São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 2000

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FUTEBOL

Adhemar e Ronaldinho sob os refletores

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

N as últimas duas semanas só se falou (inclusive nesta coluna) de Pelé e Maradona.
Está na hora de mudar de assunto.
Falemos, por exemplo, de Adhemar e Ronaldinho.
Com dois gols cada, eles fizeram um duelo particular no jogo de anteontem no Parque Antarctica, entre São Caetano e Grêmio. Cada um deles fez um golaço (o segundo de Adhemar e o primeiro de Ronaldinho).
Vale a pena fechar o foco nesses golaços, repeti-los em câmera lenta, para melhor apreciar a perícia dos dois atacantes.
No de Adhemar, o goleador do ABC mostrou suas maiores virtudes: o ímpeto, a frieza dentro da área e o arremate certeiro.
Venceu a zaga em diagonal rumo à direita e ameaçou chutar, mas, vendo que estava sem ângulo, cortou para dentro, deslocando zagueiros e goleiro, e meteu uma bomba de esquerda no outro ângulo.
Foi uma pequena obra-prima de ritmo, força e objetividade. Coisa de artilheiro completo, que chuta bem com os dois pés e não treme ao se aproximar da pequena área.
Em seu golaço, Ronaldinho exibiu praticamente as mesmas qualidades de Adhemar (embora não tenha uma esquerda tão poderosa) e uma dose de habilidade a mais.
O craque gremista recebeu a bola na intermediária adversária, perto da lateral esquerda, venceu o zagueiro com um drible na corrida -mais pelo modo como aproveitou o contrapé do adversário do que propriamente pela velocidade-, fechou em diagonal em direção à quina da pequena área e, numa fração de segundo, ajeitou o corpo para colocar de direita, com efeito, no ângulo oposto.
Esses dois gols memoráveis, além de revelar a competência dos dois jogadores em questão, dizem muito também sobre o papel que exercem em seus times.
No azeitado e ofensivo São Caetano, em que todos os meio-campistas, atacantes e alas (sobretudo César, esse esplêndido apoiador) aparecem perigosamente no ataque, Adhemar pode ser "apenas" o especialista, o matador, o terror dos goleiros.
No Grêmio, um time muito mais travado e defensivo, com pouca criatividade no meio-campo e nas laterais, Ronaldinho está condenado a ser o arco e a flecha, armador e definidor, assistente e artilheiro.
Não é por acaso que, mesmo sem ser um centroavante, foi ele que fez todos os cinco gols gremistas das últimas três partidas (duas contra o Sport e uma contra o São Caetano).
Ainda que cometa uma ou outra infantilidade -como a falta que tentou cobrar "de letra", anteontem, dando um presente ao adversário-, Ronaldinho é hoje um jogador maduro, que alia como poucos a lucidez e a fantasia.
Repito o que já escrevi aqui: se ele continuar fora da seleção, será um crime contra o futebol brasileiro.
Talvez não tenha havido má-fé do juiz Oscar Roberto Godói quando deu seis minutos de acréscimo no segundo tempo de Palmeiras 1 x 0 Vasco, na última terça-feira, depois de ter dito que daria apenas três.
Mas o fato é que o Vasco ganhou de presente três minutos a mais para tentar o empate.
Nesse período, teve pelo menos uma falta perigosa e dois escanteios a seu favor, contra um time extenuado pelo esforço de manter a vitória.
E se tivesse saído o gol vascaíno nesse extra-extratempo?
Volto a dizer: não estou acusando Godói de nada.
Só acho que se deve pensar num modo de eliminar ou diminuir esse poder despótico do juiz sobre o tempo do jogo, em respeito aos jogadores e aos torcedores.
Por falar em respeito ao atleta, Eurico Miranda agora posa de defensor trabalhista da categoria para mascarar sua prepotência.
O adiamento de Vasco x Cruzeiro propiciou um descanso maior a seus jogadores.
Mas encurtou as férias do elenco de cinco times (Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, São Caetano e o próprio Vasco).
Alguém pensou nisso?
E-mail : jgcouto@uol.com.br


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