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TOSTÃO
Melhor jeito de jogar
Será que não está na hora de o Barcelona e Ronaldinho mudarem a maneira de jogar, pois ela ficou muito manjada?
UM DOS conceitos do futebol
atual é o de que os jogadores
precisam atuar bem em mais
de uma posição e exercer várias funções em campo. É uma meia verdade. Millôr Fernandes já disse que o
perigo da meia verdade é você dizer
a metade que é mentira.
Todo jogador precisa encontrar
também o seu melhor jeito de atuar,
que é só seu, como ocorre hoje com
Zé Roberto, no Santos.
Antes do Mundial de 94, Raí era o
melhor jogador brasileiro atuando
de meia avançado, perto do gol. Na
Copa, Parreira o escalou na meia direita, marcando no próprio campo
para depois chegar ao ataque. Nunca
daria certo, pois ele não tinha mobilidade para tanto. Acabou barrado.
Na época, diziam que Raí jogava mal
devido a problemas psicológicos.
Quando chegou ao West Ham, Tevez foi escalado pelo técnico Alan
Pardew na meia direita, com a obrigação de correr atrás do lateral adversário. Ele e o time foram um fracasso. Aí entrou um novo técnico,
Alan Curbishley, que treinava o
Charlton, que passou a ser dirigido
por Alan Pardew.
O novo técnico do West Ham fez
várias modificações e pôs o Tevez
onde ele sabe jogar, no ataque. Tevez
cresceu, fez gols decisivos, e o time
ficou livre do rebaixamento.
Enquanto isso, o Charlton foi rebaixado. Alan Pardew deveria ser
proibido de treinar um time da primeira divisão durante alguns anos,
até aprender.
O técnico Rijkaard, do Barcelona,
não queria no início a contratação
de Ronaldinho porque não via nele
características para atuar no seu esquema tático. Como todo técnico
holandês, ele escalava a equipe com
três no meio-campo e três atacantes
(um de cada lado e o centroavante).
Rijkaard colocou Ronaldinho na
ponta esquerda, numa posição que
ele nunca tinha jogado, com liberdade para se movimentar, e ele fascinou o mundo. Será que não está na
hora de o time e de Ronaldinho mudarem a maneira de jogar, pois ela ficou muito manjada?
Aconteceu o mesmo com Rivaldo
no Barcelona. O time era dirigido
também por um holandês (Van
Gaal), que tirou o Rivaldo do meio e
o pôs na ponta esquerda, contra a
vontade do jogador. Rivaldo se tornou também o melhor do mundo.
Kaká quase sempre atuou no São
Paulo e no Milan como um meia de
ligação. No atual Milan, ele joga diferente, mais adiantado, entre o centroavante e o meia de ligação (Seedorf) e sem precisar recuar para
marcar no meio-campo. Kaká é hoje, merecidamente, o favorito para
ganhar o título deste ano de melhor
do mundo. Já na Copa de 2006, Kaká, aberto pela direita, e Ronaldinho,
pela esquerda, tinham a obrigação
também de marcar no meio-campo.
Os dois foram muito mal.
Existem dezenas de exemplos de
jogadores que melhoram ou pioram
por causa de detalhes na maneira de
jogar. Há também alguns que brilham em mais de uma posição e outros que não brilham em nenhuma.
Existem ainda os que realizam várias funções, fazem tudo que o técnico manda e se tornam craques, mas
só na prancheta dos treinadores.
Como diz a imortal música escrita
por Paul Anka, cantada por Frank
Sinatra: "I did it my way" ("Fiz do
meu jeito"). Cada um deve procurar
o seu jeito de fazer e de viver.
tostao.folha@uol.com.br
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