São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Vans assustam mais que terrorismo

Motoristas de lotações sabotam corredor de ônibus em Johannesburgo com violência e viram maior ameaça à Copa-10

Para especialistas, chance de ataque terrorista ou confusão por conflitos raciais durante o Mundial sul-africano é pequena

DE JOHANNESBURGO

Greves, protestos, conflitos raciais e ataques terroristas estão na lista de eventos imponderáveis que podem se somar à violência urbana na África do Sul, durante a Copa do Mundo. A possibilidade de que atinjam turistas, segundo especialistas, é pequena, no entanto.
Um alvo recente tem sido o novo sistema de corredores de ônibus em Johannesburgo, chamado de Rea Vaya ("estamos nos movendo"). Uma linha rápida que liga os dois estádios da cidade usados na Copa, Ellis Park e Soccer City.
A intenção do comitê organizador era que fosse uma opção para torcedores, mas uma série de ataques sofridos pelo sistema colocou isso em dúvida.
Em março, a casa de um motorista foi incendiada. Há duas semanas, tiros foram disparados contra um ônibus, deixando um morto.
Os principais suspeitos são donos de vans de lotação, furiosos com a concorrência. Foi o suficiente para deixar passageiros ressabiados. "Estou com medo, estou preocupada. Alguém pode simplesmente me dar um tiro", disse Tumelo Modisha, esperando um ônibus no centro de Johannesburgo.
O prefeito de Johannesburgo, Amos Masondo, prometeu "fazer tudo o que for possível" para dar maior proteção aos passageiros, incluindo colocar policiais à paisana dentro dos ônibus e veículos os escoltando em áreas mais perigosas. "Vamos caçar essas pessoas e lidar com elas de maneira muito dura", disse ele à Folha.
Passageiro frequente do sistema, o técnico em eletrônica Steven Pholosi afirma que a presença policial não é frequente nos ônibus. "Acho que a polícia tem outras coisas para cuidar", declara.
Os motoristas de vans ameaçam fazer greve durante a Copa, assim como outras categorias, aproveitando a visibilidade do evento e a vulnerabilidade do governo neste momento.

Favelas
Uma ameaça igualmente concreta é a de que ocorram protestos violentos em favelas.
"Até o fim do apartheid, há apenas 16 anos, toda política era feita por meio de protestos. Essa tradição se mantém", diz Yvette Geyer, do Instituto para Democracia na África do Sul.
Todos os anos, centenas de manifestações pedindo serviços básicos como habitação e saneamento, e protestando contra corrupção de autoridades locais, ocorrem pelo país. Algumas se tornam violentas. Há dois anos, elas foram contaminadas por uma onda de xenofobia, que deixou mais de 60 estrangeiros mortos.
A possibilidade de um conflito racial no país é pequena, mesmo com os acontecimentos dos últimos meses. O assassinato de Eugene Terreblanche, líder de um grupo radical branco por um trabalhador negro aumentou, tensões latentes entre as diversas raças que formam o país. Na semana passada, cinco radicais brancos foram presos por suspeita de envolvimento com um plano para colocar bombas em favelas.
Quanto a um ataque terrorista da Al Qaeda, a polícia diz que "não vai baixar a guarda". Mas ninguém leva a sério a possibilidade. (FÁBIO ZANINI)

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