São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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SONINHA

Cansaço, altitude e chuva?


Alguns problemas só surgem na hora; outros podem ser previstos. Dunga tem lidado muito mal com uns e outros

"A COLÔMBIA não está jogando para ganhar, mas o Brasil está jogando para perder!" O comentário irritado de PVC durante a transmissão da partida acabou desmentido pelo placar: zero para os dois lados. O Brasil não conseguiu perder, em parte graças a Julio César. Pelo menos para ele, o jogo foi bom...
Os primeiros minutos nem pareciam duelo de seleções, por um bom e um mau motivo. O bom: apesar da impressão persistente de que "ninguém quer nada com nada", os jogadores se matavam em campo. Robinho, teoricamente em pior forma do que os colegas, vinha dar carrinho no campo de defesa. Jogo pegado, brigado, corrido. E esse era também o mau motivo: faltava classe, categoria, qualidade no toque de bola. Havia mais encontrões e botinadas do que troca de passes. Sem as camisas, não adivinharíamos os times.
Terminado o jogo, as explicações predominantes para o resultado ruim (sem essa de "um bom empate fora de casa", por favor) foram o cansaço, a altitude, o campo molhado. Viajar é cansativo, especialmente para quem precisa fazer muito esforço físico. (Quem acha que não cansa provavelmente esqueceu como é...) Para quase todos os convocados, foram dois vôos internacionais em uma semana; mudanças de fuso e temperatura não ajudam. E tem o cansaço emocional: quebrar a rotina, ficar longe de casa, disputar posição, dar entrevista e explicação, atender aos fãs, sofrer questionamentos e pressões... Selecionáveis têm de estar prontos a lidar com isso, ou deveriam escolher outra ocupação. Mas são humanos e cansam.
Porém, exceto pelo atraso no começo do jogo, que tem seu preço (imagine lidar com a ansiedade x a desaceleração brusca), o resto é mais do que previsível -é garantido.
Cabe à seleção (comissão técnica, atletas) se preparar para lidar com isso, planejando treinos e deslocamentos de modo a obter o máximo proveito com o mínimo de desperdício de energia. E, não menos importante, planejar o modo de jogar. Como bem observou Arnaldo Ribeiro na ESPN, a maioria dos brasileiros em campo em Bogotá era do tipo que "parte para cima". Não é preciso (nem recomendável) modificar o time todo conforme o adversário e as condições de temperatura e pressão, mas não é possível ignorá-los. Com o desgaste da viagem, a altitude e a chuva, é óbvio que o time cansaria logo e erraria mais. (A quantidade de passes errados foi assustadora). E a Colômbia haveria de tirar proveito disso, botando pressão e correria para cima da gente. Por que Dunga não escalou Diego, por exemplo, para girar a bola no meio-campo com mais segurança?
O pior é que, aparentemente, o técnico percebeu a deficiência, mas escolheu um remédio estranho: disse que colocou Júlio Baptista porque queria "um cara forte para segurar a bola no ataque". Mas... O melhor jeito de "segurar a bola no ataque" é colocar "um cara forte"? A idéia não é meio bizarra? Concordei com a saída de Vágner Love, que estava equivalendo a "um a menos", mas para a entrada de Josué? E o que falar de Afonso aos 39min do 2º tempo? Estrear com problemas é algo que se pode entender e aceitar. Mas a leitura que o técnico fez dos problemas é de desanimar...

soninha.folha@uol.com.br


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