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Cruzeiro pode conquistar o que faltou em 76
RAUL PLASSMANN
especial para Folha
Foram várias tentativas. A
primeira, em 1967. Paramos
logo no primeiro obstáculo. Peñarol e Nacional. Faltou experiência internacional. O Cruzeiro era um time ainda doméstico.
Vieram outras tentativas,
mas o time não vencia, as arbitragem não deixavam.
Na época, a TV não era testemunha e, por outro lado, o árbitro tinha sempre uma grande
"simpatia" pelos times argentinos e uruguaios.
Por esses motivos, o time com
Tostão e Dirceu Lopes não
conseguiu ganhar.
Mas no dia 7 de março de
1976 começava uma nova Libertadores. Já não tínhamos
mais Dirceu Lopes e Tostão,
mas havia ainda um grande time.
Começamos bem. Eliminamos o Inter, campeão do Brasil
com Falcão, Carpegiani, Figueroa e tudo mais.
Depois desse jogo falei para o
Carpegiani: "Vocês ficaram
com o Brasileiro, e nós vamos
ficar com a Libertadores".
Troca justa. Os dois times
eram os melhores, eram iguais.
Eliminando o Inter, veio a certeza de que ninguém pararia o
Cruzeiro, nem a arbitragem. E
não pararam.
No dia 30 de julho de 1976
chegava a hora, em um terceiro jogo em Santiago. Tinha
certeza da vitória, mas o Cruzeiro cometeu alguns erros que
o River Plate não perdoou. E o
jogo ficou empatado em 2 a 2.
Aconteceu então a bendita
falta na meia-lua da grande
área, era meio gol. O meu time
tinha Nelinho. Vou ser campeão agora, pensei. Mas enquanto o meu lateral reclamava com o juiz da barreira próxima, vem o ponta Joãzinho
andando devagar, toca a bola
por cima da barreira e faz o
terceiro gol, o gol da Libertadores, o gol que faz a gente subir às nuvens.
Enquanto o Nelinho fica procurando entender o que havia
acontecido, o João corre para o
vestiário e entra dizendo para
o Zezé Moreira, nosso técnico:
"Seu Zezé, sou demais". "Não,
Você é um irresponsável,
...seu..." No dia seguinte, o
João me perguntou: "Será que
'seu' Zezé ainda está chateado
comigo? e o Nelinho? Acho que
também está p... comigo. A outra ele bate, né Raul?" "Claro
João, claro, a outra ele bate.
Ninguém ficou chateado com
você querido João, mas quero
te dizer uma coisa: O seu Zezé
tinha razão, mas foi você que
nos deu a taça."
Marcamos 45 gols em 13 jogos, tomei 17. O meu time gostava muito de atacar, era melhor assim.
Vinte e um anos depois, neste
13 de agosto de 1997, o time
que não tem mais Tostão, Dirceu, Nelinho, Joãzinho, mas
que tem Dida, Nonato, Palhinha, Ricardinho e Elivélton,
faz a "velha" Libertadores voltar para Minas. Times diferentes, mas a mesma conquista, a
mesma Copa, o mesmo sabor.
Agora, o Cruzeiro vai enfrentar mais uma vez um time alemão na decisão interclubes em
Tóquio, o Borussia Dortmund.
Em 76, não foi possível ganhar do Bayern de Munique,
de Beckenbauer, Breitner, Sepp
Mayer e Gerd Muller. Era um
timaço, praticamente a seleção
alemã campeã do mundo de
74.
O alemão deste ano é diferente. O Cruzeiro pode vencê-lo e conquistar o que ficou
faltando naquele ano de 76, o
Mundial interclubes.
Raul Plassmann, é ex-goleiro e comentarista de
futebol de TV
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