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FUTEBOL
O chato, o justo e o imprevisível
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Vou falar de pontos corridos pela última vez! (Até parece...)
Pois bem, o argumento básico, o
ponto pacífico em defesa dos pontos corridos é o da justiça. Jogam
todos contra todos, em casa e fora, o que vencer é o melhor time
do campeonato e ponto final.
Porém... Ah, porém...
Como lembra Daniel Tisséo Nogueira (Lorena/SP), o sistema de
pontos corridos nos mostra qual é
a equipe mais regular da competição, e não necessariamente a
melhor. Exemplo dele: "Na fase
de classificação, o Santos foi o oitavo e o Juventude, o quarto. E
qual desses dois times era melhor?
O oitavo".
(Na verdade, a primeira fase do
Brasileiro-2002 não equivale exatamente a um campeonato em
pontos corridos. Ela seria só o turno; depois haveria todos os jogos
de volta. Por isso não podemos dizer, por exemplo, que "o São Paulo teria sido o campeão". Seria o
campeão do turno... E, se não
houvesse os mata-matas em seguida, obviamente o comportamento dos times nas rodadas finais seria bem diferente. Mas ela
serve nessa comparação.)
Julio Leonardo, na mesma linha, lembra que "o chato Valencia foi campeão em pontos corridos em cima de times melhores
que ele". Ou seja, temos um confronto entre "o resultado mais
justo" e "o melhor futebol", o que
faz sentido. Um time pode ser ultraburocrático, defensivo, irritante... mas eficiente e regular, e assim chegar ao título.
Só que isso pode ocorrer em mata-matas. Quantas vezes o time
mais encantador da Copa do
Mundo não levou o título?
Daniel tem outra objeção: um
time pode acabar um ponto ou
dois à frente dos outros, "e isso
não prova, necessariamente, sua
superioridade. O que é um ponto
em mais de 60 disputados? Pode-se ganhar uma partida num erro
de arbitragem. Ou então ter o seu
principal jogador machucado ou
servindo à seleção... Afinal, aqui o
campeonato não para quando a
seleção joga!".
Em defesa das finais, Daniel diz
que "só os jogos em uma situação
limite, medem, por inteiro, uma
equipe. Na tática, na técnica, no
conjunto, nas individualidades,
no condicionamento físico, na
garra, na tradição, no aspecto
emocional... Porque já não são só
jogos que valem "apenas" três pontos. São jogos que valem a glória
ou o caos, a vida ou a morte. Aí
pode não bastar ser regular. Pode
ser preciso algo a mais. Talvez seja preciso ser sublime".
Sim! Mas um jogo pode ter essas
características nos pontos corridos. Aquela história de que "todo
jogo é decisivo" é bobagem, porque a 14ª rodada nunca vai ter o
mesmo peso da última. Mas sempre vai haver um jogo que é o "x",
de vida ou morte.
Por fim, fala Emerson Marconi,
de São Paulo: "Uma competição
justa pode, sim, ser, por mais que
se tente evitar isso, profundamente, terrivelmente boçal. São coisas
da vida". São... Mas o mata-mata
também pode ser chato (alguém
aí falou no Mundial de 90? Ou na
final da Copa do Brasil de 99?)!
Nem sei se sou mais ou menos
pessimista do que o Emerson e os
demais. Tudo pode ser chato ou
não ser. Todo fragmento pode representar ou não o conjunto; todo
resultado, parcial ou final, pode
ser injusto. Meu veredicto, sujeito
a recursos: o conceito de justiça
no futebol é complicado. Jogo é jogo, implica imprevisibilidade e
risco. Inclusive o risco de ser chato
e de o melhor perder, seja qual for
a fórmula do campeonato.
Casa da sogra
Quer saber, as relações trabalhistas no futebol são o caos.
Como é que o Liédson jogou
no Flamengo, mas era 70%
do Prudentópolis e 30% do
Coritiba? É como se eu escrevesse para a Folha, mas, na
verdade, tivesse contrato
com "O Estado de S.Paulo" e
o "Diário de S.Paulo", e um
deles negociasse o meu trabalho com o "Lance!"... O atleta
precisa ter um contrato com
o time para o qual ele joga, e
não com os ex-times! Senão,
como disse o leitor Paulo Brito, "direitos federativos" são
eufemismo para o passe, ou a
posse... E como alguns atletas
"pertencem" a empresários?
Às vezes parece que o jogador
presta serviço ao empresário,
e não o contrário! Cabe ao
empresário intermediar negociações e receber sua parte,
e não ser o "dono" do atleta
-na teoria, não é, mas alguns falam como se fossem
proprietários. Ato falho?
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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