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JUCA KFOURI
Tarda, mas nem sempre falha
A CBF condenada em um processo e seus cartolas feitos réus num caso escabroso mostram que ainda há luz
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CAÇAR BRUXAS é um velho esporte nacional.
Mas as duas recentes decisões da Justiça, uma em indenizar o
torcedor que se queixou da anulação
de jogo pelo qual pagou e outra de
aceitar como réus o presidente da
CBF, seu secretário-geral e o diretor
financeiro (Ricardo Teixeira, Marco
Antonio Teixeira e José Carlos Salim) pelo crime de evasão de divisas,
não têm nada a ver com isso.
Não está em questão a perda da
Copa do Mundo, mas, sim, a perda
completa de decoro.
No primeiro caso, a Justiça se fez
rapidamente, já em segunda instância, e sem falhas. Afinal a partida
aconteceu no ano passado e a Justiça mostrou que o Estatuto do Torcedor vale.
Nem se discute a correção da medida imposta pela Justiça Desportiva ao anular as partidas apitadas por
um árbitro sem princípios, mas, sim,
a responsabilidade da entidade máxima do futebol por tê-lo em seus
quadros.
No segundo caso, a Justiça demorou e ainda está por ser feita.
O episódio do empréstimo obtido
no Delta National Bank, dos Estados
Unidos, com juros estratosféricos,
foi revelado na CPI do Futebol, cinco anos atrás, e, por enquanto, a Justiça apenas acatou a denúncia do
Ministério Público.
(Este colunista se orgulha de ter
puxado o fio da meada do caso, ao investigar denúncia feita por um cidadão consciencioso e a levado ao conhecimento da CPI da CBF/Nike,
na qual a CPI do Futebol pôde mergulhar e se aprofundar e dar base ao
competente inquérito do Ministério
Público Federal, no Rio de Janeiro.)
Mas só Deus sabe quanto tempo
levará para se ter um julgamento definitivo, tantas são as manobras que
certamente virão.
O importante, no entanto, é perceber que alguma coisa se move, que
nem todos se conformam, que, por
ingênuo que pareça, há luz, por tênue que seja, no fim do túnel.
Um torcedor carioca que se sentiu
prejudicado foi à luta e ganhou ao
responsabilizar a CBF por aquilo em
que se sentiu lesado.
Cidadãos agem assim e não se limitam a se queixar para o bispo ou
para a imprensa -quando o fazem.
Como estão fazendo também, por
exemplo, todos os que foram ou irão
à Justiça por se sentirem enganados
pelo último pacote turístico com
vendas casadas de ingressos da
agência de turismo da CBF, a Planeta Brasil, um escárnio, outra vez,
agora na Copa de 2006.
O Código do Consumidor está aí
para ser aplicado, e o que se viu de
torcedor brasileiro abordando jornalistas para contar casos absurdos
foi uma monstruosidade que não
deve ficar impune -para não falar
dos ingressos com o carimbo da
Confederação Brasileira de Futebol
vendidos no câmbio negro, outra
prática que se perpetuou desde a
Copa de 1986.
O caso do Banco Delta, então, é estarrecedor, coisa que o deputado José Mentor (PT-SP) ajudou a esconder na CPI do Banestado.
E a denúncia ora acatada independe do desempenho da seleção brasileira, embora este país tenha o
mau hábito de ser condescendente
com os "vitoriosos", diferentemente
da Itália.
E, como tudo na vida é uma questão de perspectiva, não custa lembrar, somente por lembrar e para repetir que uma coisa nada tem a ver
com a outra, que Ricardo Teixeira
"ganhou" duas Copas (EUA-1994 e
Coréia do Sul/Japão-2002) e já
"perdeu" três (Itália-1990, França-1998 e Alemanha-2006).
Desempenho sofrível para quem
se orgulha de produzir craques em
cada esquina e, principalmente, para quem se julga insubstituível e não
apeia do poder por nada neste mundo, além de querer comandar uma
Copa do Mundo aqui, em 2014.
Festa para o planeta?
Só se for para a Planeta Brasil.
blogdojuca@uol.com.br
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