São Paulo, domingo, 16 de março de 2008

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TOSTÃO

Era bom, mas nem tanto


No passado, existiam menos faltas violentas, porém havia mais deslealdade, doping e superstição

AlGUNS TIPOS de graves contusões são hoje mais freqüentes que no passado.
Isso ocorre por haver mais velocidade e mais contato físico durante as partidas, pela busca da vitória e do sucesso a qualquer preço e pela moderna preparação física, que deixam os jogadores no limite entre as suas possibilidades físicas e as lesões.
Alguns atletas, por serem mais leves, correrem demais, não saberem evitar choques desnecessários e por estarem, com freqüência, desequilibrados no lance, com os dois pés fora do chão se machucam no tombo, correm mais riscos de se contundir, como tem acontecido com Nilmar, Kerlon e outros.
No passado, havia menos faltas e menos contato físico. Em compensação, como os jogadores eram pouco punidos, não existiam as dezenas de câmeras de televisão para flagrar os infratores e a imprensa era mais tolerante com os atletas violentos, havia mais deslealdade.
Existiam mais ameaças de quebrar a perna e outras intimidações. Hoje, os brucutus fazem mais faltas, algumas violentas, mas raramente têm intenção de machucar o adversário. Jogam dessa forma por falta de talento e/ou porque são indiretamente estimulados pelos treinadores, que utilizam a falta técnica para parar os lances.
A suspensão de um atleta pelo mesmo tempo que o jogador contundido ficar parado por causa de uma falta, como muitos pedem, até o presidente da Fifa, é uma conduta bem-intencionada, simpática, porém sem nenhum sentido prático, já que na maioria das vezes, mesmo com os recursos eletrônicos, é impossível dizer qual foi a intenção do infrator. Haveria muita injustiça.
No passado, para compensar as más condições físicas, por falta de treinamentos corretos e/ou pelo amadorismo dos atletas, esses, além da deslealdade, utilizavam mais que hoje de outras espertezas legais e ilegais para levar vantagens.
O doping era mais comum que hoje. Ficou apenas mais sofisticado e com maior número de drogas à disposição dos atletas.
No passado, falavam que o jogador estava calibrado. Hoje, dizem que está bombado.
Os jogadores eram também mais supersticiosos e acreditavam mais nas forças misteriosas para decidir as partidas.
Na década de 60, no Cruzeiro, havia um pai-de-santo que recebia prêmios pela vitória da equipe. Ganhava o mesmo que o craque Dirceu Lopes.
Hoje, os pais-de-santo foram substituídos pelas palestras de auto-ajuda. Os dois utilizam a mesma técnica, a da auto-sugestão. Desconfio que os especialistas do além eram mais eficientes.
Nem tudo que está na memória é lembrado. Outras vezes, lembramos de fatos que não são exatamente como aconteceram, e sim como gostaríamos de que tivessem ocorrido. Gostamos também de glamourizar as coisas. Somos todos saudosistas. Uns mais, outros menos.
Temos mais saudade de nós mesmos que do passado.
Para terminar esta coluna, não vou afirmar que os clássicos de hoje pelos torneios estaduais são muito piores do que os do passado. Havia jogos espetaculares e maior número de craques, mas existiam também muitas partidas e jogadores medíocres.


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