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José Geraldo Couto
Lavagem cerebral
Muitos acreditam que o Brasil só não será campeão se houver armação
NADA COMO a estréia
chocha na Copa
para arrefecer um
pouco a euforia em torno
da seleção, inflada pela
mídia e pelo marketing.
Criou-se uma idéia tão
avassaladora de favoritismo que muita gente acredita que o Brasil só não será campeão se houver armação, manipulação de
resultados etc. Já vi esse
filme. Até hoje há quem
considere a derrota para a
França na final de 1998 o
resultado de algum tipo de
marmelada. Como se fôssemos, de fato, imbatíveis,
e como se o futebol fosse
uma ciência exata.
Ora, nem uma coisa
nem outra. Num torneio
curto e baseado amplamente no mata-mata, como a Copa do Mundo, o
acaso e as condições (psicológicas, físicas, meteorológicas) de momento
têm um peso enorme.
Muita coisa imprevista
pode acontecer.
Se fosse uma disputa de
pontos corridos, com todos enfrentando todos, o
Brasil seria franco favorito, ao lado de duas ou três
outras seleções. No atual
formato, a partir da próxima fase, basta um jogo
amarrado, um lance infeliz de um beque, uma bola
espirrada e adeus Copa.
O que está acontecendo
é uma gigantesca lavagem
cerebral promovida pelos
órgãos de comunicação de
massa e pela publicidade.
Conseguiram minar o
senso crítico até de gente
ponderada e que entende
de futebol. Nivelou-se por
baixo a inteligência da nação. Todos juntos numa
corrente descerebrada.
Depois da partida medíocre de anteontem, foi
constrangedor ver carros
em disparada pelas ruas,
buzinando e soltando fogos para forjar uma falsa
alegria. Em horas como
essas, juro, dá vontade de
mudar de país.
Quem matou a charada,
a meu ver, foi Vinícius
Torres Freire, que em sua
coluna de segunda-feira,
na página 2 da Folha, escreveu o seguinte: "Na
ordem natural do nosso
conto de fadas, a Copa é
nossa. O ouro brota da
terra sem que se recorra a
máquinas eficientes. A
associação apolítica e
carnavalesca dos brasileiros de bom coração ou a
vinda do salvador nos desobriga do trabalho eficaz, do estudo e da política ativa". Triste Brasil.
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