São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

O jogo dos erros


Mais de três anos após escândalo de arbitragem, Brasil brinca com equívocos de juízes em tabela fictícia


O MINISTÉRIO Público da Itália anunciou nesta semana o pedido de seis anos de prisão para Luciano Moggi, ex-diretor esportivo da Juventus. Em 2006, Moggi foi protagonista do escândalo de manipulação de escalas de arbitragens, que levou o tradicional clube para a Série B. O julgamento está marcado para janeiro.
Pouco depois do terceiro aniversário do caso Edílson Pereira de Carvalho, o Brasil comemorou vendo um site esportivo lançar uma surreal tabela do Brasileirão desconsiderando os erros de arbitragem. Não está aqui em questão a audiência desse tipo de brincadeira, que eu mesmo já fiz, embora usando um critério diferente. Em vez de definir, a partir de meus próprios olhos, o que foi erro ou acerto, a preferência foi por ouvir as reclamações de cada clube e construir uma nova tabela com os pontos que cada um reivindicava. Nesse caso, diferente do resultado obtido nesta semana, o líder do campeonato não mudava.
Enquanto a Itália decide punir quem manipula resultados, o Brasil brinca com os erros. Ao publicar a tabela supostamente sem equívocos, a impressão passa a ser a de que "meu time está sendo roubado." Nada mais justo, num país em que há apenas três anos um árbitro confessadamente entrou em campo com o compromisso de mudar resultados. Há coisas mais sérias a discutir sobre arbitragem. Por exemplo, por que existem árbitros escalados para três partidas no intervalo de sete dias? Aconteceu há duas semanas com Carlos Eugênio Simon. O árbitro saiu de Porto Alegre na terça-feira, 28 de outubro, para apitar Fortaleza x Marília. Três dias depois, estava em Florianópolis, para Avaí x Ponte Preta. No domingo, às 19h10, apitou o início de Vasco x Fluminense, partida em que o Flu reclamou um pênalti não marcado sobre o atacante Washington.
Quem assistiu a tudo pela TV, na sala de sua casa, foi o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, lembra dele? Edílson vive no mesmo bairro de Jacareí, interior de São Paulo. Sua vida mudou para pior, punido pela sociedade, e não pela Justiça, como deveria acontecer. Aos 47 anos, está desempregado. A única boa notícia dos últimos três anos foi um depoimento de um amigo, juiz de direito.
"Eu não dou nenhum depoimento há um ano e meio e esse meu conhecido me diz que preso eu não serei." Para quem não se lembra, Edílson foi contratado para fazer resultados que ajudassem apostadores em sites de apostas. Jogadores como Edmundo e ex-jogadores como Djalminha costumavam apostar, quando jogavam em São Paulo. Faziam suas apostas em uma loja de automóveis, próxima ao Parque Antarctica. Nada de errado nisso. Os sites são legais. Superlegais...
Edílson não tem moral para dizer o que anda certo ou errado no país da impunidade, do escândalo e dos erros de arbitragem, cometidos até por quem assiste ao videoteipe. Mas o ex-árbitro se espanta, no berço de seu desemprego. Em frente à TV, na quarta-feira, ele deu seu veredicto, sobre o que aconteceu depois de seu caso: "Eu assistia a Juventude x Corinthians e prestava atenção a uma placa de publicidade: Sportingbet.
No estádio, um anúncio de um site de apostas. A situação deve estar muito pior", diz Edílson.

pvc@uol.com.br


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