São Paulo, domingo, 15 de julho de 2007

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Maratona aquática dá 1º pódio ao país e promete

Na braçada final, Poliana perde de americana, mas fatura a prata em meio a teens

Na prova masculina, Allan do Carmo, 17, conquista o bronze e se torna o retrato da invasão de jovens na nova coqueluche olímpica

Márcia Foleto/Agência O Globo
Poliana é recebida com festa na praia de Copacabana


MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Poliana Okimoto conquistou a medalha de prata, primeira do Brasil no Pan do Rio, em uma prova que foi o retrato da nova coqueluche olímpica.
Das 16 inscritas da maratona aquática, 9 eram teens, como a campeã, a norte-americana Chloe Sutton, de 15 anos.
Mas nem o frenesi em torno da modalidade, que se tornou olímpica há dois anos e é a nova "queridinha" dos dirigentes, nem a medalha fizeram Poliana esquecer alguns percalços.
A atleta de 24 anos -a quarta mais velha de ontem-, com a medalha no pescoço, disse estar com o coração apertado. A piscina que utilizava em Santos, da Universidade Mont Serrat, será aterrada para a construção de uma loja de carros. Duas vezes vice-campeã mundial, não sabe onde treinará.
"Vou começar a procurar uma piscina agora onde quer que seja", declarou ela, que deixou o mar aos prantos.
Poliana era a principal esperança dos dirigentes para, com o ouro no Pan, alavancar a modalidade. A prova feminina foi até trocada de horário -seria realizada após a masculina.
Na areia, a atleta foi recebida por um abraço do presidente da confederação brasileira, Coaracy Nunes Filho, após ser amparada para sair do mar. Além de parabenizá-la, o dirigente quis saber se ela chorava de alegria ou de tristeza.
"Chorei porque estava emocionada. Minha última gota de suor ficou no mar. Errei na chegada. Entrou uma onda e não acertei a placa. Foi no detalhe", disse ela, que ficou apenas 0s8 atrás da primeira colocada.
O abatimento de Poliana contrastava com a alegria da sorridente norte-americana Chloe, ainda com o rosto adolescente cheio de espinhas.
"Eu ficava falando para mim o tempo todo que ia conseguir. Na braçada final, uma onda entrou e me ajudou", festejou.
A brasileira Ana Marcela, a mais jovem da prova, com 15 anos, terminou em sétimo.
Outro teen do Brasil, Allan do Carmo, 17, ganhou o bronze. "Falavam em medalha, mas não sabia de que cor. Eles deram um sprint no final, e não consegui alcançá-los. Veio o bronze, e fiquei feliz. Agora é focar na Olimpíada que é meu próximo objetivo", disse.
Único veterano da equipe nacional, Marcelo Romanelli, 31, lamentou o mal desempenho. Ele disse que um agarrão o fez perder a sunga e os saquinhos de carboidrato líquido que carregava. Sem alimento, sentiu muito cansaço.
O vencedor da prova foi o norte-americano Fran Crippen, seguido por seu compatriota Charles Peterson.
Allan é um exemplo da nova "onda" da maratona. Ele começou a treinar no mar aos oito anos, ao mesmo tempo em que nadava nas piscinas. Aos dez anos, fez a transição definitiva.
"Na piscina, eu não tenho bom rendimento. Acho que estou no caminho certo. Minha carreira ainda é longa", afirmou ele, que vai usar a medalha como incentivo para treinar.
"Eu perdi muita coisa, tive de faltar às aulas", contou o aluno do terceiro ano do ensino médio. O nadador tem apoio de programa do governo da Bahia, mas ainda precisa de investimentos dos pais para competir.
Segundo Igor Souza, chefe da equipe brasileira, os resultados de ontem são reflexo do crescimento da modalidade. "Os nadadores jovens se interessam mais por essa prova, porque é menos monótona do que a piscina, tem cenários diferentes. Cada vez mais vemos jovens como Allan e Ana Marcela."


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