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FUTEBOL
Uma crise alarmante
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
A economista Elena Landau, botafoguense de coração e uma das poucas cabeças
pensantes da gestão esportiva
brasileira, publicou recentemente
artigo no jornal "Valor Econômico" a respeito do drama por que
passam os clubes de futebol.
O panorama é alarmante. Não
seria preciso percorrer os balanços de 2003 dos principais clubes
-coisa que Elena fez- para
constatar que a situação é muito
grave e, nas atuais condições, insolúvel. Atolados em dívidas acumuladas irresponsavelmente ao
longo de décadas, os clubes de futebol, como observa a economista, têm suas finanças geridas, na
prática, pelo Poder Judiciário:
"São suas ordens de penhora de
receita, para cobertura de débitos,
que acabam determinando o fluxo financeiro dos clubes. Essas decisões judiciais, que podem ocorrer a qualquer momento, não
obedecem a nenhum critério econômico, muitas vezes ocorrendo
pedidos de bloqueio superiores a
100% da renda do devedor, um
absurdo que beneficia alguns
poucos credores em prejuízo dos
demais".
Que o Tribunal Regional do
Trabalho do Rio tenha limitado
em 15% da receita bruta o limite
para a penhora referente a todas
as execuções trabalhistas, é um
alívio, mas não é uma solução.
Esta é muito mais complexa e assim continuaria, mesmo se a Justiça cessasse de determinar bloqueios, o que faz, diga-se, em defesa de pessoas e entidades lesadas, às quais os clubes devem,
mas não pagam.
Mas como pagar se essas entidades não são nem mesmo capazes de gerar receitas e reestruturar
suas dívidas de modo a saldá-las
dentro de um cronograma razoável? Quem irá, por mais apaixonado, rico e perdulário que seja, a
essa altura do campeonato, investir em nossos clubes?
A permanecer como está, a situação poderá ter um desfecho
selvagem. Tudo iria se deteriorando até que surgissem alternativas hostis ou a artifícios empresariais que acabariam por transferir a marca dos clubes (seu
maior patrimônio) para credores,
empresários ou aventureiros. Casos como esse têm acontecido em
outros setores em crise.
Outra hipótese, seria criar mecanismos legais que permitissem
aos clubes equacionar o problema
antes que acabem. Preservariam
suas marcas e criariam novos
modelos de gestão.
Esses mecanismos teriam que
permitir a reestruturação das dívidas, o que implica alguma espécie de apoio do Estado, a começar
pelo reescalonamento dos débitos
acumulados com o poder público.
Benesse? Sim. Mas seria preciso
considerar que tais dívidas, na
atual situação, estão, de fato, perdidas. O governo não irá recebê-las.
Além da energia política que
exige -e dos desgastes que poderiam gerar-, a criação de mecanismos dessa espécie exigiria contrapartidas que os clubes não parecem dispostos ou preparados
para oferecer. O cenário é desolador e atinge em cheio um importante patrimônio cultural e afetivo do povo brasileiro.
Dureza na Colômbia
Estive no Morumbi para assistir a uma vitória que a torcida
dava como certa, mas que não
aconteceu. A festa da arquibancada foi muito bonita, mas o
São Paulo não conseguiu dobrar o encardido Once Caldas,
na partida de ida da semifinal
da Libertadores. Jogos assim
costumam cobrar caro as chances desperdiçadas. O São Paulo
perdeu as suas no primeiro
tempo e depois não soube vencer a retranca colombiana e sua
própria falta de imaginação.
Amanhã a história pode ser outra, mas é aquele típico joguinho traiçoeiro. Seria bom que
os jogadores são-paulinos, entre eles Luis Fabiano, esfriassem a cabeça depois das refregas da partida contra o Grêmio.
É uma partida que vai exigir paciência, solidariedade e concentração.
E-mail mag@folhasp.com.br
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