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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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BASQUETE

Da boca pra fora

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

"Não sou um preto bunda-mole. Não sou essa molecada que é capturada e amordaçada pela NBA. Eu leio as entrelinhas. Procuro ver o que está atrás das cortinas. Sei do que este negócio se trata. Que, por exemplo, um dirigente da liga ganha mais do que 75% dos jogadores.
"Tem muita coisa, muitos números, que os atletas dessa liga deviam conhecer. [São 80% de jogadores negros, mas só um time é propriedade de um negro.]
"Na minha opinião, eles só admitem conviver de perto com pretos imbecis -ou mais do que imbecis. É por causa disso que cada vez mais selecionam atletas direto do ensino médio. Esse garoto sai da escola e chega à liga sem a menor noção da realidade. Sem compreender o que está em jogo, sem atinar para a natureza do comércio, sem perceber a farsa.
"Por isso acabam tachando todo jogador negro de preto bunda-mole. Acham que todos nós devíamos calar a boca, embolsar a grana e fazer o que eles mandam.
"Não tenho medo de ser punido pela minha equipe, de ser negociado por conta do que penso. Contanto que me paguem, visto qualquer camisa. Quero ganhar todo jogo. Quero deixar o basquete com pelo menos um título, caso contrário vou considerar minha carreira um fracasso. Mas isto é um negócio. Se tiver de sair daqui, tudo bem, não vou fazer jogo de cena e me lamuriar. Basta que arranje dinheiro em outro lugar para sustentar minha família.
"Também não me assusto com os árbitros, nem com a NBA. Toda vez que tentarem me enrolar, garanto que abrirei a boca.
"Podem cavar minha vida pessoal. Podem ignorar tudo de bom que eu faço. Podem continuar falando só coisas negativas a meu respeito. Sei que eu virei o inimigo número 1 do público, que metade dos torcedores me odeia. Mas a outra metade me adora não importa o que eu fizer. Além do mais, nada disso me preocupa. Se você não é da minha família, então não me interessa o que diz.
"Sou feliz assim, com essa personalidade e com esse estilo de vida. Não vou mudar por nada no mundo. Jamais vou me sentar e morder a língua, como os outros."
Muitos podem duvidar da conspiração anunciada por Rasheed Wallace, 29. A fama de "maconheiro/arruaceiro/abilolado" há tempos persegue o talentoso ala-pivô do Portland Trail Blazers.
Muitos podem questionar a legitimidade das denúncias. Elas vêm do quarto maior salário da liga norte-americana. Um porta-voz da mão-de-obra explorada que ganha US$ 17 milhões por uma temporada, o dobro que o poderoso cartola-mor (David Stern) que ele tanto critica?
Muitos podem desconfiar até dos propósitos da entrevista ao diário "The Oregonian". Não se trata do mesmíssimo jogador que sempre rejeitou a imprensa, que costumava responder a todas as pergunta dos repórteres com uma única e irônica frase ("as duas equipes se esforçaram hoje")?
Alguns, todavia, hão de vibrar com o surpreendente e incômodo desabafo -pimenta no nariz empertigado da NBA, refresco para os sedentos espectadores de um por ora insípido campeonato.

Garganta 1
O Indiana, sob nova direção, parece ter enquadrado Ron Artest. Na temporada passada, atos de indisciplina custaram ao versátil ala 12 partidas de suspensão. Nesta, continua zerado. Um dos melhores marcadores da NBA, ele registra em 03/04 as maiores médias de pontos (17,7), rebotes (5,7), assistências (3,6) e tocos (1) da carreira.

Garganta 2
Não existe mesmo na NBA um "one man show" como o bocudo Allen Iverson. O armador do Philadelphia lidera o torneio em pontos (28,9), desarmes (2,9), minutos (43,7) e turnovers por jogo (4,3).

Garganta 3
O Denver evoluiu, mas Nenê reclama. "Não me passam mais a bola!"

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