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FUTEBOL
Chico, eterno craque
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No sábado, Chico Buarque
completa 60 anos. Lá vai ele
pelo calçadão no Leblon, com as
pernas finas, o andar rápido, a
cabeça em pé (como os craques) e
a habilidade para driblar os curiosos marcadores. Ninguém consegue pará-lo. Ele é "imarcável".
Na minha casa, tenho reproduções em miniaturas de pessoas
que, durante a minha vida, me
emocionaram, me encantaram,
embalaram os meus sonhos e iluminaram o meu caminho com as
suas obras. São os meus ídolos.
Além do Chico, lá estão os Beatles, Clarice Lispector, Freud,
Charles Chaplin, Che Guevara,
Fernando Pessoa, o personagem
Dom Quixote, o sindicalista Lula.
Faltam muitos outros, como o jogador Pelé, Hermann Hesse, Van
Gogh, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge
Amado.
Um dos momentos que mais me
alegraram e me deixaram orgulhoso foi participar, convidado
pelo Chico Buarque, de uma gravação, ao seu lado e do Fernando
Calazans, para um DVD, no campo em que ele joga futebol.
Por falta de condições físicas,
não pude trocar tabelas com o
Chico. Faríamos uma boa dupla.
Coloquei ainda os meus pés no
hall da fama criado pelo Chico
para homenagear os seus craques.
Foi a minha glória.
Antes da Copa de 98, entrevistei
o Chico em Paris para um programa da ESPN Brasil. Assim como o
"Pedro Pedreiro", que sonhava
com alguma coisa maior do que o
mundo, Chico sonha com um time só com atacantes e muitos
gols. Eu também, mas, como sou
um analista metido a entender de
detalhes técnicos e táticos, sou refém da realidade. A ESPN Brasil
vai mostrar um especial no próximo sábado sobre a relação do
Chico com o futebol.
Na mesma época, Chico participou do programa "Linha de Passe", da ESPN Brasil. Vi como é difícil, devido à ansiedade, para ele
dar entrevistas ao vivo, mesmo
sobre futebol. Sofro também nessa
situação. Por esse e outros motivos, parei de trabalhar na TV.
Quanto mais o Chico deseja o
anonimato e a liberdade, fica
mais famoso. Ele não quer ser
uma celebridade, um mito, nem
referência ética, como é. Chico
quer ser gente e ter o direito de ficar em silêncio ou dizer e fazer
coisas que muitos não gostam.
Deixem em paz o seu coração.
Já foi muito pior
Após a primeira rodada da Eurocopa, ficou mais evidente que o
antigo esquema com três zagueiros, bastante utilizado pelos técnicos brasileiros, está em desuso
na Europa. A maioria absoluta
das seleções joga com uma linha
de quatro defensores.
Diferentemente do Brasil, os laterais europeus apóiam pouco.
São defensores. Os que avançam
mais não têm habilidade. Como
eles se preocupam muito em fazer
a cobertura dos zagueiros, os dois
volantes marcam mais à frente,
em linha. Não há o primeiro e o
segundo volantes, como no Brasil.
Um dos trunfos da seleção brasileira é avançar com os dois laterais, às vezes ao mesmo tempo.
Um dos volantes fica mais atrás,
quase como um terceiro zagueiro.
Isso torna o time mais ofensivo e
com mais jogadas pelos lados. Defensivamente, nem sempre funciona, já que o volante, com freqüência, chega atrasado na cobertura dos laterais.
No meio-campo, quase todas as
seleções da Europa formam outra
linha de quatro, com dois volantes e um armador de cada lado. Se
essas duas linhas ficam muito recuadas, como fez a Inglaterra
contra a França, o time fica muito
defensivo. A França marca mais
na frente. Por isso é uma equipe
mais equilibrada. Já a Bulgária
colocou as duas linhas muito
adiantadas e deixou grandes espaços nas costas dos zagueiros para os lançamentos. Saíram assim
as principais jogadas da Suécia
na goleada por 5 a 0.
A Itália jogou contra a Dinamarca com três no meio-campo e
o Totti na ligação com os dois atacantes. Assim atua o Brasil. O
único ótimo volante da Itália
(Pirlo) ficou na reserva. Deve ser
porque ele desarma, passa e finaliza bem de fora da área. Para o
técnico, é proibido fazer tudo isso.
Espanha e Portugal atuam com
dois volantes, três meias e um
centroavante. Os dois e mais a Dinamarca utilizam atletas pelos
lados que marcam e avançam como pontas. Na primeira rodada,
as seleções não encantaram nem
decepcionaram. Jogaram o que
sabem. O futebol já esteve muito
pior, nas décadas de 80 e 90,
quando a vitória valia dois pontos. Empate era bom. Um time esperava o outro, e nada acontecia.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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