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Torcida vibra,
bebe, se pinta
e alerta Brasil
RICARDO LACERDA BAITELO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GUAYAQUIL
O torcedor equatoriano está zonzo. Ainda não sabe se
vibra mais com a classificação para as oitavas-de-final
ou se comemora a inusitada
e provisória primeira colocação no Grupo A. Na dúvida,
ri. E festeja. E bebe cerveja
num carnaval pelas cidades.
Ontem, o mantra "si se
puede" (sim, é possível), comumente usado para empurrar a seleção, foi substituído por "si se pudo" (sim,
foi possível). Pelas ruas de
Guayaquil, capital financeira
do país e maior cidade equatoriana, com cerca de 2 milhões de habitantes, torcedores gritavam "Equador en la
final!" ou "Cuídate, Brasil!",
uma advertência ao mais badalado time do continente.
Foi a explosão de uma sensação que começou a surgir
na semana passada, após a
vitória sobre a Polônia, e que
não tem paralelo na história
esportiva do país. Até ontem,
a maior manifestação por
um feito do esporte equatoriano havia acontecido em
novembro de 2004, quando o
time dos ídolos Delgado e
Kaviedes derrotou a seleção
brasileira, em Quito, pelas
eliminatórias do Mundial.
Assim, pouco a pouco, a
Copa vem se tornando, no
Equador, uma obsessão similar à registrada no Brasil.
Na última sexta, o jogo
contra a Polônia acabou às
16h locais. O resultado: a população enforcou a segunda
metade da tarde e promoveu
um final de semana prolongado, regado a muita cerveja.
Ontem, para se precaverem de prováveis baixas, empresas tentavam convencer
seus empregados a chegarem
ao trabalho antes do jogo
contra a Costa Rica (8h locais), sob o argumento de
que, se a seleção equatoriana
está trabalhando, todos deveriam fazer o mesmo.
Algumas fábricas ou escritórios chegaram a oferecer
cafés da manhã como forma
de atrair seus funcionários.
A estratégia funcionou em
parte. Grandes grupos se
reuniram nas fábricas para
assistir à partida. Mas o contingente nas avenidas das cidades também era imenso.
Torcedores, trabalhando
ou não, que ouviram o eufórico narrador equatoriano,
direto de Hamburgo, proclamar que tinha a impressão
de estar no estádio de Atahualpa em Quito, tamanha a
vibração da torcida e a confiança da seleção no jogo.
Após os 3 a 0, foi praticamente impossível reter os
funcionários. Na avenida
Nueve de Octubre, no centro
de Guayaquil, carros disparando buzinas e pedestres-foliões-torcedores tomaram
todos os espaços. No bairro
de Urdesa, mais sofisticado, a
euforia não foi diferente.
Vendedores de cerveja, porém, enfrentaram nova concorrência. Por US$ 0,50, torcedores podiam receber, no
rosto, a pintura da bandeira,
tal qual goleiro Mora, um dos
heróis na Alemanha.
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