São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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FUTEBOL

Onde entra Ricardinho?

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O São Paulo arrasou o Fluminense como há muito não se via. Foi praticamente uma partida de um time só.
O placar poderia ter sido ainda mais abissal. Além dos seis que valeram, o São Paulo teve um gol anulado injustamente, perdeu um pênalti e chutou duas bolas na trave. Poderia ter vencido por oito ou nove, sem exagero.
Que o tricolor paulista é, hoje, uma equipe superior ao carioca, não há quem duvide. A posição dos clubes na tabela e uma rápida comparação entre os dois elencos mostra isso.
No entanto, essa superioridade não explica, por si só, uma vitória tão esmagadora como a de ontem. Entram em cena, então, as tais "circunstâncias do jogo".
Um lance decisivo foi o que ocorreu logo no início da partida, fora do alcance das câmeras de TV: o safanão que Romário deu no zagueiro Andrei, seu companheiro de equipe.
O entrevero certamente deixou abalado o zagueiro, que acaba de chegar ao clube. Alguns minutos depois, ele se atrapalhou com a bola e deixou-a passar para o são-paulino Júlio Batista, que abriu o placar com um belo gol.
A partir daí, o São Paulo, que já encontrava facilidade para chegar à área do Fluminense, passou a ter mais espaço e tranquilidade para trocar passes e envolver a defesa adversária.
No segundo tempo, o Fluminense voltou disposto a equilibrar a partida, mas foi logo nocauteado pelo segundo gol são-paulino, numa jogada bem trabalhada que merece um comentário à parte.
Foi um lance que demonstrou toda a importância que Kaká tem para seu time. Ele pegou uma sobra na frente da área são-paulina e iniciou o contra-ataque abrindo um passe para o lateral Rafael. A jogada continuou pela direita, mas Kaká não parou.
Quando o atacante Luís Fabiano cruzou rasteiro para o meio da área adversária, quem estava lá? Ele mesmo, Kaká, que acertou um lindo chute no ângulo.
Depois da expulsão do zagueiro César, no segundo tempo, o Fluminense acabou de se desarrumar. O técnico Renato Gaúcho, para colocar outro beque, tirou o lateral-esquerdo Marquinhos, e foi esse vazio que o São Paulo aproveitou para fazer a festa.
Pois bem. O São Paulo vinha de duas derrotas com Ricardinho em campo. Ontem, sem o jogador, voltou a brilhar como em suas melhores jornadas.
Isso significa que Ricardinho não tem lugar no time? Calma lá. Talvez seja apenas um indício de que o jogador se encaixava muito melhor no Corinthians de Parreira -que valorizava a posse de bola e as inversões de jogadas, numa tática paciente de esperar a brecha adversária- do que no São Paulo de Oswaldo de Oliveira, um time que avança em bloco com rapidez vertiginosa.
Ou talvez Ricardinho só precise de um tempo para se adaptar à marcha rápida tricolor. Nesse esquema, Júlio Batista tem-se mostrado mais eficaz. Ontem, o meia fez uma belíssima partida. Foi talvez o melhor em campo, junto com Kaká.
E o São Paulo ainda se dá ao luxo de ter no banco um meia como Adriano, que ontem, no pouco tempo que jogou, deu dois passes precisos que redundaram em gols.
Os são-paulinos comemoram, mas têm na lembrança derrotas recentes e vexaminosas. Mesmo ontem, quase sem ser ameaçada, a defesa tricolor conseguiu bater cabeça. Ou seja: o calcanhar-de-aquiles continua lá.

Crise verde

O Palmeiras, quem diria, continua na zona de rebaixamento. O time sofreu desmanches e desfalques, mas não era para tanto. Seu elenco atual não é ruim. A questão é mais psicológica do que técnica. Quanto à tática, talvez Levir Culpi tenha errado ao escalar três atacantes num time que ainda não se encontrou e que carece de consistência no meio-de-campo. Sua afoiteza foi punida com mais uma derrota em casa, desta vez para o Bahia.

Incêndio em Caxias

Se o Palmeiras surpreende pelo declínio, o Juventude surpreende pelo sucesso. Com uma única derrota, o time de Caxias está seis pontos na frente do segundo colocado, algo muito difícil de conseguir num torneio equilibrado como o Brasileiro. Pode até ser que o clube perca a liderança, mas já não dá mais para falar em "fogo de palha".

E-mail jgcouto@uol.com.br

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