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Mão dupla
Jovens brasileiros são treinados com método italiano em projetos de Milan e Internazionale
RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a debandada de craques
nacionais para a Europa, tornou-se rotina ver garotos brasileiros
com camisas de times do continente. Mas a forma de jogar dos
jovens, criativa e indisciplinada,
era a mesma. Projetos de times
italianos no país, porém, podem
mudar esta realidade.
Rivais em Milão, Internazionale
e Milan já têm programas para
crianças brasileiras, com enfoques diferentes. Ambos adotam
parte de sua metodologia de treinamento utilizada na Itália.
Em comparação com as práticas brasileiras, há mais repetições
de fundamentos (dribles e condução), mais tempo de treino, mais
exercícios físicos e mais bola na
área. O garoto também começa a
treinar mais cedo, seis anos contra sete dos brasileiros.
Nenhum dos dois clubes ensinou até agora os esquemas táticos
italianos para os jovens, pois os
projetos são embrionários. Mas
ambos prevêem a formação de
técnicos brasileiros por italianos,
nos quais isso será desenvolvido.
"É um pouco estranho que se faça isso no Brasil", disse Massimo
Moretti, presidente da Inter Futura, projeto social do clube para
crianças, de 7 a 14 anos. "Acho
que podemos ensinar coisas, o
treinamento físico, por exemplo."
Com um projeto mais abrangente, cuja prioridade é atender
crianças carentes, a Inter lançou,
no mês passado, escolinha em São
Paulo em que suas práticas são
usadas pela primeira vez. É uma
parceria com o Clube Paineiras,
do Morumbi, na zona sul.
Antes, os italianos se limitavam
a fornecer camisas e pagar treinadores, em núcleos pelo mundo e
outros lugares do Brasil. Agora, o
técnico das divisões de base, Aldo
Montinari, viajou para dar instruções aos professores brasileiros.
Há três semanas, começaram a
ser feitas mudanças nas práticas
dos professores. A repetição de
lances e os treinos físicos dividiram opiniões entre os alunos.
"Prefiro assim. Estamos treinando mais condicionamento e o
coletivo é mais pesado", afirmou
o estudante André Fernandes, 14.
"Aos poucos, acho que vamos
melhorar o nosso jogo."
Mas o coordenador da escolinha, Reginaldo Teixeira, identificou resistência entre os garotos
que não queriam ficar repetindo
fundamentos -havia previsão de
sessões de 45 minutos de condução, por exemplo.
"Aqui o garoto acha que já sabe
conduzir a bola. Não consegue ficar tanto tempo assim treinando", explicou ele. "Lá, eles repetem à exaustão."
Os italianos ainda prevêem ciclos de treinamento, de três meses
a seis meses. O objetivo é concluí-los antes do inverno. No Brasil, há
programação diária -a temperatura não impede o futebol.
Com as reclamações de alguns
garotos, Teixeira começou a fazer
modificações, misturando o método italiano com o que já praticava. Sua intenção é criar um curso
híbrido e mostrá-los aos italianos.
No futuro, alguns professores
brasileiros devem ir à Itália para
conhecer as divisões de base da
Inter. Por lá, funcionam 60 núcleos pelo país, todos treinando
da forma determinada por um
corpo de técnicos central.
Garotos também devem fazer
temporadas na Itália, incluindo os
carentes que serão treinados no
Itaim Paulista, com parte dos custos bancados pelo Paineiras.
O projeto do Milan é mais comercial do que o do rival: é uma
colônia de férias para crianças
abastadas de todo o mundo, de
oito a 13 anos, com o objetivo de
divulgar sua marca.
No "Milan Júnior Camp", nome
do programa, treinadores brasileiros também recebem instruções de técnicos italianos. O método é inspirado nas divisões de
base da equipe, mas sem a competitividade dos juvenis milaneses. Em julho, deve haver uma clínica para técnicos locais com profissionais do Milan.
"A idéia não é o treinamento do
garoto para competir", explicou o
ex-jogador Leonardo, dirigente
milanista. "No futuro, vamos estabelecer uma organização de técnicos locais", conta ele.
Hoje, nenhum dos dois clubes
diz ter o objetivo de formar jogadores para suas equipes. Mas não
descartam que seus projetos caminhem nessa direção ou que algum garoto que se destaque acabe
na Itália. Afinal, seria um brasileiro, habilidoso, já adaptado à retranca e à força italiana.
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