São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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FUTEBOL

Uma crise alarmante

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

A economista Elena Landau, botafoguense de coração e uma das poucas cabeças pensantes da gestão esportiva brasileira, publicou recentemente artigo no jornal "Valor Econômico" a respeito do drama por que passam os clubes de futebol.
O panorama é alarmante. Não seria preciso percorrer os balanços de 2003 dos principais clubes -coisa que Elena fez- para constatar que a situação é muito grave e, nas atuais condições, insolúvel. Atolados em dívidas acumuladas irresponsavelmente ao longo de décadas, os clubes de futebol, como observa a economista, têm suas finanças geridas, na prática, pelo Poder Judiciário: "São suas ordens de penhora de receita, para cobertura de débitos, que acabam determinando o fluxo financeiro dos clubes. Essas decisões judiciais, que podem ocorrer a qualquer momento, não obedecem a nenhum critério econômico, muitas vezes ocorrendo pedidos de bloqueio superiores a 100% da renda do devedor, um absurdo que beneficia alguns poucos credores em prejuízo dos demais".
Que o Tribunal Regional do Trabalho do Rio tenha limitado em 15% da receita bruta o limite para a penhora referente a todas as execuções trabalhistas, é um alívio, mas não é uma solução. Esta é muito mais complexa e assim continuaria, mesmo se a Justiça cessasse de determinar bloqueios, o que faz, diga-se, em defesa de pessoas e entidades lesadas, às quais os clubes devem, mas não pagam.
Mas como pagar se essas entidades não são nem mesmo capazes de gerar receitas e reestruturar suas dívidas de modo a saldá-las dentro de um cronograma razoável? Quem irá, por mais apaixonado, rico e perdulário que seja, a essa altura do campeonato, investir em nossos clubes?
A permanecer como está, a situação poderá ter um desfecho selvagem. Tudo iria se deteriorando até que surgissem alternativas hostis ou a artifícios empresariais que acabariam por transferir a marca dos clubes (seu maior patrimônio) para credores, empresários ou aventureiros. Casos como esse têm acontecido em outros setores em crise.
Outra hipótese, seria criar mecanismos legais que permitissem aos clubes equacionar o problema antes que acabem. Preservariam suas marcas e criariam novos modelos de gestão.
Esses mecanismos teriam que permitir a reestruturação das dívidas, o que implica alguma espécie de apoio do Estado, a começar pelo reescalonamento dos débitos acumulados com o poder público. Benesse? Sim. Mas seria preciso considerar que tais dívidas, na atual situação, estão, de fato, perdidas. O governo não irá recebê-las.
Além da energia política que exige -e dos desgastes que poderiam gerar-, a criação de mecanismos dessa espécie exigiria contrapartidas que os clubes não parecem dispostos ou preparados para oferecer. O cenário é desolador e atinge em cheio um importante patrimônio cultural e afetivo do povo brasileiro.

Dureza na Colômbia
Estive no Morumbi para assistir a uma vitória que a torcida dava como certa, mas que não aconteceu. A festa da arquibancada foi muito bonita, mas o São Paulo não conseguiu dobrar o encardido Once Caldas, na partida de ida da semifinal da Libertadores. Jogos assim costumam cobrar caro as chances desperdiçadas. O São Paulo perdeu as suas no primeiro tempo e depois não soube vencer a retranca colombiana e sua própria falta de imaginação. Amanhã a história pode ser outra, mas é aquele típico joguinho traiçoeiro. Seria bom que os jogadores são-paulinos, entre eles Luis Fabiano, esfriassem a cabeça depois das refregas da partida contra o Grêmio. É uma partida que vai exigir paciência, solidariedade e concentração.

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