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BASQUETE
Da boca pra fora
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
"Não sou um preto bunda-mole. Não sou essa molecada que é capturada e amordaçada pela NBA. Eu leio as entrelinhas. Procuro ver o que está atrás
das cortinas. Sei do que este negócio se trata. Que, por exemplo, um
dirigente da liga ganha mais do
que 75% dos jogadores.
"Tem muita coisa, muitos números, que os atletas dessa liga
deviam conhecer. [São 80% de jogadores negros, mas só um time é
propriedade de um negro.]
"Na minha opinião, eles só admitem conviver de perto com pretos imbecis -ou mais do que imbecis. É por causa disso que cada
vez mais selecionam atletas direto do ensino médio. Esse garoto
sai da escola e chega à liga sem a
menor noção da realidade. Sem
compreender o que está em jogo,
sem atinar para a natureza do comércio, sem perceber a farsa.
"Por isso acabam tachando todo jogador negro de preto bunda-mole. Acham que todos nós devíamos calar a boca, embolsar a
grana e fazer o que eles mandam.
"Não tenho medo de ser punido
pela minha equipe, de ser negociado por conta do que penso.
Contanto que me paguem, visto
qualquer camisa. Quero ganhar
todo jogo. Quero deixar o basquete com pelo menos um título, caso
contrário vou considerar minha
carreira um fracasso. Mas isto é
um negócio. Se tiver de sair daqui,
tudo bem, não vou fazer jogo de
cena e me lamuriar. Basta que arranje dinheiro em outro lugar para sustentar minha família.
"Também não me assusto com
os árbitros, nem com a NBA. Toda vez que tentarem me enrolar,
garanto que abrirei a boca.
"Podem cavar minha vida pessoal. Podem ignorar tudo de bom
que eu faço. Podem continuar falando só coisas negativas a meu
respeito. Sei que eu virei o inimigo
número 1 do público, que metade
dos torcedores me odeia. Mas a
outra metade me adora não importa o que eu fizer. Além do
mais, nada disso me preocupa. Se
você não é da minha família, então não me interessa o que diz.
"Sou feliz assim, com essa personalidade e com esse estilo de vida.
Não vou mudar por nada no
mundo. Jamais vou me sentar e
morder a língua, como os outros."
Muitos podem duvidar da conspiração anunciada por Rasheed
Wallace, 29. A fama de "maconheiro/arruaceiro/abilolado" há
tempos persegue o talentoso ala-pivô do Portland Trail Blazers.
Muitos podem questionar a legitimidade das denúncias. Elas
vêm do quarto maior salário da
liga norte-americana. Um porta-voz da mão-de-obra explorada
que ganha US$ 17 milhões por
uma temporada, o dobro que o
poderoso cartola-mor (David
Stern) que ele tanto critica?
Muitos podem desconfiar até
dos propósitos da entrevista ao
diário "The Oregonian". Não se
trata do mesmíssimo jogador que
sempre rejeitou a imprensa, que
costumava responder a todas as
pergunta dos repórteres com uma
única e irônica frase ("as duas
equipes se esforçaram hoje")?
Alguns, todavia, hão de vibrar
com o surpreendente e incômodo
desabafo -pimenta no nariz empertigado da NBA, refresco para
os sedentos espectadores de um
por ora insípido campeonato.
Garganta 1
O Indiana, sob nova direção, parece ter enquadrado Ron Artest. Na
temporada passada, atos de indisciplina custaram ao versátil ala 12
partidas de suspensão. Nesta, continua zerado. Um dos melhores
marcadores da NBA, ele registra em 03/04 as maiores médias de pontos (17,7), rebotes (5,7), assistências (3,6) e tocos (1) da carreira.
Garganta 2
Não existe mesmo na NBA um "one man show" como o bocudo
Allen Iverson. O armador do Philadelphia lidera o torneio em pontos
(28,9), desarmes (2,9), minutos (43,7) e turnovers por jogo (4,3).
Garganta 3
O Denver evoluiu, mas Nenê reclama. "Não me passam mais a bola!"
E-mail melk@uol.com.br
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