São Paulo, sexta, 16 de abril de 1999

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A noite em que Germano lembrou o Satanás

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Carlos Germano lembrou o lendário goleiro Tuffy, o Satanás, apelido que ganhou por jogar inteiramente de preto, nos anos 20 e 30.
Se eu vi Tuffy jogar? Mas é claro que sim, pelos olhos e pela boca de meu saudoso pai.
Ele contava que Tuffy Neugen, mais que as mãos, usava a munheca como ninguém.
Socava a bola em suas saídas de gol e a mandava quase na intermediária do campo -e defendia com o pulso todas as bolas à queima-roupa.
Tuffy jogou três anos no Corinthians, foi tricampeão paulista e só perdeu 3 das 46 partidas que disputou pelo alvinegro. Um fenômeno.
Antes, havia jogado no América de Recife, no Palmeiras (não confundir com o atual), no Sírio, no Santos e, é claro, na seleção brasileira.
Talvez o velho exagerasse um pouco ao falar das qualidades de Tuffy, um dos poucos craques de origem árabe a fazer sucesso no futebol brasileiro.
Mas certamente não há exagero algum em afirmar que o vascaíno Carlos Germano teve uma atuação simplesmente histórica no Parque Antarctica anteontem.
Até por sua gélida reação no gol esquisito que tomou.
Se falhou ali ou não, é o que menos importa.
O que importa é que, como Gilmar dos Santos Neves, outro fabuloso goleiro que defendeu o Corinthians, o Santos e a seleção nos anos 50 e 60 (e esse eu vi com meus próprios olhos), Germano passou para seus companheiros a imensa tranquilidade de que não haveria em seu lado outro gol, eles que fossem buscar o empate sem receio.
E, ao defender com a munheca a cabeçada de Cléber, na linha fatal, lembrou Gordon Banks, o maravilhoso goleiro inglês na Copa de 70.
Frio, sem gestos parasitas, Carlos Germano é hoje um dos melhores goleiros do mundo, se não for o melhor.
Fazia muito tempo que o Brasil não tinha nada parecido com a camisa 1.

A expulsão infantil do extraordinário Felipe pode custar o bi da Libertadores ao impressionante time do Vasco.
Que, um dia, a cabeça de Felipe, mais madura, funcione como seus pés.

E Palmeiras e Vasco fizeram o jogo que deles se esperava.
De errado mesmo apenas o escasso placar.
Um 3 a 3 teria sido muito mais apropriado ao espetáculo que foi.

As emissoras de rádio de São Paulo acabaram dando uma bela bobeada anteontem.
Sem contar com a descabida exigência de US$ 500 mil feita pela TV boliviana para gerar as imagens do jogo do Corinthians -o que levou a Globo, a Sportv e a ESPN Brasil, pegas de surpresa, a não transmitir a partida-, nenhuma rádio mandou equipe para Cochabamba -e todas narraram o mesmo Palmeiras e Vasco que a Rede Globo punha no ar também para São Paulo.
Salvou-se, parcialmente, apenas a rádio Globo, que, ao menos, tinha um repórter acompanhando as agruras alvinegras na altitude.

E o campeão brasileiro, agora, está numa situação melhor até do que a do Vasco, já que o Jorge Wilsterman não é nada.


Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às sextas-feiras



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