São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOXE

Após 15 anos sem combates, Luna Park coroa campeão

Em meio à crise, Argentina revive símbolo de seus tempos áureos

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

ROBERTO DIAS
EM BUENOS AIRES

Em meio à crise, a maior de sua história, a Argentina reavivou nesse final de semana um símbolo de sua época áurea: as noites de boxe no Luna Park.
Construído para ser palco das lutas de boxe em 1932, período em que o país se gabava de ser um dos mais ricos do mundo, o ginásio não alojava um ringue desde 1987 -o escasso público levou ao fim dos combates no local.
Após quase 15 anos sem boxe, o Luna Park viveu anteontem uma noite nostálgica, uma mistura dos bons tempos com a dura realidade do lado de fora do ginásio.
Quem pagou os ingressos mais caros -os preços iam de 10 a 140 pesos (US$ 2,80 a US$ 38,90)- e levou para a beirada do ringue casacos de pele e roupas de grife teve de ouvir um pedido singelo do locutor oficial: que se apertassem para que mais gente pudesse entrar. "A empresa precisa arrecadar", justificou Jorge Morales, um dos organizadores do evento.
O antiamericanismo, alimentado pelo colapso econômico do país, também esteve lá. Ao serem anunciados, o juiz, Joe Cortez, dos EUA, e um dos três jurados, compatriota seu, foram vaiados. Ao mesmo tempo, foi um exercício de patriotismo para os argentinos, que espalharam bandeiras pelo ginásio e cantaram o hino.
Os jornais locais comemoraram o ressurgimento de um de seus símbolos. "Lua cheia", estampou o "Clarín", num trocadilho com o nome do ginásio. "Voltou uma noite", titulou o "La Nación".
Localizada no coração de Buenos Aires, próximo à Casa Rosada, a mais importante arena do boxe na América do Sul ficou praticamente lotada, com mais de 14 mil pessoas. Na platéia, além de antigos fãs e dos maiores nomes do boxe argentino, também havia muitos jovens, mulheres e crianças em busca, talvez, de esquecer o fracasso de sua seleção na Copa.
Nas tribunas, ao lado de pessoas vestidas em trajes de gala estavam famosas personalidades como o empresário e presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri, e a cantora Mercedes Sosa. Os frequentadores famosos fizeram lembrar os bons tempos do Luna Park, quando costumavam assistir aos combates o escritor Julio Cortázar e o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999).
O local também foi o palco do primeiro encontro entre o presidente Juan Domingos Perón e a jovem atriz Eva Duarte, a Evita.
Em meio às menções dos tempos difíceis, os argentinos levaram ao ringue do Luna Park boa parte da história do boxe local.
O mais lembrado foi ""Tito" Lectoure, responsável pela fundação do ginásio há 70 anos.
Houve espaço também para imagens do ex-campeão Carlos Monzón e para Daniel Perícoli, que, aos 105 anos, subiu ao ringue para ser homenageado.
Depois, um final animador para os argentinos: a vitória do lutador local Omar Narváez sobre o nicaraguense Adonis Rivas, que lhe rendeu o cinturão dos moscas da Organização Mundial de Boxe.


Texto Anterior: Perugia dá prazo para Ahn se reapresentar
Próximo Texto: Atletismo: SP vê dobradinha nacional e novas marcas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.