São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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De lei em lei, Nacional se complica e agoniza

Prefeitura faz clube perder verba de outdoors, e governo federal fecha bingo que funcionava na sede e rendia R$ 30 mil por mês

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 300 metros separam as enferrujadas catracas do Nacional do imponente portão do CT do São Paulo, na Barra Funda. Mas quando a pergunta sobre a distância entre os dois clubes é feita para Oreste Novelli, diretor de futebol do Nacional, a resposta demora a vir.
Ele olha para o campo de terra, para os garotos que correm por uma vaga no time. Olha para os muros do CT do time do Morumbi, líder do Brasileiro, e responde: "Não tem jeito. Só se vier um grande patrocinador".
Não é de hoje que dinheiro é problema para o Nacional, um dos times fundadores da federação paulista. Mas neste ano a verba diminuiu devido às leis.
Em vigor desde 1º de janeiro, a Lei Cidade Limpa, criada pelo prefeito Gilberto Kassab, tirou cerca de R$ 20 mil dos cofres do Nacional com a retirada dos outdoors da sede do clube.
O escudo do time também não está mais na entrada da sede, atendendo a lei.
Depois, novo baque nas finanças, com o fechamento do bingo que funcionava no clube. E lá se foram mais cerca de R$ 30 mil de renda.
"Esse dinheiro faz bastante falta", lamenta Novelli, que vive o dia-a-dia do clube há 20 anos e viu no último mês o telefone da sala das categorias de base ser cortado por falta de pagamento.
"Cortaram uma verba que a gente usava para sobreviver", comentou Cláudio Aguirre, diretor administrativo do clube.
Aguirre, aliás, foi espectador de um momento histórico do Nacional, fundado em 1919, atendendo pelo nome de São Paulo Railway, antiga estrada de ferro que ligava a capital a Santos. Com o pós-guerra, mudou de nome, em 1946.
"Antes, quem torcia para o time era chamado de inglês. Depois da guerra, as pessoas batiam no peito e diziam: "Agora somos nacional". E assim veio o nome", relembrou o diretor.
Mas o cartola nunca imaginou que o Nacional passaria por tanta dificuldade.
"Chegamos a ter mais de 60 mil sócios, mas agora nos seguramos com os cerca de 5.000 que mantemos e com a escolinha de futebol", relatou, para depois repetir uma frase constante durante a entrevista. "Está cada vez mais difícil manter o clube."
Hoje, o Nacional tem medidas drásticas de contenção de despesas. Uma delas é dada às categorias de base. Todos têm de lavar os uniformes em casa. "Assim economizamos na água", diz Edie Carlos Belo, coordenador dos time de base.
Os equipamentos usados pelos garotos nos treinos (sinalizadores, cones e bambolês) são de Edie Carlos. E só há uma bola para a disputa das peneiras, que deve ser conservada.
É assim que o Nacional, rebaixado à Série A-3 do Paulista neste ano, cuida de seus futuros craques. No improviso. "Fazemos o possível para ficar com os garotos e profissionalizá-los para ganharmos dinheiro vendendo", conta Aguirre, cujos atletas não recebem nem R$ 1.000 quando promovidos.
"A gente paga o salário para eles não irem embora. Se o futebol acabar, o clube fecha."0 (JULYANA TRAVAGLIA)


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