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FUTEBOL
Cartolas sobem preço mínimo de R$ 10 para R$ 15 e estipulam punição às equipes que venderem com desconto
Clubes seguem TV e coíbem promoção de ingressos em 04
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
Um dia depois do encerramento do primeiro Campeonato Brasileiro de pontos corridos, os dirigentes de clubes decidiram ontem
aumentar em 50% o preço mínimo do ingresso para o Nacional-04. Assim, o bilhete mais barato
da competição irá custar R$ 15.
Até domingo, ele saía por R$ 10.
A estimativa do Banco Central é
a de que a inflação acumulada em
2003, medida pelo IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo), será de 9,69%.
Na votação de ontem, realizada
na sede da CBF, os times seguiram a tese de elitizar o futebol, defendida por Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, braço esportivo da TV homônima,
que detém os direitos de transmissão da competição.
"O pobre não tem dinheiro para
ônibus, roupa, comida. Ele vive
na miséria. Temos que trabalhar
quem pode ir ao estádio", disse
Mário Celso Petraglia, que representou o Atlético-PR.
O São Paulo, que também votou
pelo aumento, justificou a posição
dizendo que os clubes perdem dinheiro vendendo ingressos para
"falsos estudantes". "O ingresso
do Paulista, por exemplo, custará
R$ 20. Há muita gente comprando ingressos com carteirinhas falsas", disse o diretor de futebol do
clube, Juvenal Juvêncio.
Para combater as promoções,
uma das marcas do Brasileiro
deste ano, os dirigentes estipularam uma espécie de multa. O clube que optar por vender ingressos
mais baratos do que o mínimo estipulado terá que pagar a diferença do borderô para um fundo de
premiação do torneio.
As promoções foram um dos
trunfos do Grêmio para se livrar
do rebaixamento. Em vários jogos
em casa, o time vendeu dois ingressos ao preço de apenas um
-R$ 10. Na última rodada do torneio, clubes que lutavam por vaga
na Libertadores ou contra o rebaixamento fizeram promoções.
Ontem, o ministro do Esporte,
Agnelo Queiroz, criticou o aumento. "Não pode ser cobrado do
torcedor um preço abusivo. Vamos acompanhar e estudar se isto
[aumento] pode ser feito", disse.
"Temos que permitir o acesso
de todas as camadas. O futebol é a
modalidade esportiva que permite mais ascensão social. Muito do
sucesso dele se deve aos pobres,
que não podem ficar de fora."
Já o presidente interino da CBF,
Nabi Abi Chedid, que tinha poderes para vetar o aumento proposto, disse estar " sempre de acordo
com a posição dos clubes".
Alguns dirigentes que votaram
pelo ingresso a R$ 10 não esconderam a satisfação pelo aumento.
"Aumentou! Já tenho uma desculpa para cobrar mais caro", disse o presidente do Vitória, Paulo
Carneiro, sem constrangimento.
O presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella, também votou contra o reajuste, mas disse ser favorável à elitização do futebol. "O
Mineirão sofrerá uma grande reforma em 2004 e não poderíamos
cobrar muito. Mas, quando construirmos o nosso estádio, não haverá ingressos populares."
O presidente do Vasco, Eurico
Miranda, foi um dos poucos que
defenderam o congelamento.
"Todos sabem que o Brasil é uma
"Belíndia" [mistura de Bélgica com
Índia]. Eles querem fazer campeonato para a Bélgica. Como sei
que o meu clube é da Índia, decidi
deixar a reunião para não discutir
este assunto", disse.
A reunião de ontem manteve o
modelo de disputa por pontos
corridos. É a primeira vez na história do Brasileiro, disputado desde 1971, que a fórmula não é alterada de uma edição para a outra.
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