São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

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Paraolímpicos racham por causa de regras eleitorais

Entidades de deficientes e de cegos concentram votos no pleito do CPB e relegam papel secundário ou nulo a outras

Após reforma estatutária, secretário-geral do comitê, Andrew Parsons, admite ser preciso novas alterações para aumentar democracia

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcada para fevereiro, a eleição do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) tem desde já discordâncias com relação às suas regras. São questionados o peso excessivo de votos de algumas entidades filiadas e a exclusão de associações que tiveram atletas em Pequim.
Apesar de mudanças no estatuto no início deste ano, associações de deficientes e de cegos seguem decisivas no pleito, com cerca de dois terços dos votos. Esse fato relega a outras organizações esportivas paraolímpicas um papel secundário ou nulo na eleição.
""Temos que fazer outra reforma [no estatuto do comitê] para torná-lo mais democrático", admite Andrew Parsons, secretário-geral do CPB e provável candidato à presidência.
Vital Severino Neto, o atual presidente do CPB, não tem direito a mais uma reeleição. Pela regra da entidade, só é possível cumprir dois mandatos.
Neste aspecto, há maior alternância de poder em relação à maioria das confederações e ao COB, comandado por Carlos Arthur Nuzman desde 1995.
Em compensação, há concentração de poder. A Abdem (Associação Brasileira de Desportos de Deficientes Mentais), a Ande (Associação Nacional de Desporto para Deficientes) e a CBDC (Confederação Brasileira de Desportos para Cegos) têm sete votos cada uma.
A Abdem está fora da Paraolimpíada desde Sydney-2000, quando foi constatada fraude em delegações. Mas a entidade mundial de deficientes mentais continua filiada ao Comitê Paraolímpico Internacional e, portanto, ao comitê brasileiro.
Órgãos esportivos paraolímpicos contabilizam três votos cada um. Neste grupo estão a ABVP (Associação Brasileira de Vôlei Paraolímpico), a CBBC (Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas) e a CBVA (Confederação Brasileira de Vela Adaptada).
Uma entidade olímpica e paraolímpica, a CBT (Confederação Brasileira de Tênis) tem o voto restante, tornando-se quase uma nulidade no colégio eleitoral de 31 membros.
Entidades com participação no movimento paraolímpico, que ainda não tiveram filiação aprovada -como as confederações de hipismo, ciclismo, tênis de mesa e remo-, não têm voz na escolha do presidente.
A possibilidade de não participar da eleição, mesmo tendo integrado a equipe brasileira na Paraolimpíada de Pequim-2008, já provoca reclamações. É o caso da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.
Em Pequim, o Brasil alcançou feito inédito, na classe 3 para cadeirantes, com a conquista de uma prata, após eliminar a favorita China na semifinal.
""Foi a primeira medalha obtida pelo Brasil", destaca Alaor Azevedo, presidente da CBTM.
Para ele, esse resultado deu legitimidade ao trabalho da confederação, que possui até parecer, elaborado por Parsons e datado do dia 15 de outubro, em que ""defere à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa o pedido de filiação ao CPB".
Para que tal vínculo seja confirmado, no entanto, é necessária aprovação pelo conselho do comitê, que é dominado pelas entidades de deficientes. Mesmo com o parecer, o tênis de mesa não terá direito a voto -precisaria estar filiado ao menos 120 dias antes da eleição.
""Acho absurdo. É um desrespeito. E, do meu ponto de vista, é ilegal de acordo com a Constituição", argumenta Azevedo.
A Folha apurou que já há até movimento, organizado por entidades olímpicas e paraolímpicas sem direito a voto, que pretende entrar na Justiça para participar do pleito.
Azevedo não nega a ação coordenada, mas diz preferir que haja um consenso.


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