São Paulo, sexta-feira, 16 de junho de 2006

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Torcida vibra, bebe, se pinta e alerta Brasil

RICARDO LACERDA BAITELO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GUAYAQUIL

O torcedor equatoriano está zonzo. Ainda não sabe se vibra mais com a classificação para as oitavas-de-final ou se comemora a inusitada e provisória primeira colocação no Grupo A. Na dúvida, ri. E festeja. E bebe cerveja num carnaval pelas cidades.
Ontem, o mantra "si se puede" (sim, é possível), comumente usado para empurrar a seleção, foi substituído por "si se pudo" (sim, foi possível). Pelas ruas de Guayaquil, capital financeira do país e maior cidade equatoriana, com cerca de 2 milhões de habitantes, torcedores gritavam "Equador en la final!" ou "Cuídate, Brasil!", uma advertência ao mais badalado time do continente.
Foi a explosão de uma sensação que começou a surgir na semana passada, após a vitória sobre a Polônia, e que não tem paralelo na história esportiva do país. Até ontem, a maior manifestação por um feito do esporte equatoriano havia acontecido em novembro de 2004, quando o time dos ídolos Delgado e Kaviedes derrotou a seleção brasileira, em Quito, pelas eliminatórias do Mundial.
Assim, pouco a pouco, a Copa vem se tornando, no Equador, uma obsessão similar à registrada no Brasil.
Na última sexta, o jogo contra a Polônia acabou às 16h locais. O resultado: a população enforcou a segunda metade da tarde e promoveu um final de semana prolongado, regado a muita cerveja.
Ontem, para se precaverem de prováveis baixas, empresas tentavam convencer seus empregados a chegarem ao trabalho antes do jogo contra a Costa Rica (8h locais), sob o argumento de que, se a seleção equatoriana está trabalhando, todos deveriam fazer o mesmo.
Algumas fábricas ou escritórios chegaram a oferecer cafés da manhã como forma de atrair seus funcionários.
A estratégia funcionou em parte. Grandes grupos se reuniram nas fábricas para assistir à partida. Mas o contingente nas avenidas das cidades também era imenso.
Torcedores, trabalhando ou não, que ouviram o eufórico narrador equatoriano, direto de Hamburgo, proclamar que tinha a impressão de estar no estádio de Atahualpa em Quito, tamanha a vibração da torcida e a confiança da seleção no jogo.
Após os 3 a 0, foi praticamente impossível reter os funcionários. Na avenida Nueve de Octubre, no centro de Guayaquil, carros disparando buzinas e pedestres-foliões-torcedores tomaram todos os espaços. No bairro de Urdesa, mais sofisticado, a euforia não foi diferente.
Vendedores de cerveja, porém, enfrentaram nova concorrência. Por US$ 0,50, torcedores podiam receber, no rosto, a pintura da bandeira, tal qual goleiro Mora, um dos heróis na Alemanha.


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