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FUTEBOL
A coragem seletiva do cartola
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
Têm mérito relativo e demérito absoluto as sentenças da
mais alta autoridade do futebol
paulista, Marco Polo Del Nero,
sobre o campeonato que ele mesmo organizou.
O presidente da federação
achincalhou a competição que se
encerra depois de amanhã. Em
entrevista ao repórter Fernando
Mello, disparou seu repertório de
carimbos pejorativos.
Está certo, eis o seu mérito.
Que é relativo porque demorou
a alardear a nudez do rei exposta
aos olhos de todo o reino. Permite
imaginar que soltou o verbo apenas para se diferenciar do antecessor, sob cuja direção a FPF
moldou as aberrações que fizeram desse um dos mais chumbregas Campeonatos Paulistas.
Será que esperou para ver no
que daria um torneio cuja síntese
foi a deformação pré-natal de
reunir contendores em número
ímpar? Com o fracasso, manda a
conta para Eduardo José Farah, o
velho aliado com quem rompeu
anteontem. Como escreveu Persio
Presotto no site Mandando pra
Rede, até há pouco tudo parecia
perfeito para a federação.
O demérito fundamental foram
as circunstâncias que Del Nero escolheu para se antecipar a balanços impiedosos do torneio meia-boca. Se um homem são as suas
circunstâncias, o cartola é um senhor de coragem seletiva.
Teria ele a mesma bravura caso
Palmeiras e Santos, para ficar nos
dois semifinalistas batidos, alcançassem a final? Existiriam suas
confissões tardias se o duelo derradeiro opusesse, como sonhava,
torcidas de massa no Morumbi?
A ironia das circunstâncias que
levam o dirigente da FPF a qualificar de horrível a sua própria
criatura -pai é quem cria- é
que São Caetano e Paulista antagonizam numa decisão que enriquece a história dos Paulistões.
O embate expressa o vigor do
futebol interiorano. Exalta o
triunfo conquistado em campo,
superando o árbitro que quase
impediu a vitória do time de Jundiaí sobre o Palmeiras. Opõe duas
equipes que, no Rio, deixariam
Vasco e Flamengo no caminho.
Domingo, não é só o São Caetano que pode deixar de ser o adolescente que, sem nunca arriscar o
passo adiante, dá sempre a mesma resposta sobre os progressos
com a namorada ou namorado:
já peguei na mão.
Com bola na rede, Muricy entraria no restrito primeiro time
dos técnicos brasileiros. Não tanto
pela conquista do maior Estadual, mas por levar os entretantos
do eterno peguei-na-mão aos finalmentes da mão na taça.
Do outro lado, num êxito precoce que é marca dos grandes treinadores, Zetti poderia enfeitar
seu breve currículo com um título
que muitos pares de sucesso passam a vida sem conquistar. Zetti
foi um ótimo goleiro. Pesado e
troncudo, não tinha o "physique
du rôle" para a posição. Superava
a deficiência com inteligência e
disposição insana para os treinos.
São Caetano e Paulista dão renovada prova de que, no futebol,
o talento é capaz de superar os
mais desastrosos cartolas. Têm
tudo para fazer um jogaço. Domingo é dia de ir ao Pacaembu.
O lamentável Geninho
Tudo bem: futebol é esporte de
contato físico, bafo no cangote
faz parte do jogo. Mas é inaceitável a orientação de Geninho
flagrada pela TV Globo em treino: "Ficou parado, chuta o tornozelo dele". Dias depois do
feito de Felipe ao lembrar Garrincha, o técnico do Vasco volta
a mostrar que a barbárie anda
sempre à espreita.
Os ingressos sumiram
Flamengo e Vasco mereciam
mesmo chegar à decisão no
Rio. Seus torcedores é que não
merecem penar horas em filas
infindas sem conseguir comprar ingresso para a finalíssima.
Na apoteose do campeonato, a
máfia dos cambistas faz a festa,
enquanto os clubes seguem
quebrados e os jogadores não
recebem.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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