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Paraolímpicos racham por causa de regras eleitorais
Entidades de deficientes e de cegos concentram votos no pleito do CPB e relegam papel secundário ou nulo a outras
Após reforma estatutária, secretário-geral do comitê, Andrew Parsons, admite ser preciso novas alterações para aumentar democracia
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcada para fevereiro, a
eleição do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) tem desde
já discordâncias com relação às
suas regras. São questionados o
peso excessivo de votos de algumas entidades filiadas e a exclusão de associações que tiveram atletas em Pequim.
Apesar de mudanças no estatuto no início deste ano, associações de deficientes e de cegos seguem decisivas no pleito,
com cerca de dois terços dos
votos. Esse fato relega a outras
organizações esportivas paraolímpicas um papel secundário
ou nulo na eleição.
""Temos que fazer outra reforma [no estatuto do comitê]
para torná-lo mais democrático", admite Andrew Parsons,
secretário-geral do CPB e provável candidato à presidência.
Vital Severino Neto, o atual
presidente do CPB, não tem direito a mais uma reeleição. Pela
regra da entidade, só é possível
cumprir dois mandatos.
Neste aspecto, há maior alternância de poder em relação
à maioria das confederações e
ao COB, comandado por Carlos
Arthur Nuzman desde 1995.
Em compensação, há concentração de poder. A Abdem
(Associação Brasileira de Desportos de Deficientes Mentais),
a Ande (Associação Nacional de
Desporto para Deficientes) e a
CBDC (Confederação Brasileira de Desportos para Cegos)
têm sete votos cada uma.
A Abdem está fora da Paraolimpíada desde Sydney-2000,
quando foi constatada fraude
em delegações. Mas a entidade
mundial de deficientes mentais
continua filiada ao Comitê Paraolímpico Internacional e,
portanto, ao comitê brasileiro.
Órgãos esportivos paraolímpicos contabilizam três votos
cada um. Neste grupo estão a
ABVP (Associação Brasileira de
Vôlei Paraolímpico), a CBBC
(Confederação Brasileira de
Basquete em Cadeira de Rodas)
e a CBVA (Confederação Brasileira de Vela Adaptada).
Uma entidade olímpica e paraolímpica, a CBT (Confederação Brasileira de Tênis) tem o
voto restante, tornando-se
quase uma nulidade no colégio
eleitoral de 31 membros.
Entidades com participação
no movimento paraolímpico,
que ainda não tiveram filiação
aprovada -como as confederações de hipismo, ciclismo, tênis
de mesa e remo-, não têm voz
na escolha do presidente.
A possibilidade de não participar da eleição, mesmo tendo
integrado a equipe brasileira na
Paraolimpíada de Pequim-2008, já provoca reclamações.
É o caso da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.
Em Pequim, o Brasil alcançou feito inédito, na classe 3 para cadeirantes, com a conquista
de uma prata, após eliminar a
favorita China na semifinal.
""Foi a primeira medalha obtida pelo Brasil", destaca Alaor
Azevedo, presidente da CBTM.
Para ele, esse resultado deu
legitimidade ao trabalho da
confederação, que possui até
parecer, elaborado por Parsons
e datado do dia 15 de outubro,
em que ""defere à Confederação
Brasileira de Tênis de Mesa o
pedido de filiação ao CPB".
Para que tal vínculo seja confirmado, no entanto, é necessária aprovação pelo conselho do
comitê, que é dominado pelas
entidades de deficientes. Mesmo com o parecer, o tênis de
mesa não terá direito a voto
-precisaria estar filiado ao menos 120 dias antes da eleição.
""Acho absurdo. É um desrespeito. E, do meu ponto de vista,
é ilegal de acordo com a Constituição", argumenta Azevedo.
A Folha apurou que já há até
movimento, organizado por
entidades olímpicas e paraolímpicas sem direito a voto, que
pretende entrar na Justiça para participar do pleito.
Azevedo não nega a ação
coordenada, mas diz preferir
que haja um consenso.
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