São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Extraordinários e comuns


Ronaldo e Marcos mostraram nos últimos dias por que são os jogadores que mais encantam o público

MARCOS E Ronaldo. Nenhum outro jogador brasileiro de futebol tem hoje o poder que eles têm de comover o público.
Na vitória do Palmeiras sobre o Sport na Libertadores, terça-feira à noite, Marcos voltou a impressionar a torcida por sua extrema competência em campo e por sua tocante transparência fora dele. O sorriso de menino, as palavras simples e diretas, o brilho dos olhos, tudo não deixa dúvida: estamos diante de uma pessoa de verdade, e das mais belas.
Corta para Ronaldo na sabatina da Folha, ontem de manhã. Os entrevistadores, que estão entre os jornalistas mais gabaritados deste país, até que tentaram cutucá-lo com questões incômodas (Ricardo Teixeira, travestis, baladas, propaganda de cerveja), mas era visível o fascínio exercido sobre eles por aquele personagem ao mesmo tempo extraordinário e comum.
Sorridente, elegante, gentil e extremamente articulado, Ronaldo driblou algumas perguntas, respondeu outras com os clichês de sempre, adulou um pouco a Rede Globo, mas acabou fazendo algumas revelações surpreendentes.
Por exemplo: elegeu o belga Luc Nilis, seu colega no holandês PSV Eindhoven, como o melhor parceiro de ataque com quem atuou.
Para quem jogou ao lado de Romário, Bebeto, Raúl e Zamorano, entre tantos outros, não deixa de ser uma declaração corajosa.
Igualmente corajosa foi sua definição de Ricardo Teixeira como um indivíduo de caráter duplo, que nas vitórias levanta a taça com os jogadores e nas derrotas busca um deles como bode expiatório.
Tenho para mim que, depois de passar por tudo o que passou, Ronaldo aos poucos está deixando de lado a diplomacia, a correção política, e se tornando mais franco.
Mas ainda é possível perceber um cuidado muito grande antes de cada frase, uma clara preocupação com a repercussão que suas palavras podem adquirir.
Nisso ele (ainda) está distante de Marcos, que fala o que lhe vem à cabeça e ao coração. Essa postura não lapidada, quase rústica, do goleirão palmeirense é uma de suas virtudes mais encantadoras.
Ronaldo e Marcos foram, individualmente, os maiores responsáveis pela conquista da Copa de 2002, o primeiro com seus gols, o segundo com suas defesas. Ninguém discute a excelência de ambos em suas respectivas funções.
Fora de campo, não pode haver personagens mais diferentes. Um correu o mundo, virou celebridade internacional, teve e ainda tem a vida privada exposta cruamente na mídia. O outro praticamente não saiu do eixo Oriente (SP)-Parque Antarctica e mantém seu dia a dia pessoal distante dos holofotes.
No entanto, ambos têm em comum, além do carisma, a imagem de batalhadores, de gente que conquista diariamente seu lugar ao sol à custa de esforço e talento.
É esse o seu "exemplo", é isso o que têm a oferecer ao mundo. Não interessa se vão para a cama com celebridades, travestis ou mulheres infláveis, se bebem cerveja, uísque ou guaraná, se andam de Ferrari ou fusquinha. O que importa é que fazem como ninguém aquilo que sabem fazer e com isso tornam menos bruto o gênero humano.

jgcouto@uol.com.br


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