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De lei em lei, Nacional se complica e agoniza
Prefeitura faz clube perder verba de outdoors, e governo federal fecha bingo que funcionava na sede e rendia R$ 30 mil por mês
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 300 metros separam as enferrujadas catracas do
Nacional do imponente portão
do CT do São Paulo, na Barra
Funda. Mas quando a pergunta
sobre a distância entre os dois
clubes é feita para Oreste Novelli, diretor de futebol do Nacional, a resposta demora a vir.
Ele olha para o campo de terra, para os garotos que correm
por uma vaga no time. Olha para os muros do CT do time do
Morumbi, líder do Brasileiro, e
responde: "Não tem jeito. Só se
vier um grande patrocinador".
Não é de hoje que dinheiro é
problema para o Nacional, um
dos times fundadores da federação paulista. Mas neste ano a
verba diminuiu devido às leis.
Em vigor desde 1º de janeiro,
a Lei Cidade Limpa, criada pelo
prefeito Gilberto Kassab, tirou
cerca de R$ 20 mil dos cofres do
Nacional com a retirada dos
outdoors da sede do clube.
O escudo do time também
não está mais na entrada da sede, atendendo a lei.
Depois, novo baque nas finanças, com o fechamento do
bingo que funcionava no clube.
E lá se foram mais cerca de
R$ 30 mil de renda.
"Esse dinheiro faz bastante
falta", lamenta Novelli, que vive
o dia-a-dia do clube há 20 anos
e viu no último mês o telefone
da sala das categorias de base
ser cortado por falta de pagamento.
"Cortaram uma verba que a
gente usava para sobreviver",
comentou Cláudio Aguirre, diretor administrativo do clube.
Aguirre, aliás, foi espectador
de um momento histórico do
Nacional, fundado em 1919,
atendendo pelo nome de São
Paulo Railway, antiga estrada
de ferro que ligava a capital a
Santos. Com o pós-guerra, mudou de nome, em 1946.
"Antes, quem torcia para o time era chamado de inglês. Depois da guerra, as pessoas batiam no peito e diziam: "Agora
somos nacional". E assim veio o
nome", relembrou o diretor.
Mas o cartola nunca imaginou que o Nacional passaria
por tanta dificuldade.
"Chegamos a ter mais de 60
mil sócios, mas agora nos seguramos com os cerca de 5.000
que mantemos e com a escolinha de futebol", relatou, para
depois repetir uma frase constante durante a entrevista. "Está cada vez mais difícil manter
o clube."
Hoje, o Nacional tem medidas drásticas de contenção de
despesas. Uma delas é dada às
categorias de base. Todos têm
de lavar os uniformes em casa.
"Assim economizamos na
água", diz Edie Carlos Belo,
coordenador dos time de base.
Os equipamentos usados pelos garotos nos treinos (sinalizadores, cones e bambolês) são
de Edie Carlos. E só há uma bola para a disputa das peneiras,
que deve ser conservada.
É assim que o Nacional, rebaixado à Série A-3 do Paulista
neste ano, cuida de seus futuros
craques. No improviso. "Fazemos o possível para ficar com
os garotos e profissionalizá-los
para ganharmos dinheiro vendendo", conta Aguirre, cujos
atletas não recebem nem R$
1.000 quando promovidos.
"A gente paga o salário para
eles não irem embora. Se o futebol acabar, o clube fecha."0
(JULYANA TRAVAGLIA)
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