São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011

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RITA SIZA

Quem vai ver o Pan?


Há muito a cobertura da mídia e a emoção esportiva foram para os Mundiais das modalidades

POSSO BEM entender o desinteresse geral dos europeus pelos Jogos Pan-Americanos que hoje começam em Guadalajara, mas, pelo que li, pelo menos até a véspera da competição, nenhum dos países envolvidos parecia especialmente entusiasmado com a perspectiva do arranque do evento.
Nem mesmo o anfitrião México, onde a excitação de receber cerca de 6.000 atletas de 42 países e possivelmente 800 mil ou 1 milhão de visitantes é, realmente, um alívio. Após drama e intriga política, problemas financeiros, dificuldades de planejamento, atrasos de construção e ameaça constante do narcotráfico, as autoridades mexicanas ainda tiveram de rezar até ao último minuto para o furacão Jova não estragar a festa. Aparentemente, a chuva vai acalmar e deixar que as delegações possam chegar à cidade sem problemas e a cerimónia de abertura possa decorrer sem incidentes.
Resolvido também parece estar o problema do clembuterol, um esteroide anabolizante que pelos vistos se encontra em quase toda a carne consumida pelos mexicanos -é um medicamento utilizado para engordar o gado, mas figura na lista das substâncias proibidas das agências antidoping. Para o caso, foi emitida uma recomendação para os atletas se absterem de consumir carne, e todos optimisticamente esperam não só que seja respeitada como que o "engano" não venha a ser invocado por aqueles eventualmente apanhados em falta nas análises de doping.
Ultrapassados todos obstáculos, a dúvida quanto ao entusiasmo gerado pelo torneio permanece: afinal, quem está a prestar atenção, quem vai ver este Pan? Para um evento que reúne tantos atletas, envolve mais de 30 modalidades e dura mais de duas semanas, o desinteresse não se justifica.
Mas há muito que a atracção de torneios como o Pan ou a Commonwealth vem desvanecendo, com a cobertura mediática e a emoção esportiva a transferir-se para os Mundiais das modalidades -atletismo, natação, basquete... Os atletas de elite, naturalmente, concentram-se mais nesses eventos e muitos nem se darão ao trabalho de ir ao México.
Nem o facto de o Pan oferecer a qualificação directa para Londres-12 em várias modalidades serve como atractivo especial. Mas o Pan é um bom ensaio geral da Olimpíada. Ele dá aos atletas (especialmente os inexperientes) uma boa perspectiva do que será a competição olímpica e permite aos especialistas e ao público obter uma boa ideia do estado da competição, conhecer novas promessas, confirmar valores e alimentar expectativas. Se aqui deste lado do Atlântico eu pudesse ligar a televisão e assistir, certamente não perderia.



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