mais nos times mais fortes.
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