São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

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PAULO VINICIUS COELHO

A morte dos pratas da casa


Do Guarani, virtual promovido à elite, aos candidatos à taça do Brasileiro-09, quase não se vê mais craque criado no clube

O SWALDO ALVAREZ , técnico do Guarani, virtualmente promovido para a Série A do Brasileirão, deu uma declaração surpreendente sobre a equipe que dirige: "Hoje, o Guarani é um time de aluguel". A afirmação veio em resposta à pergunta se seria muito árduo o trabalho de formar uma equipe competitiva para a Série A. "Estamos nas mãos de jogadores de contratos curtos, que pertencem a agentes. Hoje, nossa divisão de base é muito jovem."
O Guarani, famoso pelo time campeão brasileiro de 1978 e que construiu sua história formando jogadores em casa, não acredita mais nessa filosofia. Atribui -equivocadamente- à Lei Pelé o fato de clubes do interior deixarem de lado as divisões de base. Mas não é só do interior que os craques feitos em casa sumiram.
Em 2006, o São Paulo foi campeão brasileiro com o menor número de pratas da casa de sua história -somente o goleiro Rogério Ceni. Em nenhum outro título, o São Paulo havia sido tão estrangeiro. Hoje, triplicou o número de jogadores formados em seus centros de treinamento. Além de Rogério, tem Jean e Hernanes. É pouco.
O Flamengo construiu seu período mais vencedor à custa do investimento nos garotos. "Craque o Flamengo faz em casa" foi o slogan criado por Márcio Braga, que serviu para alavancar o time de Leandro, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico e Tita, todos criados na Gávea. A equipe campeã mundial tinha sete rubro-negros de sangue.
Em 1992, ano do último título brasileiro, a Gávea também era povoada por sete titulares com passagens pelas divisões de base. Rogério, Piá, Júnior, Zinho, Paulo Nunes, Nélio e Gaúcho. Este último fez parte de uma reportagem publicada pela revista "Placar", em 1982, em que craques como Dida e Silva, o Batuta, apontavam possíveis sucessores de Zico. Gaúcho era júnior do Flamengo, rodou o Brasil e retornou para ser campeão brasileiro. A lista dos possíveis herdeiros do Galinho também apontava Zinho.
O Flamengo pode ser campeão brasileiro com apenas dois pratas da casa entre os titulares: Aírton e Adriano. É pouco.
Depois de 2001, muitos dirigentes apontaram o fim do passe como argumento para abandonar as divisões de base. Não podiam contar com os garotos por toda a carreira.
Então, adeus investimento. À medida em que o tempo passou, ficou evidente: pior do que a situação de quem aposta é de quem precisa sair ao mercado. Esses ficam à mercê de jogadores médios. "O cofre do Atlético-MG é o Centro de Treinamento das divisões de base. É lá que nós vamos buscar dinheiro para o futuro", declara o presidente Alexandre Kalil, do Galo.
O Atlético é exceção. Dos seis melhores do Brasileirão, é o único com quatro titulares formados em casa.
Um recorde.
Não é garantia de título, longe disso. Se o Flamengo foi campeão brasileiro com sete pratas da casa, o Palmeiras bicampeão de 1972/73 só tinha Alfredo Mostarda, nascido no Parque Antarctica. Hoje, tem Marcos, Maurício e Vagner Love.
Mais do que levar ao título, a questão é levar você ao estádio. E saber onde vai nascer o jogador capaz de provocar essa vontade.

pvc@uol.com.br


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