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BOXE
Após 15 anos sem combates, Luna Park coroa campeão
Em meio à crise, Argentina revive símbolo de seus tempos áureos
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
ROBERTO DIAS
EM BUENOS AIRES
Em meio à crise, a maior de sua
história, a Argentina reavivou
nesse final de semana um símbolo
de sua época áurea: as noites de
boxe no Luna Park.
Construído para ser palco das
lutas de boxe em 1932, período
em que o país se gabava de ser um
dos mais ricos do mundo, o ginásio não alojava um ringue desde
1987 -o escasso público levou ao
fim dos combates no local.
Após quase 15 anos sem boxe, o
Luna Park viveu anteontem uma
noite nostálgica, uma mistura dos
bons tempos com a dura realidade do lado de fora do ginásio.
Quem pagou os ingressos mais
caros -os preços iam de 10 a 140
pesos (US$ 2,80 a US$ 38,90)- e
levou para a beirada do ringue casacos de pele e roupas de grife teve
de ouvir um pedido singelo do locutor oficial: que se apertassem
para que mais gente pudesse entrar. "A empresa precisa arrecadar", justificou Jorge Morales, um
dos organizadores do evento.
O antiamericanismo, alimentado pelo colapso econômico do
país, também esteve lá. Ao serem
anunciados, o juiz, Joe Cortez, dos
EUA, e um dos três jurados, compatriota seu, foram vaiados. Ao
mesmo tempo, foi um exercício
de patriotismo para os argentinos, que espalharam bandeiras
pelo ginásio e cantaram o hino.
Os jornais locais comemoraram
o ressurgimento de um de seus
símbolos. "Lua cheia", estampou
o "Clarín", num trocadilho com o
nome do ginásio. "Voltou uma
noite", titulou o "La Nación".
Localizada no coração de Buenos Aires, próximo à Casa Rosada, a mais importante arena do
boxe na América do Sul ficou praticamente lotada, com mais de 14
mil pessoas. Na platéia, além de
antigos fãs e dos maiores nomes
do boxe argentino, também havia
muitos jovens, mulheres e crianças em busca, talvez, de esquecer
o fracasso de sua seleção na Copa.
Nas tribunas, ao lado de pessoas
vestidas em trajes de gala estavam
famosas personalidades como o
empresário e presidente do Boca
Juniors, Mauricio Macri, e a cantora Mercedes Sosa. Os frequentadores famosos fizeram lembrar
os bons tempos do Luna Park,
quando costumavam assistir aos
combates o escritor Julio Cortázar
e o ex-presidente Carlos Menem
(1989-1999).
O local também foi o palco do
primeiro encontro entre o presidente Juan Domingos Perón e a
jovem atriz Eva Duarte, a Evita.
Em meio às menções dos tempos difíceis, os argentinos levaram ao ringue do Luna Park boa
parte da história do boxe local.
O mais lembrado foi ""Tito" Lectoure, responsável pela fundação
do ginásio há 70 anos.
Houve espaço também para
imagens do ex-campeão Carlos
Monzón e para Daniel Perícoli,
que, aos 105 anos, subiu ao ringue
para ser homenageado.
Depois, um final animador para
os argentinos: a vitória do lutador
local Omar Narváez sobre o nicaraguense Adonis Rivas, que lhe
rendeu o cinturão dos moscas da
Organização Mundial de Boxe.
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