São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

José Geraldo Couto

Lavagem cerebral

Muitos acreditam que o Brasil só não será campeão se houver armação

NADA COMO a estréia chocha na Copa para arrefecer um pouco a euforia em torno da seleção, inflada pela mídia e pelo marketing.
Criou-se uma idéia tão avassaladora de favoritismo que muita gente acredita que o Brasil só não será campeão se houver armação, manipulação de resultados etc. Já vi esse filme. Até hoje há quem considere a derrota para a França na final de 1998 o resultado de algum tipo de marmelada. Como se fôssemos, de fato, imbatíveis, e como se o futebol fosse uma ciência exata.
Ora, nem uma coisa nem outra. Num torneio curto e baseado amplamente no mata-mata, como a Copa do Mundo, o acaso e as condições (psicológicas, físicas, meteorológicas) de momento têm um peso enorme. Muita coisa imprevista pode acontecer.
Se fosse uma disputa de pontos corridos, com todos enfrentando todos, o Brasil seria franco favorito, ao lado de duas ou três outras seleções. No atual formato, a partir da próxima fase, basta um jogo amarrado, um lance infeliz de um beque, uma bola espirrada e adeus Copa.
O que está acontecendo é uma gigantesca lavagem cerebral promovida pelos órgãos de comunicação de massa e pela publicidade.
Conseguiram minar o senso crítico até de gente ponderada e que entende de futebol. Nivelou-se por baixo a inteligência da nação. Todos juntos numa corrente descerebrada.
Depois da partida medíocre de anteontem, foi constrangedor ver carros em disparada pelas ruas, buzinando e soltando fogos para forjar uma falsa alegria. Em horas como essas, juro, dá vontade de mudar de país.
Quem matou a charada, a meu ver, foi Vinícius Torres Freire, que em sua coluna de segunda-feira, na página 2 da Folha, escreveu o seguinte: "Na ordem natural do nosso conto de fadas, a Copa é nossa. O ouro brota da terra sem que se recorra a máquinas eficientes. A associação apolítica e carnavalesca dos brasileiros de bom coração ou a vinda do salvador nos desobriga do trabalho eficaz, do estudo e da política ativa". Triste Brasil.


Texto Anterior: Torcida: Italianos são presos por apalpar garotas
Próximo Texto: Trinidad joga história contra ingleses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.