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FUTEBOL
Das nuvens ao subsolo
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Fazia tempo que eu não sofria tanto vendo um jogo pela
TV. Pudera: uma das melhores
safras de talentos do futebol brasileira corre o risco de ficar de fora
da Olimpíada. O futebol, com sua
imponderabilidade, é um esporte
ao mesmo tempo fascinante e
terrível.
Não sofro daquele patriotismo
incondicional que leva alguns
brasileiros a torcer pela camisa
amarela em qualquer circunstância, mesmo que o nosso time não
jogue nada e o rival seja superior.
Quando o Brasil foi eliminado
na Copa de 90, só o que me incomodou foi o fato de o nosso algoz
ter sido a Argentina.
Mas o caso da seleção pré-olímpica é bem outro. Salta aos olhos
a superioridade técnica dos jovens brasileiros sobre os das outras seleções do grupo, Chile incluído.
Nas quatro partidas da primeira fase do Pré-Olímpico, nossa seleção teve lampejos de um grande
futebol: um jogo leve, fluido, com
toques sutis e vertiginosas triangulações.
O que nos faltou para vencer
um Uruguai, um Chile, equipes
muito mais limitadas?
Sem entrar em discussões táticas, para as quais não me sinto
muito equipado, eu diria que o
que nos falta é constância, equilíbrio, organização. Talvez seja por
isso que os jogos dessa seleção pré-olímpica me afligem tanto.
É como se estivesse ali um retrato do nosso país, com suas imensas potencialidades sempre abortadas, suas energias dispersas,
suas promessas não cumpridas.
Uma seleção como a do Chile
parece ter consciência de seus limites, organizando-se de modo a
fazer suas parcas forças renderem
ao máximo.
Examinemos o gol de empate
do Chile contra o Brasil.
O atleta que o marcou, conhecido pelo curioso nome Beausejour,
subiu sozinho na área brasileira e
cabeceou muito mal. Mas seguiu
no lance. A bola (que iria para fora) foi recolocada em jogo por
Maicon. E lá estava o bom, o firme, o modesto e confiável Beausejour para colocá-la nas redes, sem
nenhuma beleza, sem nenhum
brilho, mas com o mesmo valor
numérico que um gol de placa.
Talvez seja essa humildade bovina de um Beausejour o que nos
falta. Vou tentar explicar melhor.
O Brasil (e já não sei se estou falando do time ou do país), inebriado pela vastidão dos horizontes que desenhou para si, parece
oscilar tropegamente entre os delírios de grandeza e o medo do
fracasso, o temor de broxar.
Ou somos os melhores do mundo ou os piores. Não há meio termo. Basta ver como ficamos deprimidos quando somos vice-campeões.
A mesma lógica do "tudo ou nada" parece reger nossa economia,
que balança entre os grandes planos de salvação nacional e os desastres maiores que os sucedem.
Ou flutuamos nas nuvens ou
nos afundamos em subsolos dostoievskianos. Temos dificuldade
em caminhar firmemente sobre o
chão, com um pé depois do outro.
Será que vamos ter de aprender
essa arte singela com os nossos esnobados vizinhos de continente?
Consertos e reparos
Só para não dizer que não fiz
nenhum comentário concreto
sobre o empate com o Chile:
acho que Dudu Cearense deveria ter entrado no intervalo, no
lugar do volante Fábio Rochemback, que errava um passe atrás do outro e já tinha cartão amarelo. O atacante Daniel
Carvalho, por sua vez, deveria
ter entrado logo junto com
Marcel, a quem poderia servir
com seus cruzamentos. Mas
não foi por isso que o Brasil deixou de ganhar.
Desemprego brabo
Edílson saiu do Flamengo, Ricardinho saiu do São Paulo. São
dois campeões mundiais de
2002 que se desvalorizaram
bastante desde então. Estão desempregados. Será que nenhum clube brasileiro tem vaga
para eles?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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