São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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JUCA KFOURI

Tarda, mas nem sempre falha


A CBF condenada em um processo e seus cartolas feitos réus num caso escabroso mostram que ainda há luz

CAÇAR BRUXAS é um velho esporte nacional.
Mas as duas recentes decisões da Justiça, uma em indenizar o torcedor que se queixou da anulação de jogo pelo qual pagou e outra de aceitar como réus o presidente da CBF, seu secretário-geral e o diretor financeiro (Ricardo Teixeira, Marco Antonio Teixeira e José Carlos Salim) pelo crime de evasão de divisas, não têm nada a ver com isso.
Não está em questão a perda da Copa do Mundo, mas, sim, a perda completa de decoro.
No primeiro caso, a Justiça se fez rapidamente, já em segunda instância, e sem falhas. Afinal a partida aconteceu no ano passado e a Justiça mostrou que o Estatuto do Torcedor vale.
Nem se discute a correção da medida imposta pela Justiça Desportiva ao anular as partidas apitadas por um árbitro sem princípios, mas, sim, a responsabilidade da entidade máxima do futebol por tê-lo em seus quadros.
No segundo caso, a Justiça demorou e ainda está por ser feita.
O episódio do empréstimo obtido no Delta National Bank, dos Estados Unidos, com juros estratosféricos, foi revelado na CPI do Futebol, cinco anos atrás, e, por enquanto, a Justiça apenas acatou a denúncia do Ministério Público.
(Este colunista se orgulha de ter puxado o fio da meada do caso, ao investigar denúncia feita por um cidadão consciencioso e a levado ao conhecimento da CPI da CBF/Nike, na qual a CPI do Futebol pôde mergulhar e se aprofundar e dar base ao competente inquérito do Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro.)
Mas só Deus sabe quanto tempo levará para se ter um julgamento definitivo, tantas são as manobras que certamente virão.
O importante, no entanto, é perceber que alguma coisa se move, que nem todos se conformam, que, por ingênuo que pareça, há luz, por tênue que seja, no fim do túnel.
Um torcedor carioca que se sentiu prejudicado foi à luta e ganhou ao responsabilizar a CBF por aquilo em que se sentiu lesado.
Cidadãos agem assim e não se limitam a se queixar para o bispo ou para a imprensa -quando o fazem.
Como estão fazendo também, por exemplo, todos os que foram ou irão à Justiça por se sentirem enganados pelo último pacote turístico com vendas casadas de ingressos da agência de turismo da CBF, a Planeta Brasil, um escárnio, outra vez, agora na Copa de 2006.
O Código do Consumidor está aí para ser aplicado, e o que se viu de torcedor brasileiro abordando jornalistas para contar casos absurdos foi uma monstruosidade que não deve ficar impune -para não falar dos ingressos com o carimbo da Confederação Brasileira de Futebol vendidos no câmbio negro, outra prática que se perpetuou desde a Copa de 1986.
O caso do Banco Delta, então, é estarrecedor, coisa que o deputado José Mentor (PT-SP) ajudou a esconder na CPI do Banestado.
E a denúncia ora acatada independe do desempenho da seleção brasileira, embora este país tenha o mau hábito de ser condescendente com os "vitoriosos", diferentemente da Itália.
E, como tudo na vida é uma questão de perspectiva, não custa lembrar, somente por lembrar e para repetir que uma coisa nada tem a ver com a outra, que Ricardo Teixeira "ganhou" duas Copas (EUA-1994 e Coréia do Sul/Japão-2002) e já "perdeu" três (Itália-1990, França-1998 e Alemanha-2006).
Desempenho sofrível para quem se orgulha de produzir craques em cada esquina e, principalmente, para quem se julga insubstituível e não apeia do poder por nada neste mundo, além de querer comandar uma Copa do Mundo aqui, em 2014.
Festa para o planeta?
Só se for para a Planeta Brasil.

blogdojuca@uol.com.br


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