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A noite em que Germano lembrou o Satanás
JUCA KFOURI
Colunista da Folha
Carlos Germano lembrou o
lendário goleiro Tuffy, o Satanás, apelido que ganhou por jogar inteiramente de preto, nos
anos 20 e 30.
Se eu vi Tuffy jogar? Mas é
claro que sim, pelos olhos e pela
boca de meu saudoso pai.
Ele contava que Tuffy Neugen,
mais que as mãos, usava a munheca como ninguém.
Socava a bola em suas saídas
de gol e a mandava quase na intermediária do campo -e defendia com o pulso todas as bolas à queima-roupa.
Tuffy jogou três anos no Corinthians, foi tricampeão paulista e só perdeu 3 das 46 partidas que disputou pelo alvinegro. Um fenômeno.
Antes, havia jogado no América de Recife, no Palmeiras (não
confundir com o atual), no Sírio, no Santos e, é claro, na seleção brasileira.
Talvez o velho exagerasse um
pouco ao falar das qualidades
de Tuffy, um dos poucos craques
de origem árabe a fazer sucesso
no futebol brasileiro.
Mas certamente não há exagero algum em afirmar que o vascaíno Carlos Germano teve
uma atuação simplesmente histórica no Parque Antarctica anteontem.
Até por sua gélida reação no
gol esquisito que tomou.
Se falhou ali ou não, é o que
menos importa.
O que importa é que, como
Gilmar dos Santos Neves, outro
fabuloso goleiro que defendeu o
Corinthians, o Santos e a seleção nos anos 50 e 60 (e esse eu vi
com meus próprios olhos), Germano passou para seus companheiros a imensa tranquilidade
de que não haveria em seu lado
outro gol, eles que fossem buscar o empate sem receio.
E, ao defender com a munheca
a cabeçada de Cléber, na linha
fatal, lembrou Gordon Banks, o
maravilhoso goleiro inglês na
Copa de 70.
Frio, sem gestos parasitas,
Carlos Germano é hoje um dos
melhores goleiros do mundo, se
não for o melhor.
Fazia muito tempo que o Brasil não tinha nada parecido com
a camisa 1.
A expulsão infantil do extraordinário Felipe pode custar
o bi da Libertadores ao impressionante time do Vasco.
Que, um dia, a cabeça de Felipe, mais madura, funcione como seus pés.
E Palmeiras e Vasco fizeram o
jogo que deles se esperava.
De errado mesmo apenas o
escasso placar.
Um 3 a 3 teria sido muito
mais apropriado ao espetáculo
que foi.
As emissoras de rádio de São
Paulo acabaram dando uma
bela bobeada anteontem.
Sem contar com a descabida
exigência de US$ 500 mil feita
pela TV boliviana para gerar
as imagens do jogo do Corinthians -o que levou a Globo, a
Sportv e a ESPN Brasil, pegas
de surpresa, a não transmitir a
partida-, nenhuma rádio
mandou equipe para Cochabamba -e todas narraram o
mesmo Palmeiras e Vasco que
a Rede Globo punha no ar também para São Paulo.
Salvou-se, parcialmente, apenas a rádio Globo, que, ao menos, tinha um repórter acompanhando as agruras alvinegras na altitude.
E o campeão brasileiro, agora, está numa situação melhor
até do que a do Vasco, já que o
Jorge Wilsterman não é nada.
Juca Kfouri escreve aos domingos, às terças e às
sextas-feiras
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