TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Recebi o seguinte e-mail: "Caro Tostão. Estou preocupada com a bola. Peço informações sobre a bola. Estive com uma nas mãos. Achei leve demais. Lisa demais. Ouço que ela só vai em linha reta. Não dá para chutar com efeito? Não dá para fazer gol olímpico? Nossa seleção domina bem a bola? Tenho 77 anos e estou preocupada com a danada da bola". Helena.
Cara Helena. Estou também preocupado com a atual bola murcha de alguns jogadores da seleção brasileira. Só Ronaldinho Gaúcho e Kaká estão com a bola muito cheia. A do Ronaldinho está tão grande que pode estourar antes da Copa.
Mas, quando os jogadores da seleção se reúnem, trocam olhares e sorrisos de felicidades, as suas bolas costumam crescer. Diferentemente do que muitos pensam, os milionários atletas brasileiros têm muito mais alegria de jogar pela seleção do que pelos seus clubes.
Dizem que Ronaldo está um bolão. Nem tanto. E ele vai ficar fininho até o Mundial. Já Ronaldinho Gaúcho é a bola da vez. Espero que os dois e os outros estejam com a bola redonda na Copa, que comam a bola e que não pisem na bola.
Os grandes jogadores, cara Helena, costumam chutar de curva e dar efeito na bola. Isso é importante. "A expressão reta não sonha." (Manoel de Barros)
Jogador de meio-campo que não consegue dar um passe de curva e fazer a bola contornar o corpo do adversário para chegar aos pés do companheiro que está atrás nunca será um craque. Emerson não sabe fazer isso.
Da mesma forma, os melhores cruzamentos são de efeito, com a bola fazendo, subitamente, uma curva em direção ao goleiro ou saindo do goleiro para o companheiro cabecear de frente para o gol.
Cafu e Roberto Carlos, mesmo quando estavam em grande forma, não faziam isso bem, como fazem Beckham, Ronaldinho Gaúcho, Juninho e mesmo alguns modestos atletas (Correa, Anderson Lima e outros).
Tenho poucas informações técnicas sobre a bola, como pediu. Dizem que ela tem uma circunferência de 68 a 70 centímetros e um peso de 410 a 450 gramas. Para alguns, a bola pesa mais do que para outros. Ela é lisa para os atletas não terem desculpa de que não conseguem dominá-la.
O importante é tratar a bola com carinho, como faz Ronaldinho Gaúcho. A bola fica tão agradecida e enamorada que não pára de beijar os seus pés. Ronaldinho se diverte com a bola, como na infância.
A sua fantasia transita pelo espaço imaginário entre a brincadeira e a seriedade.
Antes de gostar de futebol, as crianças adoram a bola. A minha primeira foi de meia. Há hoje bolas de todos os tipos, de todas as cores, de todos os preços.
Em uma de suas deliciosas crônicas, Luis Fernando Veríssimo conta que um menino perguntou ao pai, logo após ganhar uma bola: "Tem manual de instrução; é em inglês?".
A bola deve ter surgido antes da roda. A forma esférica sempre fascinou as pessoas e está presente em todo lugar, na criação humana e na natureza.
Segundo a teoria do bigue-bangue tudo começou como uma bola de fogo. O químico britânico Harold Kroto recebeu o Prêmio Nobel em 1996 pela descoberta de uma nova forma molecular para o carbono (fulereno), que tem o formato de uma bola.
Cara Helena, não deixe de admirar a bola e de tocá-la. Se ela se transformar em uma bola de cristal, não me diga o que vai acontecer na Copa.
Perde a graça.

Clone
Não deveria fazer previsões para o Campeonato Brasileiro, pois erro todos os anos, e os leitores não esquecem. Isso não fica bem para um comentarista de certo respeito, que dizem ter sido um ótimo jogador e que é metido a entender de futebol.
Mas, como não resisto, pelo menos aposto que São Paulo, Corinthians, Internacional, Cruzeiro, Palmeiras, Santos e Goiás não vão cair para a segunda divisão do Nacional. Alguns mais radicais pensam que somente São Paulo e Corinthians têm equipes diferenciadas e que as outras 18 são quase iguais.
Na Copa do Brasil, conseguiram bons resultados, o Flamengo, dirigido pelo Oswaldo Oliveira, e o Fluminense, comandado pelo Waldemar Lemos. Ou seria o contrário? Não faz diferença.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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