São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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Crise leva Brasil a procurar na lista time para a Davis

Juvenis se recusam a jogar, técnico cai e confederação chama Kirmayr, que desconhece a equipe que convocou para tentar evitar rebaixamento

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a terceira formação em menos de seis meses, o Brasil começa a pensar hoje, no escuro, em como escapar da terceira divisão da Copa Davis e não afundar de vez o tênis brasileiro na crise.
A nova lista foi formada às pressas nos últimos dias diante de um novo boicote. Desta vez, foram os juvenis que disseram não à confederação brasileira, e o capitão Ricardo Pereira deixou o cargo.
Carlos Alberto Kirmayr foi chamado para comandar o time, enquanto a CBT disparava telefonemas para jogadores seguindo a ordem no ranking mundial.
O novo capitão, que é coordenador técnico da entidade, foi contatado no domingo à noite. Pensou na proposta até anteontem, quando deu o sim. Até hoje, não viu seus pupilos em ação.
Durante esse intervalo, a entidade corria para tentar arregimentar atletas dispostos a encarar o desafio de jogar para livrar o Brasil de um novo rebaixamento.
"Entrei no cenário com o barco da confederação procurando uma direção, foi um desespero. Muitos não queriam jogar. Que bom que estes aceitaram", afirmou Kirmayr. Até o fim da tarde de ontem, ele ainda negociava a convocação para o confronto, do dia 24 ao dia 26 deste mês, contra o Peru, que leva o perdedor à terceira divisão da competição.
Ronaldo Carvalho (439º do ranking), Alexandre Camarço (541º), Leonardo Kirche (691º), e Gabriel Pitta (734º) atenderam ao chamado. Nenhum deles figura na Corrida dos Campeões.
O processo que levou Kirmayr ao comando da seleção foi iniciado na sexta-feira. Sabendo que poderia não contar com respaldo de técnicos e ex-tenistas que o haviam apoiado na última disputa, Ricardo Pereira entregou o cargo.
O antigo capitão, que assumira a equipe em julho e convocara juvenis, já sabia que não teria os atletas que perderam os duelos contra a Venezuela, pelo playoff do Zonal Americano - Diego Cubas, Bruno Rosa, Caio Zampieri e Raony Carvalho. Os tenistas também não aceitaram seguir no time diante da falta de mudanças no comando da CBT.
Pereira havia tomado a medida de convocar só atletas inexperientes para tentar contornar as pressões pelo momento político na entidade. "Eles não queriam jogar, não me aprofundei nos motivos. Mas seria complicado jogar no Brasil com os juvenis. Não continuaria sem ter respaldo do meu trabalho, como quando tive ajuda do [Fernando] Meligeni para treinar os atletas", disse ele.
Os maiores temores do antigo técnico eram a pressão política, já que os principais tenistas do país boicotaram a Davis, e a dificuldade de obter um resultado positivo diante da torcida em Brasília.
Os peruanos resolveram problemas internos com seus tenistas e terão força máxima. O principal nome será Luis Horna, atual 34º do ranking mundial.
"Eles vão sentir pressão, mas ao mesmo tempo não têm muito a perder. Quando você tem uma equipe teoricamente muito inferior, tem a chance de arriscar e surpreender. De certa forma, a pressão pelo resultado está sobre os peruanos", afirmou Kirmayr.
"A oportunidade caiu no colo deles. Devemos tirar o chapéu. Eles querem jogar. Eu aceitei o desafio porque achava que a equipe precisava de alguém disposto. Se o Brasil perder, cairá com jogadores lutando dentro de quadra."
O novo capitão, no entanto, também crê que a maior pressão será política. Não só sobre os atletas. "Sei que muitos vão hostilizá-los. Muitos vão se surpreender com a minha decisão. Mas quem é vivo, tem um coração que bate, não é pressionado pela vida?"
Kirmayr começa a comandar a equipe no domingo, quando todos se encontram em Brasília.


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