São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006

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Clóvis Rossi

Deste planeta

O MELHOR resumo do jogo Brasil x Croácia, incluindo antecedentes e ambiente, foi o do jornal esportivo "Olé", da Argentina: "O Brasil é deste planeta".
Simples, bonitinho, irônico, capaz de em cinco palavras contar tudo: os que se imaginavam e eram quase unanimemente tidos como ETs do futebol, donos de superpoderes, tiveram um dia/uma noite de seres humanos triviais, normais, até abaixo da norma (só escurece depois de 21h30 na Alemanha neste verão senegalês).
O problema é que um dos ETs, Ronaldo Nazário de Lima, ficou sendo o vilão absoluto de uma história em que só Kaká e Dida de fato se salvaram, ao menos no meu modo de ver as coisas. Por isso, recapturei texto sobre Ronaldo publicado na Copa-98, após a derrota do Brasil para a Noruega, na primeira fase.
Lembrava que, naquela época, Ronaldo ganhava o equivalente a US$ 1.160 por hora. Por hora, grifo.
Aí, veio o seminário francês "France Football" e fez um levantamento sobre as ações de Ronaldo, a partir do qual deu para concluir, matematicamente, que cada chute seu que toma a direção do gol custava exatamente esse US$ 1.160 (o espaço não me permite reconstituir as contas de então). Um trabalhador de salário mínimo precisava, na época, trabalhar dez meses para ganhar o que Ronaldo ganhava por chute.
O texto de oito anos atrás dizia: "Nada contra o salário de Ronaldo. Artistas como ele têm, no mercado, uma cotação diferente dos mortais comuns. Mas têm também a obrigação de devolver ao público atuações igualmente diferentes das de atletas comuns".
Ou, voltando ao diário argentino "Olé", jogadores como ele não podem ser "deste planeta".
Espera-se dele -e de um monte de ETs da seleção brasileira- pelo menos uma jogada por partida como a do zagueiro Puyol, da Espanha, no quarto gol de ontem contra a Ucrânia.
Um drible à la Ronaldinho, participação na tabela com os companheiros, até deixar Fernando Torres em condições de marcar. O locutor da TV alemã não se conteve: "Ein super tor" ("tor" é gol).
Tudo bem que Puyol é do Barça, e o Barça é de outra galáxia, divina galáxia, mas, caramba, precisavam os Ronaldos, Adriano e quase todos os demais terem sido tão terráqueos anteontem?


@ - crossi@uol.com.br

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