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Clóvis Rossi
Deste planeta
O MELHOR resumo do
jogo Brasil x Croácia, incluindo antecedentes e ambiente, foi o
do jornal esportivo "Olé",
da Argentina: "O Brasil é
deste planeta".
Simples, bonitinho, irônico, capaz de em cinco palavras contar tudo: os que
se imaginavam e eram quase unanimemente tidos como ETs do futebol, donos
de superpoderes, tiveram
um dia/uma noite de seres
humanos triviais, normais,
até abaixo da norma (só escurece depois de 21h30 na
Alemanha neste verão senegalês).
O problema é que um dos
ETs, Ronaldo Nazário de
Lima, ficou sendo o vilão
absoluto de uma história
em que só Kaká e Dida de
fato se salvaram, ao menos
no meu modo de ver as coisas. Por isso, recapturei
texto sobre Ronaldo publicado na Copa-98, após a
derrota do Brasil para a
Noruega, na primeira fase.
Lembrava que, naquela
época, Ronaldo ganhava o
equivalente a US$ 1.160 por
hora. Por hora, grifo.
Aí, veio o seminário francês "France Football" e fez
um levantamento sobre as
ações de Ronaldo, a partir
do qual deu para concluir,
matematicamente, que cada chute seu que toma a direção do gol custava exatamente esse US$ 1.160 (o espaço não me permite reconstituir as contas de então). Um trabalhador de salário mínimo precisava, na
época, trabalhar dez meses
para ganhar o que Ronaldo
ganhava por chute.
O texto de oito anos atrás
dizia: "Nada contra o salário de Ronaldo. Artistas como ele têm, no mercado,
uma cotação diferente dos
mortais comuns. Mas têm
também a obrigação de devolver ao público atuações
igualmente diferentes das
de atletas comuns".
Ou, voltando ao diário argentino "Olé", jogadores
como ele não podem ser
"deste planeta".
Espera-se dele -e de um
monte de ETs da seleção
brasileira- pelo menos
uma jogada por partida como a do zagueiro Puyol, da
Espanha, no quarto gol de
ontem contra a Ucrânia.
Um drible à la Ronaldinho,
participação na tabela com
os companheiros, até deixar Fernando Torres em
condições de marcar. O locutor da TV alemã não se
conteve: "Ein super tor"
("tor" é gol).
Tudo bem que Puyol é do
Barça, e o Barça é de outra
galáxia, divina galáxia, mas,
caramba, precisavam os
Ronaldos, Adriano e quase
todos os demais terem sido
tão terráqueos anteontem?
@ - crossi@uol.com.br
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