São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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TÊNIS

Todo mundo viu (inclusive a Capriati)

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Imagino como o leitor acompanhou este Aberto dos EUA. Ficou de olho nos primeiros dias e viu Gustavo Kuerten e Flávio Saretta caírem já na estréia. Foi recompensado com o desempenho de Ricardo Mello, festejando sua classificação à terceira rodada.
Imagino também que o leitor, nada bobo, se esbaldou no feriado e, ao voltar, só viu Roger Federer pela frente. Ou, se não viu, porque a correria do pós-feriado foi grande, ouviu falar só no suíço. Que ele derrotou Andre Agassi em um dos melhores jogos do ano, que chegou com folgas à final e que, então, meteu dois "pneus" em Lleyton Hewitt para conquistar seu terceiro título de Grand Slam neste ano.
E imagino que agora o leitor fecha o seu Aberto dos EUA lendo que Federer igualou feito de Mats Wilander em 1988 e que o suíço abriu mais de 400 pontos sobre Andy Roddick na Corrida.
O que o leitor provavelmente não viu, talvez nem ouviu falar, foi de um jogo na noite de terça passada, quase madrugada (e por isso impossível de ser comentada na coluna da semana passada). Foi na quadra central e teve Jennifer Capriati e Serena Williams.
Último jogo da noite, casa cheia, a partida seguia como uma das mais equilibradas da chave feminina. Williams vencera o primeiro set por 6/2, e Capriati conseguira empatar com um 6/4.
O set decisivo apenas começava quando Williams desferiu um de seus famosos backhands perfeitos. A juíza portuguesa Mariana Alves ignorou a marcação do juiz de linha e "cantou" bola fora. "Advantage Capriati", falou, ignorando a reclamação de Williams e as vaias do público, que, apesar de apoiar Capriati majoritariamente, não escondeu o constrangimento com o erro da juíza.
Em mais duas bolas a mesma coisa ocorreu. Em uma delas, um juiz de linha errou, deu fora de Williams, o estádio inteiro viu, mas a juíza manteve o erro. Na outra, outra bola perfeita, perto da linha, dentro, "cantada" fora.
Terminou assim: Capriati fechou o terceiro set e o jogo com 6/ 4, Williams ficou nervosa ("Eu não preciso ver "replay". Eu conheço meus golpes e sei que [as bolas] não foram nem perto da linha, que foram muito dentro"), a WTA admitiu que houve falha naquela partida, a organização tentou remediar, punindo a juíza, e até mesmo a portuguesa deve ter percebido os erros.
Agora, imagino o leitor perguntando por que a coluna fala desse jogo besta, e não de Roger Federer. Por dois motivos. Primeiro, porque de Federer não faltarão oportunidades de falar (ou o leitor acha que o "Federer Express" vai parar por aqui?).
Segundo, porque o leitor-boleiro sabe que, mais surpreendente do que o título do suíço, foi a atitude de Capriati. Mesmo vendo a bola boa da rival, mesmo vendo a juíza cantar as bolas erradas, mesmo vendo que todo mundo viu, a americana optou pelo silêncio cínico. No meu tempo, o tenista tinha a dignidade de cantar a bola em favor do rival. Agora, parece que só importa ganhar, a qualquer custo. Se bobear, daqui a pouco vão falar que, também no tênis, roubado é mais gostoso.

Bola cheia
As tenistas russas são definitivamente a bola da vez. Legal? Nem tanto. Mas isso é assunto para uma coluna inteira.

Bola na linha
Itajaí recebe 230 jovens para quarta etapa do Circuito Unimed.

Bola dentro
A Unisys Arena recebe no sábado 740 crianças para um "dia do tênis". É uma iniciativa da Fundação Gol de Letra e da Telefutura.

Bola boa
Marcos Daniel ficou com o título do Future de Porto Alegre. É terceira taça seguida, depois de Florianópolis e Curitiba.

E-mail reandaku@uol.com.br

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