São Paulo, sexta, 15 de agosto de 1997.



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Cruzeiro pode conquistar o que faltou em 76

RAUL PLASSMANN
especial para Folha

Foram várias tentativas. A primeira, em 1967. Paramos logo no primeiro obstáculo. Peñarol e Nacional. Faltou experiência internacional. O Cruzeiro era um time ainda doméstico.
Vieram outras tentativas, mas o time não vencia, as arbitragem não deixavam.
Na época, a TV não era testemunha e, por outro lado, o árbitro tinha sempre uma grande "simpatia" pelos times argentinos e uruguaios.
Por esses motivos, o time com Tostão e Dirceu Lopes não conseguiu ganhar.
Mas no dia 7 de março de 1976 começava uma nova Libertadores. Já não tínhamos mais Dirceu Lopes e Tostão, mas havia ainda um grande time.
Começamos bem. Eliminamos o Inter, campeão do Brasil com Falcão, Carpegiani, Figueroa e tudo mais.
Depois desse jogo falei para o Carpegiani: "Vocês ficaram com o Brasileiro, e nós vamos ficar com a Libertadores".
Troca justa. Os dois times eram os melhores, eram iguais. Eliminando o Inter, veio a certeza de que ninguém pararia o Cruzeiro, nem a arbitragem. E não pararam.
No dia 30 de julho de 1976 chegava a hora, em um terceiro jogo em Santiago. Tinha certeza da vitória, mas o Cruzeiro cometeu alguns erros que o River Plate não perdoou. E o jogo ficou empatado em 2 a 2.
Aconteceu então a bendita falta na meia-lua da grande área, era meio gol. O meu time tinha Nelinho. Vou ser campeão agora, pensei. Mas enquanto o meu lateral reclamava com o juiz da barreira próxima, vem o ponta Joãzinho andando devagar, toca a bola por cima da barreira e faz o terceiro gol, o gol da Libertadores, o gol que faz a gente subir às nuvens.
Enquanto o Nelinho fica procurando entender o que havia acontecido, o João corre para o vestiário e entra dizendo para o Zezé Moreira, nosso técnico: "Seu Zezé, sou demais". "Não, Você é um irresponsável, ...seu..." No dia seguinte, o João me perguntou: "Será que 'seu' Zezé ainda está chateado comigo? e o Nelinho? Acho que também está p... comigo. A outra ele bate, né Raul?" "Claro João, claro, a outra ele bate. Ninguém ficou chateado com você querido João, mas quero te dizer uma coisa: O seu Zezé tinha razão, mas foi você que nos deu a taça."
Marcamos 45 gols em 13 jogos, tomei 17. O meu time gostava muito de atacar, era melhor assim.
Vinte e um anos depois, neste 13 de agosto de 1997, o time que não tem mais Tostão, Dirceu, Nelinho, Joãzinho, mas que tem Dida, Nonato, Palhinha, Ricardinho e Elivélton, faz a "velha" Libertadores voltar para Minas. Times diferentes, mas a mesma conquista, a mesma Copa, o mesmo sabor. Agora, o Cruzeiro vai enfrentar mais uma vez um time alemão na decisão interclubes em Tóquio, o Borussia Dortmund.
Em 76, não foi possível ganhar do Bayern de Munique, de Beckenbauer, Breitner, Sepp Mayer e Gerd Muller. Era um timaço, praticamente a seleção alemã campeã do mundo de 74.
O alemão deste ano é diferente. O Cruzeiro pode vencê-lo e conquistar o que ficou faltando naquele ano de 76, o Mundial interclubes.


Raul Plassmann, é ex-goleiro e comentarista de futebol de TV



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