|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BASQUETE
Furacão Dalila
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Dalila Mello, 24, morava
fazia cinco anos nos EUA.
Tinha acabado de completar a
bolsa na West Texas A&M University. Cogitava nem voltar ao
Brasil, determinada a seguir a
profissão de zootécnica. Mas a reportagem saiu na Folha, a confederação se deslumbrou, a comissão técnica anuiu, e Dalila entrou
rápido e dourada para a história.
A seleção reestruturava-se, de
olho no Mundial-94 da Austrália.
A CBB optara pelo tratamento
de choque. Por isso a escolha do
principiante Miguel Ângelo para
substituir a tarimbada Maria Helena Cardoso. Por isso a decisão
de enquadrar o grupo que havia
brilhado no Pan-91 em Cuba. Por
isso a dissimulada "bola preta"
para duas vozes dissonantes, a armadora Branca e a pivô Marta.
Para a vaga desta, veterana de
quase dez anos de convocações,
havia as jovens e emergentes
Alessandra, Leila e Cíntia Tuiú.
Mas era pouco para silenciar os
críticos. Por que, então, não experimentar a estudante que apareceu no jornal? A estampa "made
in USA" dava credibilidade a ela.
E a média de 18 pontos e 10 rebotes, registrada no campeonato
universitário, mal não lhe fazia.
Assim, de orelhada em orelhada, Dalila atendeu o telefone em
Canyon, Texas. "Na louca, de novo disse sim ao basquete."
As outras convocadas desconfiaram. "Fiquei isolada. É natural, pois nunca tinham me visto
jogar", conta a "estrangeira", sobre o começo dos treinos, em abril
de 1994, em São Roque (SP).
Mas Helen e Roseli ajudaram a
quebrar o gelo. E Dalila, ainda
por cima a menor das pivôs, com
1,87 m e 75 kg, sentiu-se à vontade
para disputar -e assegurar-
uma vaga na lista de embarque.
A campanha na Austrália foi
vertiginosa como a convocação.
Segundo Dalila, as lembranças
daquele junho, da mais extraordinária conquista da história do
basquete nacional, misturam-se
em um borrão. "Nós, treinando
como zumbis por causa da diferença de fuso. A emoção no jogo
com a Espanha. Os telefonemas
para casa. As meninas se abraçando na quadra na vitória sobre
as americanas. O torpor pela conquista. A química boa dentro do
grupo, sem estrelismos..."
A pivô participou só de uma
partida, a estréia, contra Taiwan:
dois minutos, dois pontos em lances livres, uma falta cometida.
"Nem disso me lembro bem."
A memória, no entanto, conserva intactos os sentimentos e as
sensações da volta para casa. "A
ficha caiu", repete a paranaense
para descrever tanto a alegria da
recepção quanto a falta de perspectiva profissional no esporte.
Dalila, que pegou na bola laranja pela primeira vez aos 15
anos, que só mergulhou no esporte por causa do irmão basqueteiro
Rodrigo, que "não tinha jeito para a coisa" e ainda assim virou
campeã mundial, contemplou o
resto de 1994 e resolveu parar.
Ela ainda arriscou algumas semanas de treinos em Guarulhos.
"Mas era a hora de pensar racionalmente", diz a hoje professora
de inglês e esporte em Curitiba.
Ninguém sabe, ninguém viu:
como veio, Dalila se foi. Mas ficou
o trimestre de sonho, para ela e
para o basquete brasileiro.
Década 1
De 2 a 12 de junho de 1994, na "madrugada" australiana, o Brasil
atropelou Taiwan (112 x 83), caiu ante a Eslováquia (88 x 99), bateu a
Polônia (87 x 77), ganhou de Cuba (111 x 91), perdeu para a China (90
x 97), superou no sufoco a Espanha (92 x 87), surpreendeu os EUA
(110 x 107) e salteou a China na revanche pelo título (96 x 84).
Década 2
Entre as cestinhas do Mundial-94, três brasileiras: Hortência (1ª, 27,6
pontos por jogo), Janeth (3ª, 23,2) e Paula (5ª, 19,7). A seleção teve o
ataque mais eficiente: 57,4% de aproveitamento nos arremessos.
Década 3
As 12 campeãs relembram hoje a façanha em almoço em São Paulo.
E-mail melk@uol.com.br
Texto Anterior: Automobilismo: Times definem novo formato de classificação Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: Uma crise alarmante Índice
|