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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

O chato, o justo e o imprevisível

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Vou falar de pontos corridos pela última vez! (Até parece...)
Pois bem, o argumento básico, o ponto pacífico em defesa dos pontos corridos é o da justiça. Jogam todos contra todos, em casa e fora, o que vencer é o melhor time do campeonato e ponto final.
Porém... Ah, porém...
Como lembra Daniel Tisséo Nogueira (Lorena/SP), o sistema de pontos corridos nos mostra qual é a equipe mais regular da competição, e não necessariamente a melhor. Exemplo dele: "Na fase de classificação, o Santos foi o oitavo e o Juventude, o quarto. E qual desses dois times era melhor? O oitavo".
(Na verdade, a primeira fase do Brasileiro-2002 não equivale exatamente a um campeonato em pontos corridos. Ela seria só o turno; depois haveria todos os jogos de volta. Por isso não podemos dizer, por exemplo, que "o São Paulo teria sido o campeão". Seria o campeão do turno... E, se não houvesse os mata-matas em seguida, obviamente o comportamento dos times nas rodadas finais seria bem diferente. Mas ela serve nessa comparação.)
Julio Leonardo, na mesma linha, lembra que "o chato Valencia foi campeão em pontos corridos em cima de times melhores que ele". Ou seja, temos um confronto entre "o resultado mais justo" e "o melhor futebol", o que faz sentido. Um time pode ser ultraburocrático, defensivo, irritante... mas eficiente e regular, e assim chegar ao título.
Só que isso pode ocorrer em mata-matas. Quantas vezes o time mais encantador da Copa do Mundo não levou o título?
Daniel tem outra objeção: um time pode acabar um ponto ou dois à frente dos outros, "e isso não prova, necessariamente, sua superioridade. O que é um ponto em mais de 60 disputados? Pode-se ganhar uma partida num erro de arbitragem. Ou então ter o seu principal jogador machucado ou servindo à seleção... Afinal, aqui o campeonato não para quando a seleção joga!".
Em defesa das finais, Daniel diz que "só os jogos em uma situação limite, medem, por inteiro, uma equipe. Na tática, na técnica, no conjunto, nas individualidades, no condicionamento físico, na garra, na tradição, no aspecto emocional... Porque já não são só jogos que valem "apenas" três pontos. São jogos que valem a glória ou o caos, a vida ou a morte. Aí pode não bastar ser regular. Pode ser preciso algo a mais. Talvez seja preciso ser sublime".
Sim! Mas um jogo pode ter essas características nos pontos corridos. Aquela história de que "todo jogo é decisivo" é bobagem, porque a 14ª rodada nunca vai ter o mesmo peso da última. Mas sempre vai haver um jogo que é o "x", de vida ou morte.
Por fim, fala Emerson Marconi, de São Paulo: "Uma competição justa pode, sim, ser, por mais que se tente evitar isso, profundamente, terrivelmente boçal. São coisas da vida". São... Mas o mata-mata também pode ser chato (alguém aí falou no Mundial de 90? Ou na final da Copa do Brasil de 99?)!
Nem sei se sou mais ou menos pessimista do que o Emerson e os demais. Tudo pode ser chato ou não ser. Todo fragmento pode representar ou não o conjunto; todo resultado, parcial ou final, pode ser injusto. Meu veredicto, sujeito a recursos: o conceito de justiça no futebol é complicado. Jogo é jogo, implica imprevisibilidade e risco. Inclusive o risco de ser chato e de o melhor perder, seja qual for a fórmula do campeonato.

Casa da sogra
Quer saber, as relações trabalhistas no futebol são o caos. Como é que o Liédson jogou no Flamengo, mas era 70% do Prudentópolis e 30% do Coritiba? É como se eu escrevesse para a Folha, mas, na verdade, tivesse contrato com "O Estado de S.Paulo" e o "Diário de S.Paulo", e um deles negociasse o meu trabalho com o "Lance!"... O atleta precisa ter um contrato com o time para o qual ele joga, e não com os ex-times! Senão, como disse o leitor Paulo Brito, "direitos federativos" são eufemismo para o passe, ou a posse... E como alguns atletas "pertencem" a empresários? Às vezes parece que o jogador presta serviço ao empresário, e não o contrário! Cabe ao empresário intermediar negociações e receber sua parte, e não ser o "dono" do atleta -na teoria, não é, mas alguns falam como se fossem proprietários. Ato falho?

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