São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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COPA 2006

Corpo estranho

  Ronaldo passa mal e faz exames que nada detectam
  Como na crise da final de 1998, CBF oculta problema

Marcelo Sayão/Efe
O atacante Ronaldo chega ao hotel da seleção brasileira em Königstein, ontem


EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
SÉRGIO RANGEL

ENVIADOS ESPECIAIS A KÖNIGSTEIN

A lista de problemas médicos do atacante Ronaldo parece não ter fim. No dia seguinte à sua pífia atuação no Estádio Olímpico de Berlim, o camisa 9 da seleção reclamou de fortes dores na cabeça e foi levado para uma clínica em Frankfurt, onde foi submetido a exames.
De acordo com a assessoria da CBF, nada foi constatado e o jogador deve treinar normalmente com os outros atletas na tarde de hoje, em Königstein.
O caso pode não ser tão grave quanto o de 1998, quando Ronaldo teve uma crise nervosa horas antes da final da Copa. Mas segue roteiro semelhante.
Do mesmo modo que há oito anos, na França, a passagem do atacante pela clínica só foi divulgada pela CBF horas depois.
Queixando-se de mal-estar logo após a partida, o jogador do Real Madrid foi direto para a concentração em Königstein, algo que não ocorreu nas folgas anteriores do time brasileiro.
Tanto na Suíça como na Alemanha, Ronaldo saiu com os outros jogadores para boates e restaurantes. Na semana passada, chegou a ter a companhia da namorada, Raica de Oliveira.
Desta vez, porém, as circunstâncias eram diferentes. E, tudo indica, bem mais sérias.
Às 15h10 de ontem (10h10 de Brasília), os médicos decidiram levá-lo a uma clínica, onde, segundo o "Jornal da Globo", Ronaldo passou por uma endoscopia. Quatro horas depois, ele voltou à concentração e não falou.
O médico José Luiz Runco, que acompanhou o atleta na clínica, ajudou a esconder o problema. Minutos depois de Ronaldo regressar ao hotel da seleção de carro, Runco, caminhando pela rua diante da concentração, parou para conversar com jornalistas. Disse que nenhum jogador teve problemas depois da partida de estréia, o 1 a 0 contra a Croácia.
Contou ainda que tinha ido a um shopping center. Não carregava, porém, nenhum pacote.
"Esse negócio de fazer compras na Europa é lenda. No Brasil, você paga mais caro, mas paga em dez vezes", disse ele, que estava acompanhado por Serafim Borges, outro médico da seleção. Runco ainda alfinetou Ronaldo. "O problema dele foi o jogo. O Ronaldo tem que jogar, eu acho isso", comentou.
Pouco mais de cinco horas depois, já na madrugada alemã, à 1h02 em Königstein (20h02 no Brasil), a CBF informou em seu site que o atacante teve "tonteiras", que passou por exames e que treinará hoje.
Ao mesmo tempo, o mesmo site afirmava que nenhum jogador da delegação estava no departamento médico.
Os problemas de Ronaldo começaram na preparação da seleção para a Copa. Na segunda semana, na Suíça, ele teve de ser substituído em amistoso contra a Nova Zelândia devido a bolhas no pé esquerdo.
Dias depois, contraiu uma virose que o tirou de um treino.
Tudo isso em meio à sua irritação com comentários sobre seu peso, que gerou até um debate com o presidente Lula.
Em 98, o atacante passou mal na concentração e foi levado, às escondidas, para um hospital de Paris. O problema só veio à tona após a derrota para os franceses, na qual atuou.
Como agora, a CBF tentou abafar o caso na ocasião, mesmo depois de a Fifa ter divulgado a escalação de Edmundo.
Ronaldo não conversa com os jornalistas desde domingo.
Anteontem, o atacante se recusou a passar na zona mista do estádio, local onde os atletas concedem entrevista após as partidas. A Fifa obriga a presença ali de todos os jogadores. A CBF alegou que ele saiu por uma porta lateral do estádio.
Runco, hoje, dará uma entrevista para falar sobre o jogador. Ontem, a assessoria da CBF não atendeu as ligações da Folha após o anúncio dos exames.


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