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Todo-poderoso
Teixeira, 20 anos de CBF, vira "chefão"
Sobrevivente de CPIs, presidente da confederação agora é bajulado por políticos ao conseguir trazer a Copa-14 ao país
Enquanto ex-colegas que reinaram durante décadas se aposentaram, cartola resistiu e ainda transformou inimigos em seus aliados
EDUARDO ARRUDA
DA REPORTAGEM LOCAL
RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC
Há 20 anos, Ricardo Teixeira
assumia a CBF só como o genro
do então presidente da Fifa,
João Havelange, escoltado por
Eurico Miranda. "Fui convidado pelo Havelange para dar cobertura a ele", lembra o então
diretor de futebol da entidade.
Duas décadas depois, Eurico
enfrenta a aposentadoria depois de perder poder no Vasco,
enquanto o homem que ele
protegia hoje desfruta o seu
momento de maior poder.
De lá para cá, o hoje ex-genro
de Havelange encarou duas
CPIs, abandonou e foi abandonado por amigos, fez de inimigos aliados, ganhou duas Copas, perdeu três, inventou técnicos, escalou atletas e aprendeu a usar a camisa da seleção
para atingir seus interesses.
A cereja no bolo de aniversário de seus 20 anos no comando
da confederação é a disputa de
18 Estados pelas 12 sedes da
Copa do Mundo de 2014, que
serão definidas neste ano.
Desde o anúncio do Mundial
no Brasil, Teixeira, 61, pulverizou o passado de denúncias que
o atormentaram, passou a ser
cortejado por governadores e
ganhou trânsito livre com o
presidente Lula. No ano passado, teve ao menos um encontro
com todos os governadores.
Nesse período, dizem seus
aliados, fez uma entidade que
sofria até com a falta de papel
higiênico virar uma potência financeira. A trajetória para isso,
porém, sempre sofreu questionamentos. Os principais foram
as CPIs, na Câmara e no Senado, criadas em 2000, que devassaram o futebol brasileiro.
As CPIs revelaram algumas
das práticas de Teixeira para se
manter no poder. Análise das
contas da CBF mostrou que, a
partir de 1998, a entidade criou
uma rede de influência política
no país com doações em dinheiro (as doações seguem até
hoje). Assim surgiu a bancada
da bola, que agiu para que o relatório da CPI na Câmara não
fosse votado. Já o relatório do
Senado o acusou, entre outros
crimes, de apropriação indébita dos recursos da entidade, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. O governo federal pediu a saída de Teixeira, mas a vitória na Copa-2002 e o apoio de
cartolas o mantiveram.
Em sua defesa, Teixeira alegou que a CPI não provou que
nenhum centavo da entidade
foi para suas contas.
Para se manter no poder,
conseguiu algumas de suas reeleições à base de um sistema
montado com congressistas ligados a clubes e federações.
Quem acompanha o cartola
desde os depoimentos no Congresso cita a CPI como um divisor de águas. Até lá, o dirigente
fazia conchavos com outros
cartolas, assinava viradas de
mesa para evitar rebaixamentos e assegurava poder político
para se reeleger seguidamente.
Teixeira não se abalou e conseguiu se aproximar até de um
ex-inimigo, Aldo Rebello, que
presidiu a CPI da Câmara.
Depois disso, o deputado
chegou a frequentar festas da
confederação. Numa delas, foi
alvo de comentários maldosos
de cartolas por beber à custa do
presidente da CBF.
Enquanto cuidava da política
interna, o cartola se fortalecia
na Fifa. Seus aliados asseguram
que ganhou o direito de fazer o
Mundial no Brasil pelo fato de
Joseph Blatter temer enfrentá-lo numa eleição. Hoje, o cartola
é mais resistente aos apelos populares para trocar de técnico.
Teixeira criou jogadores com
status de astros. Após fracassar
na Copa-2006, porém, cortou
asas dos medalhões e passou a
pregar "espírito amador".
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