São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Todo-poderoso

Teixeira, 20 anos de CBF, vira "chefão"

Sobrevivente de CPIs, presidente da confederação agora é bajulado por políticos ao conseguir trazer a Copa-14 ao país

Enquanto ex-colegas que reinaram durante décadas se aposentaram, cartola resistiu e ainda transformou inimigos em seus aliados

EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Há 20 anos, Ricardo Teixeira assumia a CBF só como o genro do então presidente da Fifa, João Havelange, escoltado por Eurico Miranda. "Fui convidado pelo Havelange para dar cobertura a ele", lembra o então diretor de futebol da entidade.
Duas décadas depois, Eurico enfrenta a aposentadoria depois de perder poder no Vasco, enquanto o homem que ele protegia hoje desfruta o seu momento de maior poder.
De lá para cá, o hoje ex-genro de Havelange encarou duas CPIs, abandonou e foi abandonado por amigos, fez de inimigos aliados, ganhou duas Copas, perdeu três, inventou técnicos, escalou atletas e aprendeu a usar a camisa da seleção para atingir seus interesses.
A cereja no bolo de aniversário de seus 20 anos no comando da confederação é a disputa de 18 Estados pelas 12 sedes da Copa do Mundo de 2014, que serão definidas neste ano.
Desde o anúncio do Mundial no Brasil, Teixeira, 61, pulverizou o passado de denúncias que o atormentaram, passou a ser cortejado por governadores e ganhou trânsito livre com o presidente Lula. No ano passado, teve ao menos um encontro com todos os governadores.
Nesse período, dizem seus aliados, fez uma entidade que sofria até com a falta de papel higiênico virar uma potência financeira. A trajetória para isso, porém, sempre sofreu questionamentos. Os principais foram as CPIs, na Câmara e no Senado, criadas em 2000, que devassaram o futebol brasileiro.
As CPIs revelaram algumas das práticas de Teixeira para se manter no poder. Análise das contas da CBF mostrou que, a partir de 1998, a entidade criou uma rede de influência política no país com doações em dinheiro (as doações seguem até hoje). Assim surgiu a bancada da bola, que agiu para que o relatório da CPI na Câmara não fosse votado. Já o relatório do Senado o acusou, entre outros crimes, de apropriação indébita dos recursos da entidade, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. O governo federal pediu a saída de Teixeira, mas a vitória na Copa-2002 e o apoio de cartolas o mantiveram.
Em sua defesa, Teixeira alegou que a CPI não provou que nenhum centavo da entidade foi para suas contas.
Para se manter no poder, conseguiu algumas de suas reeleições à base de um sistema montado com congressistas ligados a clubes e federações.
Quem acompanha o cartola desde os depoimentos no Congresso cita a CPI como um divisor de águas. Até lá, o dirigente fazia conchavos com outros cartolas, assinava viradas de mesa para evitar rebaixamentos e assegurava poder político para se reeleger seguidamente.
Teixeira não se abalou e conseguiu se aproximar até de um ex-inimigo, Aldo Rebello, que presidiu a CPI da Câmara.
Depois disso, o deputado chegou a frequentar festas da confederação. Numa delas, foi alvo de comentários maldosos de cartolas por beber à custa do presidente da CBF.
Enquanto cuidava da política interna, o cartola se fortalecia na Fifa. Seus aliados asseguram que ganhou o direito de fazer o Mundial no Brasil pelo fato de Joseph Blatter temer enfrentá-lo numa eleição. Hoje, o cartola é mais resistente aos apelos populares para trocar de técnico. Teixeira criou jogadores com status de astros. Após fracassar na Copa-2006, porém, cortou asas dos medalhões e passou a pregar "espírito amador".


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