São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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FUTEBOL

O doce veneno da insanidade

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

N a derrota de ontem para o Fluminense, que o tirou da Copa dos Campeões, o Corinthians, atuando completo pela primeira vez no torneio, mostrou praticamente todas as suas qualidades e limitações.
O time alvinegro, como sempre, teve mais tempo com a posse de bola. Trocou passes no campo adversário, realizou suas tabelas e triangulações pela esquerda, virou o jogo de um flanco para o outro do campo.
Mas foi um falso domínio. Cada erro de passe corintiano propiciava um contra-ataque perigoso do Fluminense. Só no primeiro tempo, o tricolor teve pelo menos quatro chances claras de gol.
Na segunda etapa, o desenho tático da partida se repetiu: posse de bola corintiana, ataques perigosos do Fluminense. Se o goleiro Doni não tivesse feito duas defesas excepcionais, o placar teria sido aberto muito antes.
É até difícil entender como um ataque formado por dois jogadores velozes e habilidosos como Roni e Magno Alves, coadjuvados por Fernando Diniz, pôde passar em branco pelas primeiras partidas da competição.
Tudo somado, foi um belo jogo. O Fluminense mereceu vencer por ter mostrado mais ousadia e vibração. Talvez o fato de os jogadores dependerem da vitória para receber parte dos salários atrasados tenha sido decisivo.
Do lado corintiano, além da contusão do atacante Deivid ainda no início do jogo, pode ter pesado uma certa falta de motivação, uma vez que o grande prêmio oferecido pela Copa dos Campeões -uma vaga na Taça Libertadores da América- já foi obtido pelo clube com a conquista da Copa do Brasil.
Mais do que essa relativa apatia da equipe paulista, o que preocupa o torcedor corintiano é a possibilidade da saída de seu principal jogador, o meia Ricardinho.
Não é por acaso que Parreira tem defendido enfaticamente a permanência do atleta no Parque São Jorge. Além de ser um armador como poucos no futebol atual, Ricardinho é a perfeita tradução, em campo, do estilo Parreira.
Todas as qualidades normalmente associadas à filosofia de jogo do treinador -organização, futebol solidário, equilíbrio entre defesa e ataque, predomínio do cerebral sobre o emocional- se encarnam em Ricardinho.
Talvez isso explique também a resistência ao jogador por parte de Luiz Felipe Scolari, um treinador passional, que, mais que as questões táticas, valoriza o improviso e a vibração.
Olhando retrospectivamente o Corinthians das últimas cinco temporadas, é possível detectar uma lenta e atribulada transição entre a "era Marcelinho" e a "era Ricardinho".
Não foi à toa que os dois jogadores se desentenderam e se tornaram inimigos mortais, embora os melhores momentos da equipe tenham sido aqueles em que seus estilos opostos se completaram em harmonia.
Marcelinho, com a camisa do Corinthians, era pura adrenalina. Dele nunca se sabia o que esperar. Podia ser expulso estupidamente no primeiro lance ou realizar uma partida esplendorosa, com gols inesquecíveis. Sua linha era a do risco e da surpresa.
Ricardinho, ao contrário, é um valor seguro. Faz sempre o que dele se espera: um jogo sereno e cerebral, de passes precisos e ritmo controlado. É de uma lucidez irritante. O que lhe falta, talvez, é o que sobrava ao "outro": o doce veneno da insanidade.

Exemplo europeu
Alertada pelo fraco desempenho das seleções européias na Copa, a Uefa já decidiu enxugar a Copa dos Campeões. Por que os cartolas brasileiros não seguem o exemplo e racionalizam os torneios nacionais em vez de inventar competições caça-níqueis ou de interesse político? Reforçar e moralizar o Brasileiro e a Copa do Brasil me parece o melhor caminho.

Brasileirão inchado
O Figueirense ganhou na Justiça Desportiva e o Caxias na Justiça comum o direito de subir à Série A do Brasileirão. A CBF está num impasse. Para muita gente, quem deveria ficar com a vaga é o Avaí, que, ao contrário de Figueirense e Caxias, não cometeu irregularidade. Conhecendo a cartolagem, é possível que se opte pelo inchaço da Série A, com a subida dos finalistas da Segundona: Paysandu, Figueirense, Caxias e Avaí.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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