São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2004

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MOTOR

Tudo de novo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Intervalo comercial, propaganda da próxima temporada de F-1, aquela que só começa em 7 de março, antecipação forçada pelos cotistas. Imagens de ultrapassagens e batidas espetaculares. No final, destaque para Barrichello, Da Matta e Massa.
Pouca diferença em relação ao ano passado, os mesmos recursos gráficos, a velha musiquinha. Coisa parecida acontece com aquele programa de um minuto, no meio da madrugada, outro recurso para conceder minutagem aos patrocinadores. Logo depois de Barrichello assinar com a Ferrari, entrevista relâmpago com o piloto, os mesmos trejeitos e respostas, a coisa de sempre.
Faz tempo que a F-1 no Brasil é essa coisa de sempre. Entra ano, sai ano, somos obrigados a engolir o mesmo prato. Muitos dirão que falta um campeão ou um verdadeiro candidato ao título, talvez seja verdade. Só que, apesar de não haver tal sujeito, é possível imaginar outro cardápio. Não?
Não, dirão os responsáveis, é preciso manter essa ilusão para arregimentar os fãs. A F-1 já foi um produto de massa e continua sendo vendida como tal aos publicitários. E, se a massa não se interessa pelas peripécias do alemão, que é o que realmente importa no atual momento da categoria, não serão eles obviamente que colocarão isso em discussão.
O problema, no entanto, transcende as limitadas fronteiras da cultura esportiva nacional, calcada desde sempre nos abnegados que defendem as cores do país em territórios além-mar. Fosse apenas isso, um pouco de neurônio e um tratamento, digamos, menos futebolístico e artificial do esporte resolveriam boa parte da questão.
O mal da F-1 é global. Exceção feita talvez apenas à Alemanha, onde o herói resolve tudo, e à Inglaterra, que se percebe como o centro do universo, o resto do planeta convive com uma categoria que se acha muito e oferece, no final das contas, pouco ao público.
O charme da época romântica foi substituído por uma vitrine que beira o brega, repleta de personagens vazios. Pior, tudo isso, no lugar de atrair, como acontece em qualquer entretenimento popular, afasta. Com seus passes eletrônicos e seguranças de rádio no ouvido, a F-1 despreza um público que, cada vez mais, não vê sentido em tanta frescura. Os pilotos não parecem mais verdadeiros adversários, as equipes, com seus escritórios para negócios e adulação, não parecem mais garagens.
Essa percepção da F-1, evidente, compromete a audiência e a popularidade da categoria. Somada a realidade de araque que a TV insiste em reproduzir por aqui, transforma a coisa toda em um exercício patético, absurdo.
A F-1 carece de mudanças. A F-1 no Brasil, de uma revolução.
 
Essa história de Senna na Ferrari soa um tanto estranha quando pensamos em suas consequências. Se o tricampeão não tivesse morrido em Imola, provavelmente teria sido tetracampeão em 1994.
E, tetracampeão, perderia a chance de superar Prost e igualar Fangio no ano seguinte? Schumacher fez isso, mas apenas porque Senna não estava mais na pista.

Inimigo íntimo
A BMW emprestou para Montoya durante as férias três utilitários de luxo X5 para que o colombiano se divertisse com seus amigos na Espanha, onde mora. O futuro piloto da McLaren, no entanto, chegou à apresentação do novo carro da Williams, em Valencia, a bordo de um modelo último tipo da concorrente Mercedes. Montoya, claro, é um dos favoritos em 2004. Mas sua temporada será das mais difíceis.

Piano, piano
Em Madonna di Campiglio, onde a Ferrari promove seu rega-bofe anual para a imprensa, Schumacher andou longe das noitadas e dos copos de cerveja, diferentemente de anos anteriores, quando demonstrou enorme talento também como barman. Estaria preocupado com a própria imagem, depois do quebra-quebra de Suzuka.

E-mail mariante@uol.com.br


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