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missão impossível?
A nado, Homem-Peixe quer cruzar 5.000 km no Amazonas
Martin Strel, esportista que já venceu grandes rios no mundo, vai nadar por mais de três meses pelo Peru e pelo Brasil
Esloveno larga em fevereiro
para a travessia mais dura
da vida e diz que vai superar
dificuldades para tentar
inspirar políticos e religiosos
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três palavras passaram a
roubar o sono de Martin Strel
após sua peregrinação pela região ribeira da Amazônia.
Candiru, piranha e pororoca
assustaram um homem habituado ao perigo e colocaram em
xeque o projeto mais ambicioso
de sua carreira: percorrer, a nado, 5.430 km no rio Amazonas.
"O primeiro é um peixinho
que pode entrar no meu organismo e causar sérias doenças.
O outro pode rasgar meu traje
com os dentes. E a terceira é
uma onda impressionante capaz de me matar afogado. Tive
até pesadelos quando soube
que teria tudo isso pela frente."
Os sonhos ruins motivaram
precaução extra com as pedras
no caminho, porém não frearam o ímpeto do atleta.
No próximo dia 1º de fevereiro, em Atalaya, no Peru, ele dá a
largada para um périplo jamais
realizado. Pelo cronograma
que traçou, as braçadas acabam
somente em 11 de abril, quando
aporta em Belém, no Pará.
"Nós, maratonistas aquáticos, ficamos melhor com o tempo. Creio que reúno agora a experiência e o preparo físico e
psicológico necessários para
conquistar o Amazonas."
Strel é esloveno, mede 1,85 m
e tem uma barriga saliente. A
um olhar desapercebido, nem
parece esportista.
Mas seu currículo mostra
que o projeto atual é apenas
mais um a figurar na coleção
particular de façanhas.
Em 2000, nadou 3.000 km
no rio Danúbio, o segundo
maior da Europa. Dois anos depois, cumpriu 3.797 km no Mississipi (EUA). Por fim, em
2004, percorreu 4.000 km no
Yangtzé, na China.
Todos os feitos, que lhe renderam o apelido de Homem-Peixe, estão registrados como
recordes no livro Guiness.
"Comecei a disputar provas
longas na natação quando tinha
18 anos. Com o tempo, percebi
que queria passar horas e horas
nadando. Foi então que escolhi
seguir projetos extremos. E não
existe nada mais extremo do
que nadar no Amazonas", diz.
A afirmação está embasada
em três meses de pesquisas que
Strel e sua equipe realizaram
no Peru e no Brasil. O nadador
conversou com especialistas e
buscou relatos da população ribeirinha sobre a fauna e a flora.
Descobriu um rio repleto de
vida e criou uma equipe de quase 20 pessoas para ajudá-lo.
Enquanto estiver na água,
dois caiaques vão fazer sua escolta. Após cumprir a quilometragem programada -as distâncias variam entre 35 km e
100 km diários-, sobe em um
barco que já foi utilizado pelo
oceanógrafo francês Jacques
Cousteau (1910-1997) para dormir e receber as refeições.
"Vou nadar sempre no meio
do rio, onde a possibilidade de
encontrar peixes perigosos ou
cobras venenosas é menor. Minha equipe está precavida, e estamos levando até armas a bordo. Caso eu seja atacado, teremos como reagir", afirma.
O traje de neoprene também
é reforçado e vai cobrir todo o
corpo. Tais medidas preventivas, argumenta o nadador, minimizam riscos, porém acontecimentos fortuitos sempre
complicam projetos do gênero.
Strel traz uma reminiscência
à tona para explicar sua teoria.
Em 2004, havia feito treinamentos especiais para suportar
a água fria do Yangtzé.
As práticas surtiram efeito, e
a temperatura não o atrapalhou. Só que, durante o percurso, um redemoinho muito incomum naquela localidade o tragou para dentro d'água.
"Eu não conseguia subir, e
minha equipe nada podia fazer.
Pensei que fosse morrer. Aí, liberei o ar de dentro de meu colete salva-vidas. Aquilo propiciou um empuxo que me levou
de volta à superfície", lembra.
Falhas assim foram assimiladas. Strel e seu grupo hoje investem pesado em tecnologia.
A embarcação de 21 metros está
equipada com sistema para
monitoramento do clima e do
leito do rio. Via satélite, a equipe mantém contato com o departamento de medicina da
Universidade do Arizona
(EUA), que vai prestar consultoria em casos de acidentes.
"Nosso orçamento é de US$ 1
milhão", revela Borut Strel, filho de Martin e responsável pela captação de recursos.
Ele vai acompanhar a travessia e prevê alguns "momentos
assustadores" pelo caminho. E
declara que só a determinação
do pai é capaz de transmitir otimismo antes da empreitada.
Martin treina de três a cinco
horas por dia. Sabe que não terá
outra chance. "Os anos têm
passado depressa", conta.
Por isso, acredita que a travessia mais difícil de sua vida
precisa passar uma mensagem
inspiradora, que transcenda o
esporte. Assim, ao ser questionado sobre suas metas, responde em tom messiânico.
"Se eu posso cruzar esse rio,
então palestinos e israelenses
podem viver em paz. Se eu posso cruzar esse rio, os países
mais ricos do mundo podem
perdoar a dívida dos pobres. Se
eu posso fazer o que julgam ser
impossível, líderes religiosos e
políticos também podem."
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