São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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TOSTÃO

Melhor jeito de jogar

Será que não está na hora de o Barcelona e Ronaldinho mudarem a maneira de jogar, pois ela ficou muito manjada?

UM DOS conceitos do futebol atual é o de que os jogadores precisam atuar bem em mais de uma posição e exercer várias funções em campo. É uma meia verdade. Millôr Fernandes já disse que o perigo da meia verdade é você dizer a metade que é mentira.
Todo jogador precisa encontrar também o seu melhor jeito de atuar, que é só seu, como ocorre hoje com Zé Roberto, no Santos. Antes do Mundial de 94, Raí era o melhor jogador brasileiro atuando de meia avançado, perto do gol. Na Copa, Parreira o escalou na meia direita, marcando no próprio campo para depois chegar ao ataque. Nunca daria certo, pois ele não tinha mobilidade para tanto. Acabou barrado. Na época, diziam que Raí jogava mal devido a problemas psicológicos. Quando chegou ao West Ham, Tevez foi escalado pelo técnico Alan Pardew na meia direita, com a obrigação de correr atrás do lateral adversário. Ele e o time foram um fracasso. Aí entrou um novo técnico, Alan Curbishley, que treinava o Charlton, que passou a ser dirigido por Alan Pardew.
O novo técnico do West Ham fez várias modificações e pôs o Tevez onde ele sabe jogar, no ataque. Tevez cresceu, fez gols decisivos, e o time ficou livre do rebaixamento. Enquanto isso, o Charlton foi rebaixado. Alan Pardew deveria ser proibido de treinar um time da primeira divisão durante alguns anos, até aprender. O técnico Rijkaard, do Barcelona, não queria no início a contratação de Ronaldinho porque não via nele características para atuar no seu esquema tático. Como todo técnico holandês, ele escalava a equipe com três no meio-campo e três atacantes (um de cada lado e o centroavante).
Rijkaard colocou Ronaldinho na ponta esquerda, numa posição que ele nunca tinha jogado, com liberdade para se movimentar, e ele fascinou o mundo. Será que não está na hora de o time e de Ronaldinho mudarem a maneira de jogar, pois ela ficou muito manjada? Aconteceu o mesmo com Rivaldo no Barcelona. O time era dirigido também por um holandês (Van Gaal), que tirou o Rivaldo do meio e o pôs na ponta esquerda, contra a vontade do jogador. Rivaldo se tornou também o melhor do mundo.
Kaká quase sempre atuou no São Paulo e no Milan como um meia de ligação. No atual Milan, ele joga diferente, mais adiantado, entre o centroavante e o meia de ligação (Seedorf) e sem precisar recuar para marcar no meio-campo. Kaká é hoje, merecidamente, o favorito para ganhar o título deste ano de melhor do mundo. Já na Copa de 2006, Kaká, aberto pela direita, e Ronaldinho, pela esquerda, tinham a obrigação também de marcar no meio-campo. Os dois foram muito mal.
Existem dezenas de exemplos de jogadores que melhoram ou pioram por causa de detalhes na maneira de jogar. Há também alguns que brilham em mais de uma posição e outros que não brilham em nenhuma. Existem ainda os que realizam várias funções, fazem tudo que o técnico manda e se tornam craques, mas só na prancheta dos treinadores. Como diz a imortal música escrita por Paul Anka, cantada por Frank Sinatra: "I did it my way" ("Fiz do meu jeito"). Cada um deve procurar o seu jeito de fazer e de viver.

tostao.folha@uol.com.br


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