São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Depois de estourar o escândalo do apito, atritos atingem cúpula da Federação Paulista, da CBF e do Clube dos 13

Crise na arbitragem racha o poder da bola

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

O escândalo da arbitragem rachou diferentes setores do futebol brasileiro. Federação Paulista, CBF e Clube dos 13 estão entre as entidades afetadas.
São atritos causados por interesses diferentes e desdobramentos causados pela revelação de que Edilson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon fabricavam resultados para atender a apostadores de sites clandestinos.
Um dos maiores estragos aconteceu na FPF. O caso distanciou Marco Polo Del Nero de seu vice, Reinaldo Carneiro Bastos, que depois de uma conversa com o superior pediu afastamento temporário do cargo.
O presidente reclama a seus aliados que, ao ser citado por Carvalho em seus depoimentos, Bastos afetou sua administração. Já o vice afirma a amigos que faltou apoio de Del Nero a ele.
O envolvimento do vice traz um problema maior para o presidente. A Folha apurou que Santos, Palmeiras e São Paulo não estão dispostos a apoiar Bastos como vice na chapa de Del Nero, que planeja se candidatar em 2005. O motivo é a acusação de Carvalho de que ele influenciava os juízes.
Politicamente, para o dirigente não é interessante afastar Bastos, que em 18 anos na entidade acumulou influência e ainda tem o apoio de muitos cubes.
"Recebi carta de apoio de 95% dos filiados por todas as medidas que tomamos nesse caso da arbitragem. A aprovação é grande, mas não sei se serei candidato", diz Del Nero, que a aliados não esconde que tentará se reeleger.
Ele deveria marcar o pleito em janeiro, mas, com os problemas recentes, deve adiar a data.
A crise na arbitragem também provoca uma nova disputa, com Corinthians, São Paulo e Palmeiras contra o Santos.
Depois do tumulto na Vila Belmiro, durante o jogo entre santistas e corintianos, os rivais do clube presidido por Marcelo Teixeira pressionam a FPF para não voltarem a jogar no litoral.
"A federação não pode marcar mais clássicos na Vila Belmiro. Se marcar, teremos que discutir o assunto", afirmou Marcelo Portugal Gouvêa, presidente são-paulino.
Além de defender os jogos em seu estádio, o Santos também está de cara virada para a FPF por causa de Carvalho. Em 2004, o clube vetou o árbitro em suas partidas e reclamou quando soube que ele voltaria a ser escalado.
Amanhã, Del Nero deverá tentar uma reaproximação com Teixeira, num encontro na FPF.
No Clube dos 13, o racha aconteceu pela falta de consenso entre os times sobre o que fazer diante da decisão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) de anular os 11 jogos apitados por Carvalho no Brasileiro deste ano.
"Tínhamos que tomar uma decisão em conjunto, mas não conseguimos. Cada um olhou os seus interesses, e quem foi beneficiado com a repetição dos jogos não teve motivo para brigar", afirmou Fernando Carvalho, presidente do Internacional.
O gaúcho é o líder do movimento contra a repetição das partidas. Entre os clubes considerados favorecidos pela repetição dos jogos está o Corinthians, que ganhou a reprise contra o Santos, após ter perdido o primeiro confronto, e ainda enfrentará o São Paulo, para quem perdeu no duelo original.
"Nós defendemos que tomassem uma decisão para todas as partidas. Ou anulavam todas ou mantinham todas. De qualquer jeito, alguém reclamaria", declarou Andrés Sanchez, vice-presidente de futebol corintiano.
Na CBF, o escândalo provocou o rompimento definitivo entre Ricardo Teixeira e Armando Marques, que deixou a comissão de arbitragem. O presidente da entidade não perdoa o fato de o caso ter estourado no momento em que ele integra uma comissão da Fifa para investigar, entre outras coisas, lavagem de dinheiro ligada a sites de apostas e fabricação de resultados.


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