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FUTEBOL
O doce veneno da insanidade
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
N a derrota de ontem para
o Fluminense, que o tirou da
Copa dos Campeões, o Corinthians, atuando completo pela
primeira vez no torneio, mostrou
praticamente todas as suas qualidades e limitações.
O time alvinegro, como sempre,
teve mais tempo com a posse de
bola. Trocou passes no campo adversário, realizou suas tabelas e
triangulações pela esquerda, virou o jogo de um flanco para o
outro do campo.
Mas foi um falso domínio. Cada
erro de passe corintiano propiciava um contra-ataque perigoso do
Fluminense. Só no primeiro tempo, o tricolor teve pelo menos
quatro chances claras de gol.
Na segunda etapa, o desenho
tático da partida se repetiu: posse
de bola corintiana, ataques perigosos do Fluminense. Se o goleiro
Doni não tivesse feito duas defesas excepcionais, o placar teria sido aberto muito antes.
É até difícil entender como um
ataque formado por dois jogadores velozes e habilidosos como Roni e Magno Alves, coadjuvados
por Fernando Diniz, pôde passar
em branco pelas primeiras partidas da competição.
Tudo somado, foi um belo jogo.
O Fluminense mereceu vencer por
ter mostrado mais ousadia e vibração. Talvez o fato de os jogadores dependerem da vitória para
receber parte dos salários atrasados tenha sido decisivo.
Do lado corintiano, além da
contusão do atacante Deivid ainda no início do jogo, pode ter pesado uma certa falta de motivação, uma vez que o grande prêmio oferecido pela Copa dos
Campeões -uma vaga na Taça
Libertadores da América- já foi
obtido pelo clube com a conquista
da Copa do Brasil.
Mais do que essa relativa apatia
da equipe paulista, o que preocupa o torcedor corintiano é a possibilidade da saída de seu principal
jogador, o meia Ricardinho.
Não é por acaso que Parreira
tem defendido enfaticamente a
permanência do atleta no Parque
São Jorge. Além de ser um armador como poucos no futebol atual,
Ricardinho é a perfeita tradução,
em campo, do estilo Parreira.
Todas as qualidades normalmente associadas à filosofia de jogo do treinador -organização,
futebol solidário, equilíbrio entre
defesa e ataque, predomínio do
cerebral sobre o emocional- se
encarnam em Ricardinho.
Talvez isso explique também a
resistência ao jogador por parte
de Luiz Felipe Scolari, um treinador passional, que, mais que as
questões táticas, valoriza o improviso e a vibração.
Olhando retrospectivamente o
Corinthians das últimas cinco
temporadas, é possível detectar
uma lenta e atribulada transição
entre a "era Marcelinho" e a "era
Ricardinho".
Não foi à toa que os dois jogadores se desentenderam e se tornaram inimigos mortais, embora
os melhores momentos da equipe
tenham sido aqueles em que seus
estilos opostos se completaram
em harmonia.
Marcelinho, com a camisa do
Corinthians, era pura adrenalina. Dele nunca se sabia o que esperar. Podia ser expulso estupidamente no primeiro lance ou realizar uma partida esplendorosa,
com gols inesquecíveis. Sua linha
era a do risco e da surpresa.
Ricardinho, ao contrário, é um
valor seguro. Faz sempre o que
dele se espera: um jogo sereno e
cerebral, de passes precisos e ritmo controlado. É de uma lucidez
irritante. O que lhe falta, talvez, é
o que sobrava ao "outro": o doce
veneno da insanidade.
Exemplo europeu
Alertada pelo fraco desempenho das seleções européias
na Copa, a Uefa já decidiu enxugar a Copa dos Campeões.
Por que os cartolas brasileiros não seguem o exemplo e
racionalizam os torneios nacionais em vez de inventar
competições caça-níqueis ou
de interesse político? Reforçar e moralizar o Brasileiro e
a Copa do Brasil me parece o
melhor caminho.
Brasileirão inchado
O Figueirense ganhou na Justiça Desportiva e o Caxias na
Justiça comum o direito de
subir à Série A do Brasileirão.
A CBF está num impasse. Para muita gente, quem deveria
ficar com a vaga é o Avaí, que,
ao contrário de Figueirense e
Caxias, não cometeu irregularidade. Conhecendo a cartolagem, é possível que se opte pelo inchaço da Série A,
com a subida dos finalistas da
Segundona: Paysandu, Figueirense, Caxias e Avaí.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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