São Paulo, terça-feira, 16 de outubro de 2007

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Jogadores se complicam ao depor à PF

Policiais vêem indícios de irregularidade em recibos não pagos e em empréstimos do Corinthians relatados por atletas

Ao saírem da polícia, Roger Magrão, Nilmar e Silvio Luiz dizem não ter recebido seus salários no exterior e vão ter que exibir todas suas rendas

Almeida Rocha/Folha Imagem
O volante Magrão, que agora defende o Inter-RS, deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo


RODRIGO MATTOS
TONI ASSIS
REPORTAGEM LOCAL

Os depoimentos de quatro ex-jogadores corintianos apresentaram novos indícios de que suas transferências e salários fossem usados para lavagem de dinheiro e sonegação fiscal na parceria do Corinthians/MSI. E complicaram a situação dos atletas no novo inquérito para apurar operações no clube. É a avaliação da Polícia Federal.
Estiveram ontem na sede da PF em São Paulo o goleiro Silvio Luiz (Vasco), o meia Roger (Flamengo), o atacante Nilmar e o volante Magrão (ambos do Inter), onde ficaram por cerca de três horas cada um.
Todos negaram receber salários no exterior. E afirmaram não utilizar, no momento, contas bancárias fora do país.
Mas o que chamou a atenção do delegado Protógenes Queiros, condutor do inquérito, é que alguns jogadores informaram ter emitido recibos de quitação sem ter recebido parte dos salários do Corinthians. Nos depoimentos, afirmaram até ter pago impostos sobre esses valores não desembolsados.
Isso pode caracterizar lavagem de dinheiro e sonegação, já que o dinheiro não circulou, de fato. Pendências podem explicar esses recibos. "O Corinthians me deve dinheiro", disse Nilmar, ao sair da PF. Só que o clube não reconhece o débito.
Além disso, a polícia suspeita das transferências dos atletas. É que, com todos eles, houve operação de empréstimos. Para policiais, isso pode mostrar que houve simulações para legitimar um dinheiro cuja origem é desconhecida.
O fato de alguns atletas, como Nilmar e Magrão, já terem tido contas no exterior também chamou a atenção de agentes da PF. Para apurar os fatos, foi requisitado aos jogadores que entreguem todas as suas declarações de renda dos últimos cinco anos e extratos bancários dos últimos dois.
Magrão informou ter conta no exterior porque jogou no Japão, mas disse que recebia do Corinthians no Brasil.
"Sempre tenho muito cuidado [com contratos]. Falo de cabeça erguida. Sabia que ia dar merda. Tinha que ficar preocupado pelo tumulto [da parceria]. Por isso, preferi fazer contrato com o Corinthians", disse Magrão, explicando porque não tinha acordo com a MSI.
Já Nilmar ofereceu-se para abrir seu sigilo fiscal à PF para mostrar que recebia regularmente seus salários no Corinthians. "Só tive conta no exterior quando joguei no Lyon." Seu advogado prometeu entregar os documentos em menos de 30 dias.
Ao sair apressadamente, Silvio Luiz negou ter conta no exterior. Mesma posição adotou Roger, último a sair da PF.
"Conversou normalmente. Se a polícia acha que tem que investigar, pode investigar", afirmou o meia rubro-negro.
Vestidos com roupas típicas de boleiros -camisas Armani e calças desbotadas-, os jogadores mostraram constrangimento com a situação.
Hoje estão previstos depoimentos de Gustavo Nery (Corinthians) e do ex-vice de futebol do clube Rubens Gomes, o Rubão. Ele também serão ouvidos sobre supostos pagamentos no exterior.
Outros que a polícia pretende ouvir são o técnico Leão (Atlético-MG), o atacante Tevez, o volante Mascherano e os meias Carlos Alberto e Ricardinho. Só que, para isso, depende do retorno deles do exterior.
A situação dos dois últimos é mais complicada. Nos grampos da PF, há conversas em que são falados de depósitos em contas no exterior para ambos.
Ainda sem data, também será marcado um depoimento do presidente do Corinthians, Andrés Sanches. Ele também é investigado e irá depor porque era vice-presidente de futebol durante a parceria com a MSI.
No inquérito anterior, o executivo da MSI Kia Joorabchian e os ex-dirigentes Alberto Dualib e Nesi Curi foram denunciados por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.


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